Vinhaça: Concentrar ou não? Eis a questão
24-06-2014

Processo de concentração de vinhaça pode agir como uma solução para usinas e destilarias que desejam reduzir os custos com a logística do resíduo


Leonardo Ruiz

A vinhaça é um subproduto da agroindústria sucroenergética resultante da produção de etanol. Ela é obtida através da destilação do vinho, ou seja, o mosto fermentado. Nesse processo, recupera-se o etanol produzido pela fermentação alcoólica na forma de um líquido alcoólico denominado flegma, de concentração variável, restando um resíduo, batizado, portanto, como vinhaça.

Ela é produzida na relação 13/1, o que significa: 13 litros de vinhaça para cada litro de etanol produzido. Devido ao fato de ser rica em matéria orgânica e nutrientes, é bastante usada pelas usinas e destilarias na fertirrigação dos canaviais. Mesmo com sua importância como fertilizante, a vinhaça não é considerada um produto comercial e sim um resíduo.

Além disso, os teores de matéria orgânica e de nutrientes contidos nela variam de acordo com o processo de fermentação para a fabricação de etanol. Essa variação depende de vários fatores como: natureza e composição da matéria-prima (se é fermentação de mosto, mosto de melaço ou misto), composição dos vinhos, sistema de fermentação, raça da levedura utilizada, tratamento da levedura, tipos de aparelhos usados na destilação, qualidade da água usada, componentes usados para desinfecção, sistema de trabalho e influência dos operadores.
Porém, o processo de fertirrigação da vinhaça implica na movimentação de grandes volumes desse resíduo, composto de, aproximadamente, 97% de água, que devem ser aplicados adequadamente no campo e, muitas vezes, a grandes distâncias, o que resulta em altos custos para as empresas.

Com o intuito de eliminar o máximo possível de água da vinhaça, através de aparelhos de evaporação, a concentração funciona como uma solução para as usinas e destilarias que desejam utilizar esse resíduo, porém, de uma forma que sua distribuição seja mais racional, e com menor custo de logística.

Concentrando

Segundo Marco Antonio Viana, presidente do GIFC – Grupo de Irrigação e Fertirrigação de Cana-de-Açúcar, no atual mercado, é possível encontrar vários aparelhos concentradores, sendo que o nível de eficiência é medido pela % de Brix (porcentagem de sólidos solúveis), podendo apresentar níveis de concentração que variam de 15% a 65% Brix. “A concentração da vinhaça pode ser viável dependendo da quantidade e distância das áreas disponíveis para a sua aplicação “in natura”, ou seja, logo após a destilação dos vinhos. Para tal, é necessário um minucioso estudo das condições edafoclimáticas regionais, ou seja, um estudo interativo de solo e clima, que irá definir as quantidades de vinhaça que poderão ser aplicadas por hectare considerando o manejo da água, a nutrição dos canaviais e o atendimento da legislação ambiental”.

Após definidas essas quantidades, Viana aponta que o ideal é a elaboração de um Plano Diretor que irá definir investimentos e custos operacionais necessários para o uso do resíduo em condições socioeconômicas e ambientais viáveis. “Em se constatando, por exemplo, a inviabilidade do uso em condições “in natura”, a concentração da vinhaça passa a ser uma alternativa interessante”, completa.

Para José Luiz Olivério, vice-presidente de tecnologia e desenvolvimento da Dedini, o mercado, no momento, está mais direcionado a adquirir as unidades de concentração de vinhaça, visando a reduzir custos de logística e de consumo de fertilizantes químicos pela racionalização da reciclagem em maior área de plantio. Segundo ele, nem sempre o processo de tratamento de um efluente resulta em grandes ganhos econômicos, logo, os fatores legais podem determinar o interesse específico de cada usina em utilizar o processo. “Legislações ambientais essas que têm se tornado cada vez mais restritivas no tocante ao descarte de resíduos industriais “in natura” no solo. Em algumas áreas e países, inclusive, o lançamento da vinhaça “in natura” já é proibido”.

Olivério afirma, ainda, outros fatores que podem ‘pesar’ na hora de escolher quais processos serão utilizados. “Como exemplo, cito o fato de que algumas usinas não ter interesse em concentrar a vinhaça, pois, as condições climáticas locais exigem a “irrigação de salvamento” para o crescimento adequado da cana, e, neste caso, não há ganhos de logística, e a tradicional fertirrigação da vinhaça só seria eliminada por força da legislação, se houvesse um risco ambiental”.

Vantagens

A Rio Pardo, localizada no município de Cerqueira César, SP, é uma das usinas que já se beneficia das vantagens de utilizar a concentração de vinhaça em seus processos diários. O equipamento, que trabalha com vazão de entrada “in natura” de 110 m³/h para uma saída concentrada de, aproximadamente, 15m³/h, foi adquirido em 2009 devido à condição agrícola da unidade, que possui, em seu entorno, áreas de pastagens e laranjais, sendo que os canaviais se encontram em locais relativamente distantes. Dessa forma, a concentração do resíduo resulta em queda dos custos operacionais.

Segundo Carlos Alberto Caserta, gerente industrial da unidade, a vinhaça “in natura” é utilizada para fertirrigar as áreas que se encontram de 10 km a 15 km da unidade industrial, já a concentrada foi à solução para os canaviais mais afastados. “A principal vantagem desse sistema é a redução dos custos com a logística. O custo da vinhaça “in natura” gira em torno de R$ 1400,00/ha, já a concentrada fica em R$ 480,00/ha”, afirma.

Com a concentração da vinhaça, a usina conseguiu, ainda, diminuir o uso de água na indústria, em aproximadamente 0.20 m3/ton cana. “Isso acontece porque eu consigo reutilizar a água evaporada da vinhaça, reduzindo a captação, podendo ser utilizada na diluição do fermento na fermentação e no preparo do mosto”, finaliza Caserta.