Usinas elevam oferta de bioeletricidade
27-05-2021

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A expansão da oferta de bioeletricidade e de biogás provenientes de resíduos da produção de açúcar e álcool voltou ao radar dos investidores. Nos leilões de energia nova A-3 e A-4, previstos para 25 de junho, há 30 projetos inscritos que somam uma capacidade instalada de 1.358 megawatts (MW). "Se todos forem contratados, será a maior expansão na capacidade de geração do setor em uma década", diz Zilmar Souza, gerente de bioeletricidade da União da Industria da Cana-de-Açúcar (Unica).

O setor sucroalcooleiro fechou 2020 com uma capacidade instalada de 11.925 MW. Em 2021 está prevista a entrada em operação de 17 novos projetos que elevarão essa capacidade em 298 MW. A capacidade total de geração de bioeletricidade no país, incluindo também a oferta proveniente da indústria da madeira, papel e celulose e do biogás, chegará ao final do ano perto de 16.000 MW. Irá superar com folga os 14.000 MW de Itaipu.

Tereos fechou parceria com a ZEG Renováveis para aproveitar a vinhaça gerada na Usina Cruz Alta, em Olímpia

Alguns fatores influenciam positivamente os planos de retomada dos investimentos em bioeletricidade. "O principal é a perspectiva de aprovação pelo Congresso Nacional do projeto de lei 414/21", diz Souza. O PL prevê a modernização comercial do setor elétrico brasileiro e cria um novo mecanismo de reconhecimento dos atributos ambientais das fontes de energia, valorizando fontes renováveis.

Outro fator é o Renovabio, programa público que gera um crédito financeiro de descarbonização para a geração de biocombustível sustentado por empresas que precisam mitigar suas emissões de gases de efeito estufa. A expectativa do governo é que o Renovabio amplie em 25% a oferta de bioeletricidade até 2030.

A bioeletricidade gerada no setor sucroalcooleiro utiliza basicamente o bagaço da cana. Uma nova rota tecnológica foi desenvolvida para o aproveitamento da vinhaça, um passivo ambiental da produção do etanol.

O grupo Tereos fechou parceria com a ZEG Renováveis para aproveitar a vinhaça gerada na Usina Cruz Alta, em Olímpia (SP), para a geração de bioeletricidade e biometano, o biogás purificado ao padrão de gás natural, combustível apto ao abastecimento veicular e à distribuição para uso industrial.

As duas primeiras fases do projeto preveem investimentos de R$ 28 milhões em quatro lagoas biodigestoras para a geração de 5 MW de bioeletricidade a partir da safra 2022. A terceira fase, ainda em planejamento, terá 14 lagoas biodigestoras dedicadas a geração de biometano.

Ao todo, a ZEG Renováveis já fechou nove acordos com usinas de cana-de-açúcar para o aproveitamento da vinhaça. Os projetos somam R$ 400 milhões em investimentos até 2024 e devem gerar 1 milhão de m³ por dia de biometano e 10 MW de potência em bioeletricidade. "A vinhaça é o pré-sal do interior brasileiro", diz Daniel Rossi, CEO da ZEG.

Em 2020 a produção de eletricidade proveniente de biomassas foi de 27.473.660 gigawatts/hora (GWh). O aproveitamento dos resíduos da cana proporcionou a geração de 22.604.406 GWh e com isso permitiu poupar 15% dos reservatórios das hidrelétricas do país. A escassez de chuvas deverá resultar em uma queda de 4% na colheita de safra 2021/2022.

Zilmar Souza, da Unica, afirma que a quebra da safra não afetará a geração de eletricidade. A remuneração atual da energia anima o produtor a buscar insumos em usinas que não aproveitam seus resíduos ou biomassas alternativas, como casca de arroz e cavaco de madeira. "Com os estímulos certos, o setor pode até ampliar em 15% sua oferta de bioeletricidade."

A BP Bunge Bioenergia reúne 11 usinas com capacidade de moagem de 32 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano e adota uma estratégia de redistribuir a biomassa entre unidades próximas para o melhor aproveitamento dos recursos na geração de bioeletricidade.

Em 2021, devido à menor disponibilidade de bagaço, a companhia vai iniciar testes de aproveitamento de palha de cana-de-açúcar e cavaco de madeira em uma de suas unidades. "Se o teste for bem-sucedido, podemos expandir para as demais", diz o diretor comercial Ricardo Busato Carvalho.

O grupo gera 2.000 GWh por ano, sendo 700 GWh destinados a autoconsumo nas usinas e 1300 GWh vendidos para a rede elétrica. Carvalho avalia que o setor sucroalcooleiro está na iminência de entrar em um ciclo expansionista, o que deverá beneficiar a geração de bioeletricidade. "Todas as empresas do setor hoje analisam oportunidades de investimentos", afirma o diretor da BP Bunge Bioenergia.

Fonte: Valor Econômico
Extraído do Clipping da SCA