Usinas e produtores não podem se conformar com um canavial cheio de falhas
01-03-2016

Cada falha do canavial é um pouco menos de produto que o produtor ou a usina vai obter no final da safra. Por isso, esse problema tem que ser visto como prioridade pelos empresários do setor.

Na Austrália, por exemplo, 3% de falha são considerados um índice altíssimo, segundo relato de Dib Nunes, diretor do Grupo IDEA. “Lá não se admite desperdício. Já no Brasil não há a mesma mobilização contra esse problema”, pontua. “Por aqui temos canaviais muito falhados, que chegam a ter 10%, 15%, até 20% de falhas.”


Segundo ele, existem vários motivos que levam canaviais a terem falhas. “Depois que entrou o plantio mecanizado, por exemplo, o setor teve que aprender a mecanizar essa operação. Algumas usinas já evoluíram muito e realizam plantios fantásticos, em que praticamente não há diferença entre o plantio manual e o mecanizado, mas isso está longe de ser regra”, salienta Dib.


Ele destaca que algumas empresas têm enfrentado muitas dificuldades no desenvolvimento dos canaviais. “Têm muitas falhas por conta do plantio mal feito.” No entanto, ele destaca a outra ponta do processo mecanizado. “Também temos o problema de arranquio de soqueira durante a colheita. O arranquio acontece geralmente quando não se segue as recomendações do fabricante da colhedora de cana”, sublinha.


“Não é raro vermos operador colhendo canavial a 7 km por hora, enquanto o fabricante recomenda naquela condição uma operação de 3 km por hora. É inevitável que haja perdas e arranquio. Essa velocidade é completamente fora do projeto original do equipamento.”


Para Dib, o que se vê é que, em busca de maior rendimento e de redução de custos, as empresas estão perdendo produtividade. Ou seja, se ganha por um lado, mas perde-se muito por outro. “Em minha opinião, se perde mais em produtividade do que se obtém em ganhos operacionais.”


Mas para o diretor do Grupo IDEA, já está havendo uma maior conscientização sobre esse assunto. “Os grandes grupos têm normas rígidas sobre a operação da máquina. É proibido correr. Mas para isso é preciso buscar maior eficiência na operação de colheita. Os talhões devem ser longos, bem sistematizados. Tem que ter troca frequente dos elementos cortantes, como facas de base, faquetas de picação. Não pode demorar pra trocar, porque dilaceram a cana.”


Na busca pela redução das falhas nos canaviais, há uma série de providências que podem ser tomadas. “Hoje, por exemplo, temos variedades com alto rendimento de colheita, que tombam menos, são eretas, são mais aptas à mecanização. Tudo isso somado está trazendo maior eficiência. Por isso, temos problemas de falhas sim, mas por culpa nossa mesmo. Do próprio produtor”, dispara Dib.


Ele observa que geralmente a culpa nesse aspecto não é do fabricante da máquina. “Se desenvolve uma máquina de um jeito, mas em muitas empresas se trabalha de outro modo, diferente do recomendado.”
Aí vem à cabeça do empresário e do gestor uma preocupação: “se trabalhar mais devagar na colheita meu plantel de máquinas não dará conta de colher toda área”. “Ora, nesse caso, vamos comprar mais máquinas, por que temos que trabalhar no gargalo? Muitas vezes temos 20%, 30% dos equipamentos podendo quebrar no meio da safra. Aí não adianta ter corrido com a operação. Mesmo correndo, vai faltar cana na fábrica.”


Mas o grande problema é obter linhas de crédito para financiamento de novas máquinas. Com os juros no patamar que está e a redução do crédito disponível, o cenário atual do país desestimula qualquer investimento.

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