SP e RS lideram queda generalizada do emprego industrial no ano
14-07-2014

Num cenário de menor confiança de empresários, o emprego na indústria cai de modo disseminado neste ano. Atinge 14 dos 18 setores pesquisados e 10 das 12 regiões pesquisadas, segundo o IBGE.

O Estado de São Paulo, maior parque industrial do país, lidera a queda, ao lado do Rio Grande do Sul.

Dados divulgados nesta sexta-feira (11) mostram que o emprego na indústria recuou 0,7% em maio frente ao mês anterior. Na comparação com maio de 2013, a queda é ainda mais forte, de 2,6%.

A retração acumulada nos cinco primeiros meses de 2014 é de 2,2%, e em 12 meses, de 1,7%.

São Paulo teve recuo de 3,3% nas vagas de janeiro a maio. O Estado corresponde a cerca de 35% do emprego industrial no país.

Também como destaques negativos (veja tabela abaixo) no emprego industrial no período, Rio Grande do Sul (-4%) e Paraná (-3,2%) sentem o impacto da forte estiagem até abril, com repercussão na indústria de alimentos, máquinas agrícolas.

Assim como São Paulo, os Estados do Sul também são polos da indústria automotiva, que vive um período de crise. O Rio Grande do Sul também fecha vagas na indústria calçadista, importante no Estado.

"A seca tem seu peso, mas há um cenário de desaceleração como um todo da indústria, que atinge esses Estados mais industrializados", diz André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE.

Setores

Mesmo setores apoiados pelo governo com a desoneração da folha de pagamento ou apoiado pelo IPI reduzido ou linhas especiais de crédito do BNDES vão mal.

Dentre eles, estão calçados e couro (queda de 7,7% no acumulado do ano), têxtil (-4,9%) e vestuário (-1,8%), que sofrem forte concorrência de importados.

Nessa lista ainda aparece madeira, com recuo de 1,4%. Todos são intensivos em mão de obra.

"Eles têm um peso maior no emprego do que na produção da indústria", diz Fernando Abritta, do IBGE.

O ramos de máquinas e equipamentos, que dá o tom dos investimentos na economia, responde ao pessimismo dos empresários e não deslancha nem com o crédito facilitado do BNDES. O setor é um dos principais destaques negativos da produção industrial neste ano.

O emprego nessa atividade, que também sofre com a concorrência de importados, caiu 4,9% de janeiro a maio, acima da média de 2,2% no país.

Outro ramo que fechou vagas é do de eletroeletrônicos e equipamentos de comunicação. A Copa ajudou nas vendas de TVs, cuja produção cresceu. Mas o setor também é afetado por menores exportações e entrada cada vez mais agressiva de produtos do exterior -sobretudo da China, segundo especialistas.

Apesar da prorrogação do IPI reduzido e do financiamento subsidiado do BNDES à compra de caminhões, o ramo de meios de transporte (a indústria automobilística é o setor de maior peso nessa categoria) registra perda de 4,6%.

Para Márcio Salvato, coordenador do curso de economia do Ibmec, as políticas de estímulo do governo "não tem surtido efeito" nem no emprego nem na produção fabril.

"O governo toma apenas medidas paliativas, que podem ter algum efeito só no curtíssimo prazo. E é sempre o mesmo instrumento, que não resolve mais. A indústria precisa de uma reforma estruturante para reduzir custo de mão de obra e tributação."

O setor, diz, perde competitividade nível global. Desse modo, não consegue importar e conta só com o já enfraquecido consumo interno, segundo ele.

Dentre os setores de peso, apenas o de alimentos e bebidas aumentou as contratações (1,1%), beneficiado pela maior produção de açúcar e pela Copa do Mundo.

FUTURO

O pior é que o número de horas pagas, indicador que antecede o aumento do emprego, segue negativo. Antes de contratar, empresários ampliam as horas de seus empregados para ocupar a capacidade ociosa de suas linhas de produção. Não é o que ocorre neste ano.

De janeiro a maio, as empresas cortaram em 2,7% as horas pagas a seus trabalhadores. Os destaques negativos ficaram com eletroeletrônicos, calçados e couros e produtos de metal.

Pedro Soares