Um enredo de filme de terror
11-06-2018

Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana cotado a 12.25 centavos de dólar por libra-peso no contrato com vencimento para julho/2018, uma queda de 27 pontos em relação ao fechamento da semana anterior, mas uma recuperação vigorosa depois da turbulência provocada pela acentuada queda do real em relação à moeda americana, empurrando o contrato de julho/2018 para o nível de 11.60 centavos de dólar por libra-peso, ocorrido há duas semanas.
O Brasil irá conviver por um bom tempo, a partir de agora, com o nervosismo observado na semana devido ao descrédito da política nacional, renovadas ameaças de greve, incerteza acerca do quadro sucessório presidencial, turbulência no mercado financeiro e desconfiança por parte dos investidores.

A intervenção do governo federal na política de preços da Petrobras põe em dúvida o futuro do setor sucroalcooleiro. Ignorar as leis do mercado internacional, sinalizar com possível congelamento ou controle de preços dos combustíveis e flertar com um populismo barato em época de eleições demonstram que o governo pretende que dê certo agora aquilo que sempre deu errado no passado, quando outros governos se enveredaram por esse caminho. Uma frase atribuída a Einstein diz que “insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”, a política brasileira é uma inesgotável fonte de gente insana. Negociaram com os caminhoneiros grevistas, mas esqueceram de explicar ao mercado que o financiamento para caminhões a juros subsidiados no governo anterior promoveu o crescimento da frota de caminhões aumentando a oferta de fretes numa economia pouco vigorosa. Também não explicaram que entre o preço do combustível importado pela Petrobras e o preço pago na bomba existe a incidência de custos e impostos que praticamente dobram o preço de importação.

O planalto quis eleger Pedro Parente como a besta do apocalipse e o resultado que se viu foi a desvalorização brutal do valor de mercado da Petrobras, o aumento da insegurança jurídica que afugenta o investidor estrangeiro cada vez mais ciente de que as regras não são respeitadas aqui, a fuga de capital externo na bolsa de valores, a desvalorização acentuada do real que contribuem com a percepção de que investir no país não vale a pena.
O agronegócio, que sustenta o país há décadas, com minúsculas margens, agora tem que contratar um frete mínimo, muito acima do que o livre mercado negociava, e vai pagar a conta das parvoíces de Temer e sua banda desafinada. Para o agronegócio, vale sempre o preço do mercado porque é assim que as commodities funcionam. Para os caminhoneiros vale o protecionismo populista do governo.

O que o governo deveria e poderia mexer é com a estrutura tributária do país que onera quem trabalha e produz. Mas nenhum político quer ver a diminuição de impostos. É mais fácil convencer os ratos a não comerem queijo.
Para o setor sucroalcooleiro, o cenário é sombrio. Dissemos aqui há meses por ocasião da mudança na política de formação de preços dos combustíveis então implementada pelo competente presidente da Petrobras, que assistíamos a uma mudança de paradigma que beneficiaria o setor, não com subsídios, mas com transparência, facilitando às usinas a trava de margens e visibilidade de preços, usando os mercados derivativos para isso.

Esse sonho pode estar acabando. Com a interferência esdrúxula do governo e a responsabilidade transferida para a ANP para a fixação da periodicidade nas alterações de preço após consulta popular (??), seja lá o que isso signifique, qualquer investidor que estivesse prospectando eventual entrada no setor, se tiver juízo, afastar-se-ia. Ficam ameaçadas igualmente eventuais expansões de novos canaviais e, o pior dos mundos, coloca em xeque o próprio RenovaBio.

Vivemos um enredo de filme de terror. Começamos a semana torcendo para que ela acabe rápido. Os fundos têm apenas 25.000 lotes vendidos, recomprando boa parte de suas posições. Será que continuarão nessa toada?