Socorro faz distribuidora ´adoçar´ balanço
18-08-2014

O plano do governo de socorrer as distribuidoras de energia elétrica com empréstimos fez com que as empresas do setor tivessem que recorrer a manobras contábeis para evitar uma depreciação.

Um interpretação diferente do financiamento que foram obrigadas a contratar garantiu que as empresas não os apontassem como dívidas.

Os R$ 11,2 bilhões que já foram disponibilizados para cobrir a compra de energia entre fevereiro e abril estão contabilizados nos balanços como repasses da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), órgão privado usado pelo governo para disponibilizar o dinheiro.

A manobra, que partiu de um entendimento entre o governo e a Abraconee (Associação Brasileira dos Contadores do Setor de Energia Elétrica), evitou uma depreciação das companhias.

"As normas internacionais dizem que deveriam ser contabilizados como passivo, mas fizemos uma interpretação diferente para evitar uma desestabilização financeira", diz Adriano Fedalto, diretor técnico da Abraconee.

As empresas tiveram que recorrer aos financiamentos por causa da chamada "exposição involuntária", situação causada pelo fim de contratos que as distribuidoras detinham com geradores de energia até 2013.

Sem eletricidade suficiente para entregar aos consumidores, elas foram obrigadas a recorrer ao mercado de curto prazo, segmento no qual se compra e se vende energia sem contratos, por custo que pode ser muito mais alto.

Com poucas chuvas no início do ano, o valor da energia nesse segmento, alcançou o teto permitido em lei, de R$ 822,83 por megawatt-hora entre fevereiro e maio.

Outro fator que favoreceu a "suavização" dos balanços é que as distribuidoras não pagarão diretamente o empréstimo aos bancos.

Os valores serão cobrados por meio da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um encargo presente na conta de luz e que vai afetar as tarifas de energia nos próximos três anos.

Segundo projeções de consultorias, o impacto sobre as tarifas pode chegar a 25% em 2015. Documento da Aneel, por outro lado, aponta para uma alta média das tarifas de 14% nos próximos dois anos.


Resultados

O atraso também afetou, nos balanços, os resultados operacionais, que foram reduzidos, em média, 51% nas seis principais distribuidoras.

Dos R$ 4,4 bilhões que as companhias deveriam receber no segundo trimestre, somente R$ 2,3 bilhões, referentes a abril, foram efetivamente repassados.

O restante, referente a maio e junho, será liberado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) na próxima semana.

A demora para fechar o novo empréstimo aconteceu porque o governo encontrou dificuldades para atrair bancos privados para a operação.

Os juros subiram de 1,9% para 2,35% ao ano, além da variação do CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro). Apesar dos esforços, os bancos públicos entraram com 53% dos recursos, ante 26% na primeira operação.


Machado da Costa