UFV lança novas variedades de cana e reforça papel da ciência no avanço do setor sucroenergético
27-10-2025

Novas cultivares RB977526 e RB077210 se destacam por alta produtividade, longevidade e resistência

A Universidade Federal de Viçosa (UFV) apresentou duas novas variedades de cana-de-açúcar — RB977526 e RB077210 — desenvolvidas pelo Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar (PMGCA), em parceria com a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa). As novas cultivares se destacam pela alta colheitabilidade, longevidade de socaria e tolerância às principais doenças da cultura, representando um avanço significativo para o setor sucroenergético brasileiro.

As variedades foram oficialmente lançadas durante o evento de Liberação Nacional de Variedades da Ridesa, realizado em Ribeirão Preto - SP, na última quarta-feira (22). O encontro reuniu autoridades, pesquisadores e lideranças do setor, e marcou a liberação de 18 novas variedades RB, desenvolvidas por seis universidades federais integrantes da Rede. A UFV foi representada pelo reitor e vice-presidente da Ridesa, Demetrius David da Silva, pelo professor e coordenador do PMGCA, Márcio Henrique Barbosa, e por outros pesquisadores da instituição.

Novas cultivares com foco em produtividade e adaptação regional

De acordo com o professor Márcio Henrique Barbosa, as novas variedades foram desenvolvidas para otimizar o rendimento no meio da safra, período em que atingem o ponto ideal de maturação. “A RB977526 e a RB077210 potencializam sua produtividade quando colhidas em meados do ciclo produtivo, oferecendo melhor qualidade e maior teor de açúcar”, explicou.

A RB977526 apresenta excelente desempenho em regiões mais quentes, enquanto a RB077210 se adapta melhor a áreas de maior altitude e solos férteis, garantindo flexibilidade de cultivo em diferentes zonas produtoras.

Essas características se somam a outros ganhos já observados nas cultivares da Ridesa, como maior resistência ao estresse hídrico e às doenças, além de melhor aproveitamento industrial, fatores que vêm elevando o patamar tecnológico da produção canavieira brasileira.

Liderança consolidada em inovação genética

Durante o evento, o pesquisador Ricardo Augusto de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), apresentou dados do Censo Varietal Nacional 2024/25, que confirmam o impacto da Ridesa na agricultura brasileira: 56% da cana-de-açúcar cultivada no país tem origem nas variedades desenvolvidas pela Rede.

A UFV teve destaque especial com duas cultivares: a RB867515, lançada em 1998 e ainda hoje uma das três mais plantadas no Brasil, e a RB127825, lançada em 2023, que registrou o maior índice de expansão entre todas as novas variedades liberadas recentemente.

“Esses resultados comprovam a relevância científica e econômica da Ridesa, que tem contribuído de forma decisiva para a matriz energética mais limpa do mundo”, destacou o professor Márcio Henrique.

Tradição e impacto das universidades federais

Desde a criação da Ridesa, em 1990, o programa já disponibilizou 116 variedades comerciais às usinas e produtores do país, priorizando produtividade, teor de sacarose, colheitabilidade e resistência a pragas e doenças. O trabalho envolve uma rede de 10 universidades federais e mais de 300 bases de pesquisa, com desenvolvimento médio de 10 a 15 anos para cada nova variedade.

Esses avanços são resultado da cooperação entre universidades, produtores e empresas, por meio de parcerias público-privadas que permitem testar e validar novas cultivares em condições reais de campo.

O reitor Demetrius David da Silva ressaltou que o evento representou “a celebração da força da ciência e da integração entre instituições públicas e o setor produtivo”. Ele destacou ainda a presença de representantes do governo federal e de agências de fomento, reforçando o apoio à inovação no agronegócio.

A maior liberação da história da Ridesa

Para o presidente da Ridesa e reitor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Josealdo Tonholo, esta foi a maior liberação de variedades já realizada pela Rede, o que reflete a competitividade e o dinamismo do setor sucroenergético brasileiro, responsável por cerca de 11% do PIB nacional.

As novas variedades representam mais um passo no fortalecimento da bioeconomia brasileira, reforçando a liderança científica das universidades públicas e o compromisso com um modelo agrícola sustentável, produtivo e inovador.