Setor sucroenergético reduz em 95% a captação de água
24-03-2015

Modernização da produção, uso racional e outras técnicas estão entre os fatores que colaboraram para redução do consumo hídrico

Além das grandes cidades, a escassez de água atingiu de forma generalizada todos os setores produtivos, principalmente na região Sudeste. No ano passado, por exemplo, a longa estiagem foi responsável pela perda de produtividade na safra 2014/15.
Os danos causados pela falta de chuva só não foram maiores porque o setor vem paulatinamente diminuindo a captação de água para o processamento industrial. Na semana em que se comemora o Dia Mundial da Água, cabe ressaltar que o setor sucroenergético vem contribuindo decisivamente para a redução da taxa média de captação de água da faixa de 15 a 20 m3/t de cana para a faixa de 1 a 2 m3/t de cana. Ou seja: uma redução próxima de 95 % na captação de água.
“Essa queda no consumo hídrico foi proporcionada por investimentos em reuso de água através de tratamento e recirculação, otimização do balanço hídrico industrial e adoção de novas tecnologias como, por exemplo, a limpeza a seco da cana”, diz André Elia, Consultor ambiental e de recursos hídricos da UNICA – União da Indústria de Cana-de-Açúcar.
Além disso, na última década, houve uma redução na demanda do setor por água industrial de 13% para 7% da água destinada para todos os setores do Estado de São Paulo. Em relação à oferta mínima de água no Estado, o setor demanda apenas 2,5% de água para seu uso industrial, o que derruba o mito de que o setor sucroenergético consome uma grande quantidade de água.
“Ao contrário do que se imagina a produção de cana no Brasil não é irrigada, principalmente na região canavieira do Centro-Sul, não havendo, portanto, conflito de água no setor rural, o que representa um forte indicador de sustentabilidade para a produção canavieira brasileira”, diz Elia.
Aliado ao uso racional da água industrial e a não dependência de irrigação, soma-se a produção de bioeletricidade a partir do bagaço de cana-de-açúcar. A estimativa é de que em 2014, a energia de biomassa tenha gerado uma economia de 14% dos reservatórios hidrelétricos das regiões Sudeste e Centro-Oeste (responsável por 60% do consumo brasileiro).
“A bioeletricidade a partir da biomassa pode, mediante politicas adequadas para a matriz elétrica brasileira, contribuir mais nos períodos de estiagem”, afirma o especialista.
Em 2014, foram produzidos 20.815 mil Gigawatts/hora (GWh), de energia elétrica proveniente da fonte biomassa, 20% acima do realizado em 2013. Essa quantidade seria capaz de abastecer 11 milhões de residências ou equivalente a 52% da energia que será produzida por Belo Monte, a partir de 2019. Além disso, sem o uso da biomassa na matriz elétrica brasileira, o nível de emissões de CO2 na atmosfera seria 24% maior.
Ainda assim, a bioeletricidade pode ir além. “Com o pleno uso energético da biomassa da cana, o potencial técnico dessa fonte poderia chegar a 20 mil MW médios até 2023, o que corresponde à energia produzida por duas usinas Itaipu”, avalia Elizabeth Farina, presidente da UNICA.

Proteções de nascentes
Outro aspecto muito importante é a ação que o setor tem tido na proteção de nascentes e recuperação de matas ciliares. No estado de São Paulo, 94% da produção canavieira são de usinas participantes do Protocolo Agroambiental, convênio voluntário entre o setor, capitaneado pela UNICA, a Secretaria de Meio Ambiente e a Secretaria da Agricultura, que antecipou a eliminação do emprego do fogo para colheita de cana. São 11 diretivas ambientais que são monitoradas para se obter o certificado “Etanol Verde”, e a maioria delas tem reflexos diretos nos recursos hídricos, quer seja pela diminuição da demanda de água com a racionalização dos processos agrícola e industrial, quer seja pelo aumento de oferta na proteção de nascentes, recuperação de matas ciliares e proteção e conservação do solo com o término da queima da palha da cana e parte do seu uso como cobertura protetora do solo.
Os resultados são animadores, desde o inicio do programa em julho de 2007 até 2013, as usinas e fornecedores de cana tem cerca de 300 mil hectares de áreas ciliares recuperados, contanto com a proteção de 9.300 nascentes. Por outro lado o programa tem registrado a diminuição gradativa do consumo de água industrial chegando a valores em 2013 de 1,18 m3/t cana na média.
As usinas também vêm aumentando a sua reserva de água segura por meio do armazenamento superficial de água através de represamentos (inclusive de água de chuva), como de novas captações de água subterrânea como reserva estratégica. Ao mesmo tempo vem intensificando os programas de racionalização do uso de água e evitar desperdícios como a revisão criteriosa do balanço hídrico industrial.

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