Unesp de Jaboticabal ganha centro de pesquisas para controle biológico de pragas da cana-de-açúcar
14-04-2020

Plantação de cana-de-açúcar e usina de etanol em Sertãozinho, SP — Foto: Fábio Junior/EPTV
Plantação de cana-de-açúcar e usina de etanol em Sertãozinho, SP — Foto: Fábio Junior/EPTV

Com aporte de R$ 8 milhões de parceria público-privada, laboratórios vão desenvolver técnicas para reduzir uso de agrotóxicos contra insetos e doenças que prejudicam lavouras.

Por Rodolfo Tiengo, G1 Ribeirão Preto e Franca

Uma parceria entre instituições públicas e privadas, com um investimento inicial de R$ 8 milhões, vai permitir que pesquisadores de Jaboticabal (SP) busquem alternativas no controle biológico de pragas e doenças nas lavouras de cana-de-açúcar.

Instalado no campus da Unesp, o Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) Fitossanidade em Cana-de-Açúcar vai estudar pelo próximos cinco anos técnicas que utilizam fungos, bactérias e feromônios para proteger as lavouras sem utilizar agrotóxicos.

"Nossa prioridade é trabalhar com o controle biológico ou com ferramentas ecologicamente amigáveis evitando a todo custo a utilização de controle químico que pode muitas vezes causar impacto ambiental negativo", afirma Odair Odair Aparecido Fernandes, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp e responsável pelo novo centro de estudos.

O foco das pesquisas, segundo Fernandes, será sobre a incidência de insetos como o bicudo-da-cana (Sphenophorus levis), principalmente após o fim da queimada da cana -, além de buscar mais informações sobre a síndrome do murchamento da cana.

Pragas como essas estão entre as maiores causas de prejuízos nos canaviais do país.

"O bicudo da cana está sendo tão prejudicial que está obrigando os produtores a renovarem seu canavial, a terem que replantar todo o canavial em dois ou três anos, quando usualmente isso não se faz antes de cinco ou seis anos", explica.

Parceria público-privada

A iniciativa foi aprovada no final do ano passado e conta com investimentos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp) e do Grupo São Martinho, uma das maiores indústrias do setor sucroenergético do país, além do envolvimento de pessoas ligadas a diferentes universidades e cooperativas.

O CPE em Jaboticabal está em fase de seleção de novos pesquisadores, além da aquisição de equipamentos.

A previsão é de que o projeto seja desenvolvido por cinco anos, com prazo prorrogável por mais cinco anos. Segundo Fernandes, o controle biológico e comportamental das pragas é estudado por outros 13 centros de pesquisa no estado de São Paulo e é uma estratégia procurada por diferentes países.

"Nossa prioridade é a inovação, preferindo ferramentas biológicas, ferramentas comportamentais para que em última instância consigamos reduzir o uso de inseticidas químicos nas lavouras", diz.

Além do bicudo-da-cana e da lagarta peluda, o CPE vai se dedicar a entender o comportamento e atuar no controle da mosca-dos-estábulos. Embora não seja uma praga da cana-de-açúcar, se desenvolve na palha da matéria-prima irrigada com vinhaça e ataca o gado em pastos vizinhos.

"Isso está sendo um grande problema no oeste do estado de São Paulo, bem como no Centro-Oeste [do Brasil]", afirma o professor.

O núcleo também deve se dedicar ao melhoramento de cultivares para tornar a cana mais resistente às pragas, além de projetos educacionais com alunos de ensino fundamental e compartilhamento dos avanços técnicos com as empresas do setor sucroenergético.

"Um braço do centro estará envolvido diretamente com aspectos educacionais dos municípios em que atuamos, com destaque para a região de Ribeirão Preto, em um primeiro momento, e também a divulgação, a transferência de tecnologia para o setor privado para os beneficiários, que são os usineiros e os produtores de cana de açúcar", diz Fernandes.