UNICA debate atual estágio da produção de etanol celulósico no Brasil e na Europa
25-09-2015

A ausência de políticas públicas voltadas ao etanol de 2ª geração na Europa e a bem-sucedida experiência brasileira na produção de biocombustível a partir da cana foram temas de dois importantes eventos realizados no continente europeu na segunda quinzena de setembro. Representando a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), a assessora sênior da Presidência para Assuntos Internacionais, Géraldine Kutas, marcou presença na “5th International Conference on Lignocellulosic Ethanol”, realizada pela Comissão Europeia em Bruxelas, no dia 15/09, e também no “Advanced Biofuels 2015”, organizado pela Associação Sueca de Bioenergia (SVEBIO) , em 17/09, na cidade de Estocolmo.
A participação da entidade brasileira nestes dois encontros, que juntos atraíram mais de 300 pessoas, ocorreu graças ao projeto que a UNICA mantém junto à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), que desde 2008 adotam uma estratégia para promover a imagem do etanol brasileiro de cana como energia limpa e renovável no exterior.
Na “5th International Conference on Lignocellulosic Ethanol”, Kutas integrou o painel “Market Status & Prospects of Lignocellulosic Ethanol”, moderado pelo diretor Global da Multinacional DuPont, Jan Koninckx, e que teve como convidados o presidente da POET-DMS, Daniel Cummings, o diretor de Energia e Meio Ambiente da ePURE, Emmanuel Desplechin, e o diretor de Sistemas Sustentáveis da Scania, Jonas Strömberg. O debate girou em torno das incertezas a respeito do quadro legislativo europeu após 2020, quando chegará ao fim a meta de uso de 10% de energias renováveis no setor de transporte em seus Estados-membros, e, principalmente, a falta de políticas públicas como maior obstáculo ao desenvolvimento do etanol celulósico na Europa. “A Comissão Europeia foi elogiada pelo seu apoio na fase de pesquisa do etanol de 2ª geração, mas também foi criticada por não providenciar financiamento para projetos comerciais nesta área, o que impede a competitividade do biocombustível em relação à gasolina”, destacou Kutas.
Já no evento “Advanced Biofuels 2015”, promovido na capital da Suécia, pioneira no mundo na implementação em grande escala de ônibus e caminhões movidos a etanol (ED95), a assessora da UNICA conheceu diversos projetos de diferentes tipos de biocombustiveis avançados. “A diversidade de tecnologias e o número de iniciativas foram impactantes. A principal razão é a meta sueca de ser um país livre dos combustíveis fósseis em 2030”, explica. Embora tenha retirado incentivos fiscais para empresas que compram carros flex, Kutas também ressaltou o fato da Suécia ter adotado a mistura obrigatória de 5% de etanol na gasolina (E5). “Os biocombustíveis ainda representam a solução mais viável para descarbonizar o setor de transporte, e esperamos que no médio e longo prazos os europeus acompanhem a experiência brasileira, onde o percentual de mistura é ainda maior, alcançando 27%”, finalizou.
E o Brasil, especificamente a sua produção doméstica de etanol celulósico, foi o tema central apontado pela executiva da UNICA no painel “Fossil Free Land Transport Sector”, com presenças do diretor de Desenvolvimento Comercial da Enerkem, Alexander Miles, do representante Chefe para a Europa do Methanol Institute, Eelco Dekker, e do CEO da Värmlandsmetanol, Björn Gillberg. Em sua apresentação, Kutas mostrou dados de produção citando dois projetos inovadores das companhias brasileiras Raízen e Granbio, que recentemente inauguraram duas plantas industriais para fabricação em larga escala do combustível renovável de 2ª geração a partir da palha e do bagaço da cana.
Outro ponto importante abordado pela executiva foi a sinergia deste novo produto com o etanol de 1ª geração, o que aumentou do volume do biocombustível no mercado sem necessidade de expansão de área plantada ou prejuízos por conta da sazonalidade climática. “O Brasil tem umas das fontes de biomassa mais baratas do mundo e tem todos os elementos para virar um grande produtor de etanol celulósico”, reforça a representante da UNICA, que ao final de sua palestra destacou os desafios brasileiros - semelhantes aos enfrentados pelos europeus atualmente - no que se refere à expansão do etanol de 2ª geração: políticas de estado que promovam o surgimento de novos projetos e aperfeiçoamento nos processos de produção do biocombustível, tais como o pré-tratamento da biomassa e eficiência das enzimas.