Usinas demitem mais de mil trabalhadores
30-07-2014

Nos últimos três meses, usinas sucroalcooleiras da região dispensaram cerca de 1 mil trabalhadores rurais. De maio a meados de junho, foram cerca de 400 demissões em Andradina e mais de 300 em Penápolis; aproximadamente 200, em Valparaíso, entre junho e julho; e 108 em Araçatuba, entre maio e julho, de acordo com representantes das categorias das cidades. Segundo as entidades, corte de funcionários nessa época é atípico. As justificativas dadas pelas empresas para as rescisões são a diminuição da produtividade da cana, devido à estiagem, e a redução de custos.

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Araçatuba, Aparecido Guilherme de Moura, contabiliza 45 cortes de empregados da área do campo só nas últimas duas semanas, nas cidades mais próximas da sede do órgão, e afirma que mais demissões devem acontecer. "Em uma usina de Clementina, estão previstas outras 200 demissões, para o próximo mês". Os números apresentados pelo sindicato de Araçatuba referem-se apenas a seus associados que haviam sido contratados há mais de um ano pelas empresas, o que significa que o número de desligamentos pode ser maior. Quanto às funções dos demitidos, seriam gerais, o que abrange tanto mão de obra empregada em corte, operação de tratores e plantio.

Moura estranha que as dispensas tenham ocorrido na época da safra, o que não era comum em anos anteriores. "E mesmo as chuvas da semana passada não ajudaram a evitar os próximos cortes. Ao contrário do que acontecia em outros anos, pois quando chovia, muitas demissões já foram suspensas", conta.
Integrante da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Andradina, Marcelo Dantas, afirma que em outros anos, no máximo uma ou duas rescisões acontecia por semana no período da safra. "Neste ano, a estiagem fez com que as demissões fossem antecipadas e em números maiores". Segundo ele, grande parte dos cortes dos últimos três meses foi de trabalhadores responsáveis pelo plantio e adubação. Ele conta que 145 das demissões do período aconteceram em 20 de maio, ápice das dispensas este ano.

Fora as 200 demissões entre junho e julho, mais de 100 trabalhadores das plantações de cana foram demitidos em Valparaíso em 2014, conforme o presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Valparaíso, Paulo de Oliveira Cruz. Do total, 40 desligamentos teriam sido efetuados na semana anterior. "O que nós consideramos mais estranho é que entre os funcionários demitidos, há muitos efetivos, pessoas que estavam trabalhando há sete ou oito anos nas usinas". Entre os demitidos estão operadores, motoristas de caminhões de transporte de cana, tratoristas e trabalhadores braçais das plantações, com idade de 20 a 60 anos. No caso dos transportes, ele observa ainda que as usinas de Valparaíso têm aumentado a terceirização deste serviço.


Máquinas

Para Paulo César Marques, auxiliar contábil do Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Penápolis, o processo de mecanização da colheita, acelerado pela proibição da queima da cana, colaborou para o corte de funcionários, que atingiu todos os setores do campo. "Uma máquina, operada por uma única pessoa, faz o trabalho de quase 80 cortadores", afirma. De acordo com Marques, além das demissões, o emprego no segmento tem uma queda devido à retração das admissões.

Os funcionários demitidos nos últimos três meses são moradores da região. Conforme o economista Claudilei Rocha, a mecanização já havia provocado nos últimos quatro anos um processo de diminuição no contrato de trabalhadores rurais de outros Estados, o que teve impacto no comércio e prestação de serviços nas cidades. "Com as demissões de moradores da região, a situação da economia local se agrava, pois grande parte dos municípios da região depende muito do setor sucroalcooleiro", disse.


Falta de equilíbrio dos custos para o setor tem levado à crise, diz UDOP

A falta da equalização de custos para o setor sucroalcooleiro tem levado o segmento a uma crise, segundo o presidente da UDOP (União dos Produtores de Bioenergia), Celso Torquato Junqueira Franco. Ele acredita que a prática do governo de conter a inflação controlando o preço dos combustíveis atrapalha as usinas.

"O preço do etanol é mantido baixo em função da gasolina, por isso as empresas do setor não conseguem um lucro compatível com os custos da produção", explica. Segundo ele, muitas usinas são obrigadas a cortar gastos para enfrentar as dificuldades financeiras, o que resulta em demissões de trabalhadores, diminuição de compras ou pagamentos a fornecedores de cana e à redução do uso de insumos na indústria.

"Neste ano, a situação de Araçatuba se agrava devido à estiagem, pois as regiões sul e noroeste do Estado foram as mais afetadas pela seca", afirma Franco. O presidente da UDOP afirma que a produção da região diminui 20% por conta da estiagem. No entanto, ele diz que desde 2008, o setor enfrenta dificuldades financeiras acarretadas pela crise econômica nos EUA e Europa, problema intensificado posteriormente pelas medidas do governo, que beneficiam a exploração do pré-sal, desde aquela época. "As demissões já são tristes, porém ainda mais graves são as paralisações de usinas, como já ocorreu em dez unidades do noroeste paulista".

Para Franco, é possível que um terço das usinas hoje em operação no Centro-Sul do Brasil corra o risco de sofrer paralisações nos próximos dois anos, se não houver alteração da política econômica em relação ao setor.