Um balanço da indústria de carnes em 2016
15-02-2017

Ana Malvestio¹ e Luiz Barbosa2

Quando se analisa a trajetória do agronegócio em 2016, o sentimento que permanece é que o setor teve um desempenho positivo, ao levar em consideração as dificuldades da economia vivenciadas por todas indústrias ao longo do ano. O Produto Interno Bruto (PIB) e os números relacionados a geração de emprego são bons indicadores que mostram de forma clara que o agronegócio conseguiu crescer em meio a tantas turbulências econômicas do país.

A expectativa é que o PIB do agronegócio cresça em torno de 2,5% a 3%, contra um decréscimo de 3,4% no PIB brasileiro, segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária no Brasil (CNA), do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e do Banco Central.

Além disso, agronegócio foi responsável por gerar mais de 50 mil novas vagas de empregos de janeiro a outubro de 2016, enquanto os demais setores cortaram mais de 790 mil postos de trabalho, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Os números são de fato muito satisfatórios, mas ao analisar em profundidade cada setor do agronegócio, é perceptível que os players de cada cadeia de valor tiveram que superar grandes desafios no decorrer do ano, a exemplo das cadeias de carnes bovina, suína e de frango, como podemos observar:

Carne suína e de frango
O grande desafio enfrentado pelas cadeias do frango e do suíno foi a alta no preço do milho, uma vez que o cereal é o principal componente da ração e a alimentação gira em torno de 75% do custo de produção dessas carnes.

O cerrado brasileiro foi atingido por uma forte seca que afetou a safra de inverno de milho. Como a segunda safra de milho ganhou expressividade nos últimos anos, o Brasil teve uma redução expressiva na produção do cereal, causada pela forte queda na produtividade. Além disso, as exportações do cereal aumentaram o que ajudou a reduzir ainda mais a disponibilidade de milho no mercado interno.

A alta no custo de produção das carnes de frango e suína não conseguiu ser repassada integralmente para o consumidor final que já apresentava redução de demanda por conta da crise econômica. Dessa forma, a produção teve um corte forçado, com redução de turnos e até mesmo encerramento das atividades em algumas plantas.

A indústria de carne de frango chegou a ficar com capacidade ociosa. No entanto, especialistas do setor afirmam que esse cenário ajudou a reverter o quadro de superoferta na produção de carne de frango que vinha se repetindo há alguns anos e pressionando os preços da proteína. No caso do suíno, os preços também começaram a se recuperar no final de 2016.

Com relação às exportações, o destaque foi para a carne suína que, segundo o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), teve um volume exportado que chegou a ser 40% maior em 2016, comparado a 2015, já que grandes importadores como Rússia, Hong Kong e China intensificaram as compras, fazendo com que o Brasil aumentasse os ganhos financeiros provenientes das vendas dessa proteína para o exterior. Já a carne de frango não teve ganhos expressivos com as exportações. A receita de exportação foi menor que a de 2015 e o volume cresceu em torno de 5%.

Carne bovina
Para a indústria de carne bovina, o ano de 2016 foi marcado por momentos complicados, especialmente pela redução das margens de rentabilidade. Em função da baixa oferta de bovinos, o preço da arroba se manteve em elevados patamares e os frigoríficos não conseguiram repassar a alta dos custos para o consumidor final, que demandou menos carne em função da crise econômica.

As exportações também foram menores, uma vez que ao longo do ano o real se valorizou e países como Venezuela e Rússia, que também passam por problemas na economia, reduziram as compras da proteína.

A alta no preço da arroba deu um animo para os pecuaristas, mas não foi suficiente para incentivar o confinamento, uma vez que o preço da ração subiu muito em decorrência da elevação dos preços do milho.

O que se observa é que o custo de produção foi a questão chave para a pecuária em 2016. Frigoríficos e pecuaristas tem que estar atentos não só ao aumento da produtividade, mas também ao gerenciamento dos seus custos. Conhecer e gerir bem os custos são importantes subsídios na hora das compras dos insumos e pode fazer a diferença no resultado final. Isso se confirma mais ainda em momentos de crise, quando aumentar os preços pode retrair a demanda. Portanto, em 2017 o foco deve estar concentrado em gestão de custos e produtividade, como 2016 nos mostrou.

¹Sócia da PwC Brasil e líder de Agribusiness para o Brasil.

2Gerente de Agribusiness da PwC Brasil.