Sucre mapeia rotas atuais de recolhimento de palha
20-12-2016

Nos esforços para definir a melhor rota de recolhimento de palha de cana-de-açúcar para cada uma das usinas parceiras, o Projeto Sucre (Sugarcane Renewable Electricity) realizou um levantamento do estado atual dos sistemas e dos estudos recentes comparativos deste processo.

Esse trabalho foi realizado pelo consultor do Projeto e Engenheiro Agrícola, Marcelo Pierossi, autor referência em estudos sobre sistemas de recolhimento de palha. O Projeto SUCRE é uma iniciativa do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) que está buscando desenvolver soluções para os gargalos do setor sucroenergético no uso pleno da palha de cana para geração de energia elétrica com baixa emissão de gases de efeito estufa.

Segundo a análise realizada, ainda não existe um modelo para determinar a melhor opção ou estratégia de recolhimento de palha. A definição da melhor rota para o aproveitamento da palha depende de variáveis que devem ser levantadas e consideradas caso a caso. Apesar das recentes pesquisas comparativas sobre os sistemas de recolhimento utilizados atualmente, há divergências entre os resultados devido à falta de dados disponíveis das operações agrícolas e do processamento industrial. Surge, com isso, a necessidade de pesquisas que integrem a academia e a indústria na elaboração de metodologias para determinação da melhor estratégia de recolhimento para cada situação.

Esses estudos estão sendo realizados dentro no âmbito do Projeto SUCRE em quatro usinas parceiras, a Usina Quatá (Quatá-SP), Usina da Pedra (Serrana-SP), Usina Alta Mogiana (São Joaquim da Barra-SP) e Usina da Barra (Barra Bonita-SP). A equipe do SUCRE está realizando diversos tipos de testes, como avaliação de impurezas minerais, granulometria e eficiência energética. Com os resultados dessas análises, será feita uma comparação entre os sistemas existentes, considerando as características de cada usina, como, quantidade ideal de recolhimento de palha, distribuição geográfica das áreas aptas ao recolhimento, umidade da palha para ser queimada na caldeira, recepção e processamento na indústria e a possível aplicação da "Lei da Balança".


Rotas de recolhimento de palha

São três as rotas de recolhimento de palha utilizadas no Brasil atualmente: o enfardamento, a forrageira e o recolhimento através da colheita com limpeza parcial. Diversos estudos de campo devem ser realizados em cada uma das operações realizadas nas rotas de recolhimento de palha. O Projeto SUCRE busca solucionar de forma ampla os gargalos identificados nessas rotas de recolhimento. O levantamento realizado demonstra que, apesar do crescimento no uso do sistema de recolhimento por fardos, ainda devem ser realizados esforços de pesquisa e desenvolvimento no recolhimento de palha realizado na colheita da cana com limpeza parcial, pois cada tipo de recolhimento é ideal para situações específicas.

No estudo realizado para o Sucre, foi descrito o investimento necessário para o recolhimento de palha da maneira que é feito hoje em dia. Levando em consideração os preços de mercado, os custos agrícolas do recolhimento de 100 mil toneladas anuais de palha, escala ideal para uma unidade de processamento de fardos, é de aproximadamente R$ 9 milhões, conforme descrito na tabela abaixo.

No processo do enfardamento, cada operação está sendo analisada de forma a beneficiar o recolhimento de palha. Para o aleiramento estão sendo avaliados: a relação da leira com a quantidade de impurezas minerais no fardo; os impactos na soqueira e produtividade e se os diferentes aleiradores são adequados aos canaviais (considerando a quantidade de impurezas minerais, desempenho operacional, dano à soqueira e o impacto no desempenho da enfardadora).

A operação de produzir os fardos a partir do recolhimento do material vegetal depositado no solo representa o gargalo da logística do enfardamento, por ser a operação que apresenta o maior custo, menor rendimento e dificuldades quanto o nível de umidade da palha no campo. Com relação ao recolhimento dos fardos, estão sendo avaliados a possibilidade de aumento da produtividade das carretas e o melhor tamanho da pilha. Como demonstra o levantamento realizado pelo Sucre, a qualidade dos fardos é essencial para o bom aproveitamento da palha na indústria. Considerando os aspectos que levam um fardo a ter qualidade o teor de umidade é um deles e o Sucre está validando metodologias para determinar em campo a umidade, aprimorando a medição atual feita na usina. A equipe do Projeto ainda está propondo formas de reduzir a quantidade de impurezas minerais no fardo, que acarreta prejuízos no processamento e uso do material.

A unidade de processamento de fardos que contempla todas as operações necessárias em grande escala, considerada o estado da arte do enfardamento, é o Projeto do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) instalado na Usina Ferrari (Porto Ferreira-SP). Cada operação do processamento de fardos dessa unidade está sendo avaliada pela equipe do Projeto Sucre para que os resultados dessas análises possam auxiliar a ampliação do leque de dados dos sistemas de recolhimento de palha e, com isso, ampliar o uso da palha para geração de eletricidade.

Também estão sendo realizados estudos com relação ao desempenho e custo do sistema de recolhimento de palha por forrageiras, ou seja, através da máquina que recolhe e pica a palha, em teoria, deixando-a em tamanho adequado à queima na caldeira. No caso do recolhimento através da colheita com limpeza parcial, devem ser levados em consideração, segundo o levantamento, a densidade da carga, a umidade os teores de impurezas minerais e vegetais e o desempenho da estação de limpeza a seco. O estudo explica que o custo do recolhimento de palha deve ser calculado em função da quantidade de palha separada na unidade industrial e não em função da quantidade de palha transportada.

Por fim, o estudo foi capaz de levantar os principais gargalos que devem ser solucionados através de pesquisa e desenvolvimento e serviu para identificar o que o setor produtivo precisa de auxílio para poder utilizar a palha com maior eficiência e lucratividade.