UISA vai pesquisar soluções biológicas para cana em MT
09-07-2021

Responsável por 2% da produção de cana do país, Mato Grosso ganhou um novo centro de pesquisa e desenvolvimento para a cultura, voltado a soluções biológicas. O Centro Biotecnológico da Cana (CBC) foi inaugurado pela UISA (antiga Usinas Itamarati), associada UDOP, nesta safra (2021/22). Sob o comando da pesquisadora Gabriela Vieira Silva, o local deve oferecer produtos e soluções biológicos adequados às condições dos produtores da região do Cerrado.

Com uma equipe de 52 pesquisadores e técnicos, o CBC terá três frentes de atuação. A primeira é a de desenvolvimento de novas tecnologias de criação de insetos para o combate biológico de pragas nos canaviais. Na segunda frente, o centro desenvolverá mudas pré-brotadas adaptadas às condições de solo e clima do Cerrado. E, por fim, há a frente de pesquisa e desenvolvimento das aplicações das soluções biológicas em campo.

Na biofábrica de insetos, trabalham hoje 22 pesquisadores, que se dedicam ao desenvolvimento da vespa Cotesia flavipes, usada no combate à broca-da-cana. Embora o inseto já seja usado na cultura há 40 anos e seja bastante conhecido dos produtores de cana do Centro-Sul, atendendo cerca de 30% dos canaviais do país, o uso dessa solução nas lavouras do Cerrado enfrentava dificuldades.

"Quando as vespas saem do laboratório, elas têm uma sobrevivida de quatro dias, tempo em que precisam chegar ao local de uso. Já tentamos comprar essa tecnologia de São Paulo, mas grande parte das vespas chegam mortas ou em condições inviáveis, por causa da logística", relata a pesquisadora, que é mestre em entomologia e doutora em agronomia. Na biofábrica, além de desenvolver as vespas localmente, os técnicos também trabalham para aumentar a eficiência de produção do inseto. Eles vão começar a produzir outras espécies de vespa para manejo biológico.

Todas as soluções que começam a ser elaboradas no CBC, ressalta Silva, são desenvolvidas levando-se sempre em conta as particularidades do solo e do clima de Mato Grosso. Sob altas temperaturas e índices de precipitação durante todo o ano, os canaviais do Estado estão mais propensos a pragas como a broca e a cigarrinha, além de conviverem com outras plantas.

O projeto de mudas pré-brotadas também pretende adequar as mudas às condições do Cerrado, sobretudo ao solo, muito mais arenoso que o da maior parte dos canaviais do Centro-Sul. "Quando pegamos uma variedade de cana que vai bem em São Paulo e trazemos para cá, muitas vezes ela não se desenvolve", diz. A biofábrica está transferindo as mudas para câmaras climatizadas para acelerar o desenvolvimento, o que deve permitir levar mais mudas a campo mais rapidamente, explica a pesquisadora.

O CBC também desenvolve, em Nova Olímpia (MT), uma linha de pesquisa da biodiversidade da região para identificar organismos que podem ser utilizados como controle biológico nas lavouras. Inicialmente, o CBC não tem atuação comercial e trabalha em parceria com outras instituições de pesquisa para desenvolver as tecnologias, mas o plano é começar a desenvolver soluções comerciais mais para frente.

Fonte: Valor Econômico
Texto extraído do boletim SCA