Só temos a comemorar
02-01-2017

Por Arnaldo Luiz Correa

No último comentário do ano passado dissemos que 2016 seria um bom ano para as usinas, devido principalmente ao extraordinário valor em reais que estavam conseguindo fixar seus açúcares para a exportação do ano safra seguinte (no caso este que está em curso). E não há como negar que 2016 foi realmente um ano muito positivo para o setor.

O preço médio de fixação das usinas para a safra 2016/2017, por exemplo, foi de R$ 1,218 por tonelada, 28% acima do preço médio alcançado na safra 2015/2016. A média de preços do açúcar no mercado interno também experimentou um acréscimo de 53%, saindo de R$ 46,66 por saca no ano passado, livre de impostos, contra R$ 71,32 por saca este ano (dados até 9 de dezembro). Etanol anidro e hidratado tiveram preços médios de R$ 1,6702 e 1,8547 por litro, respectivamente, contra R$ 1,3540 e 1,4361 por litro no ano anterior, portanto, um acréscimo médio de 25%. Podemos destacar também o aumento no consumo de anidro em pouco mais de meio bilhão de litros apesar de o consumo total de combustível tenha sido reduzido em 1,4 bilhão de litros. E também da melhora da saúde financeiras das usinas, inclusive com redução do endividamento líquido entre R$ 3 e 5 bilhões.

O que nos aguarda o ano de 2017? Acreditamos que os preços em reais por tonelada não serão tão remuneradores quanto foram os preços negociados em 2016. Será muito difícil repetir a máxima de quase 1,762 reais por tonelada que vimos em 5/outubro (combinação de NY a 23.81 centavos de dólar por libra-peso e o dólar a R$ 3.2212). No entanto, parece haver consenso de que o açúcar no mercado internacional ainda vai negociar a preços melhores do que agora em centavos de dólar por libra-peso (lembrando que a média da 2017/2018 em NY foi de 17.59 centavos de dólar por libra-peso).

É bom lembrar que desde o pico de preços experimentado pelo mercado no início de outubro, o vencimento março de 2017 despencou 600 pontos, o maio/2017 caiu 500 pontos, o julho/2017 caiu 425 pontos, o outubro/2017 caiu 360 pontos e o vencimento março de 2018, caiu apenas 300 pontos.

Querer que o mercado repita os quase 24 centavos de dólar por libra-peso? Difícil hein? Vamos precisar de uma tempestade perfeita para que isso ocorra. Nossa projeção, recebida em detalhes pelos clientes da Archer Consulting, é de preços médios ao redor de R$ 1,400 por tonelada FOB Santos equivalente para o açúcar. E está muito bom.

Do lado dos altistas estão alguns bons argumentos: o primeiro, que o mercado ainda não absorveu a possiblidade de a safra 2017/2018 ser bem inferior aos 580 milhões de toneladas de cana. Tem gente com fortes razões para acreditar que a quebra pode ser grande. Segundo, porque alguns analistas acreditam que, com o governo Trump, de forte característica belicista, o petróleo pode alcançar patamares superiores aos 70 dólares por barril durante o curso do ano. Terceiro argumento vem da Europa: o número mágico que alguns usam de 500 euros por tonelada para o açúcar branco como um piso, coloca o açúcar bruto no nível mínimo de 19.50 centavos de dólar por libra-peso. Quarto argumento, o fato de a produção na Índia ser inferior ao que se esperava, abrindo a possibilidade daquele pais importar açúcar no próximo ano. Quinto argumento: não me canso de repetir que a administração competente de Pedro Parente tem sido primordial para o setor sucroalcooleiro pois trouxe transparência na formação de preço da gasolina e, portanto, a arbitragem entre o etanol e o açúcar será muito mais suscetível a um eventual aumento no preço do petróleo no mercado internacional. Em outras palavras, o mix pode mudar sim!!
Do lado dos baixistas, também existem bons argumentos. Primeiro, que a percepção do mercado físico é de pasmaceira geral, sem nenhum problema de oferta do produto. Segundo, a fraqueza do real refletindo a crise política e econômica que o pais atravessa. Terceiro, ao aumento do mix de açúcar para a próxima safra, embora a diferença de preços entre o açúcar e o etanol tenha se estreitado. Quarto, os fundos liquidaram bastante, mas ainda estão comprados em bom volume. Será que vão se desfazer dele no início do ano?
A gestão eficiente de risco continua sendo a melhor receita para garantir bons resultados em 2017. Não acredite em gurus. Tenha disciplina e foco. Não existe almoço grátis nas estratégias mirabolantes que alguns vendedores mais ambiciosos tentam lhe passar. Monte seu plano estratégico para a gestão de preços e seja disciplinado.

Infelizmente não consegui sorver o Blue Label que espera impacientemente na prateleira do meu bar aguardando a comemoração por conta da prisão de Lula. Se em 2016 o Brasil se livrou da quadrilha capitaneada pelo falecido partido dos trambiqueiros, as delações de executivos de empresas envolvidas até o pescoço em todo o tipo de crimes, mostram que o Brasil ainda tem que percorrer um longo caminho antes de se livrar definitivamente dessa corja de empresários e políticos bandidos, vagabundos, corruptos, estelionatários e ladrões.