Usinas já travaram os preços de 80% do açúcar para exportação
16-05-2016

Uma conjunção de fatores favoráveis para a remuneração do açúcar para as usinas em reais provocou uma corrida para a fixação dos valores do produto na exportação na atual safra 2016/17. E, com o ritmo recorde de fixação, há apenas um pequeno volume de açúcar para ser travado a partir de agora.

Estima-se que, das cerca de 24 milhões de toneladas de açúcar que o Brasil deve exportar nesta temporada, 80% tenha tido o preço fixado. Isso representa 19,2 milhões de toneladas de açúcar cujo preço já foi definido, embora isso não represente um compromisso com compradores. Considerando que as projeções para a produção de açúcar do Centro-Sul na safra atual oscilam perto das 34 milhões de toneladas, o volume de açúcar cujo preço foi travado representa 56% do que deve ser fabricado.

Nos cálculos da Archer Consulting, o preço médio fixado para esse volume foi de R$ 1.206 a tonelada, mas durante o primeiro bimestre do ano, o valor em moeda nacional chegou a bater a marca histórica de R$ 1.600 a tonelada.

O percentual de 80% de fixação dos preços foi alcançado em fevereiro, e desde então as usinas pisaram no freio, travando o preço de um pequeno volume de açúcar, diz Arnaldo Correa, diretor da consultoria.

Conforme o analista, esse patamar pode ser considerado recorde. No histórico recente, o nível de fixação mais elevado que se obteve nesse período foi em 2012/13, quando o preço de 68% do açúcar para exportação tinha sido fixado.

O período mais febril de realização de hedge nesta safra ocorreu nos dois primeiros meses do ano. Naquele momento, os preços do açúcar na bolsa de Nova York estavam firmes por causa do período de entressafra no Brasil e de uma estimativa de déficit no ciclo global 2015/16.

Mas nada se compara à influência do câmbio. No primeiro bimestre, quando ainda havia incertezas sobre os rumos do processo de impeachment da agora presidente afastada Dilma Rousseff e mais confiança de uma alta dos juros americanos pelo Federal Reserve, o dólar chegou a ser negociado a R$ 4,1631, enquanto os contratos a termo da moeda (NDFs) com vencimento entre oito e 12 meses alcançavam os R$ 4,60.

A relação ficou tão vantajosa que as usinas já anteciparam inclusive a fixação do preço do açúcar para ser exportado na safra 2017/18, que começa apenas em abril do próximo ano. "Houve quem fixou o açúcar por R$ 1.500 por tonelada para a próxima safra", afirma Correa. Inclusive, parte do volume de açúcar apurado pela Archer Consulting, cujo preço de exportação foi fixado, já está na conta dos embarques da próxima temporada.

No entanto, a quantidade de açúcar do ciclo 2017/18 cujos preços de venda já foram acertados ainda é marginal, segundo Willian Hernandes, sócio da FGAgro. "Para a próxima safra, 5% a 10% dos nosso clientes fixaram essas vendas".

Uma das companhias que já travou o preço para uma parte do açúcar que será exportado na próxima safra foi a Raízen Energia. Segundo a Cosan, que detém 50% de participação na sucroalcooleira, 669 mil toneladas de açúcar que serão embarcadas na temporada 2017/18 já tiveram o preço travado a um valor médio de 67,20 centavos de real a libra-peso.

Esse preço já é 19% maior do que a cotação médio fixada para o açúcar a ser embarcado nesta safra. A Raízen já travou o preço de praticamente toda a quantidade da commodity que será exportada neste ciclo, 2,136 milhões de toneladas, a um preço médio de 56,30 centavos de real a libra-peso.

Contudo, essa oportunidade não esteve à mão de todas as usinas. Aquelas com problemas sérios de liquidez não tiveram aprovação de crédito das instituições financeiras para realizarem contratos a termo de dólar. "Só as empresas bem capitalizadas que puderam fazer essas operações", observa Correa.

Além disso, nem todas as usinas que conseguiram fixar os preços de seu açúcar surfaram exatamente na onda do real fraco neste início de ano. Segundo o analista da Archer Consulting, do total das que fixaram, cerca de 40% devem ter aproveitado essa queda.

Os próximos passos das usinas deverão ser mais cautelosos. Segundo Fabio Meneghin, sócio da Agroconsult, o foco das empresas neste momento é cumprir os contratos negociados e esperar uma definição do cenário político e sua influência sobre o câmbio.

"E tem o mercado interno que elas têm que atender e para o qual não tem contrato", acrescentou. Segundo Meneghin, o mercado doméstico absorve cerca de 30% do açúcar produzido pelo Centro-Sul.

O esfriamento atual da atividade de hedge por parte das usinas abre espaço para que as negociações dos contratos de entrega futura no mercado internacional se tornem mais voláteis. "Há pouca empresa com espaço no mercado físico para fixar. E os movimentos são mais voláteis", afirma Willian Hernandes, sócio da FGAgro.