Zinco e molibdênio ganham protagonismo no manejo nutricional da cana
29-08-2025

Uso de micronutrientes aumentam eficiência fotossintética, reduzem doenças e ampliam produtividade dos canaviais

Por Andréia Vital

A adubação com zinco e molibdênio desponta como uma das estratégias mais promissoras para elevar a produtividade da cana-de-açúcar. Foi o que destacou o Dr. Estêvão Vicari Melles, pesquisador da Divisão de Solos e Fertilizantes do Instituto Agronômico (IAC), durante sua apresentação na 5ª Reunião do Grupo Fitotécnico, realizada nesta terça-feira (26), sob o tema “Adubação com zinco e molibdênio na cana: estratégias técnicas para resultados de alta performance”.

Melles ressaltou que os micronutrientes passaram de estudos experimentais a recomendações práticas com forte respaldo científico. “O zinco é vital para a cana como planta C4, atuando na anidrase carbônica e impulsionando a eficiência fotossintética. Também é precursor do ácido indolacético, o que favorece o crescimento, o perfilhamento e a produtividade, além de reduzir a severidade de doenças como ferrugens e estria vermelha”, explicou.

Segundo o pesquisador, a nutrição com zinco envolve desafios de interação com outros nutrientes: antagonismos com fósforo, cobre e ferro, que reduzem sua absorção, e sinergia com o boro, que amplia a eficiência do elemento. A calagem excessiva, por exemplo, pode indisponibilizar o zinco no solo, exigindo atenção ao manejo.

O molibdênio, por sua vez, exerce papel determinante na assimilação de nitrogênio, atuando como cofator da enzima nitrato redutase e favorecendo a formação de proteínas e aminoácidos. Também está associado ao metabolismo do enxofre e à resistência da cana ao estresse hídrico. Além do efeito direto na planta, o elemento é essencial para a fixação biológica de nitrogênio por bactérias associativas, aumentando a eficiência do uso de N e, consequentemente, a biomassa produzida.

Estudos recentes do IAC, conduzidos em diferentes solos e variedades, mostraram incrementos consistentes na produtividade, chegando a ganhos superiores a 50 toneladas por hectare em quatro safras consecutivas com o uso de zinco e molibdênio. A pesquisa também comprova que não há efeito fitotóxico em doses elevadas, como 10 quilos de zinco por hectare, desmistificando críticas sobre risco de toxicidade.

Além disso, a aplicação foliar tem se mostrado eficaz, principalmente no caso do molibdênio, cuja mobilidade na planta é maior. Dados experimentais apontam aumento da atividade enzimática e reduções significativas na incidência de doenças, especialmente ferrugem alaranjada, quando o zinco é aplicado de forma fracionada ao longo do ciclo.

Para Melles, os resultados refletem um novo paradigma de manejo. “O desafio é adubar com eficiência dentro do conceito dos 4C — fonte correta, dose correta, local correto e momento correto. Não se trata apenas de aplicar mais, mas de aplicar melhor, integrando ciência e prática agrícola”, destacou.

O pesquisador ainda fez um alerta: a intensificação da calagem em áreas de cana pode reduzir a disponibilidade de zinco, exigindo ajustes nas recomendações. Já para o molibdênio, o aumento do pH favorece sua absorção, o que reforça a necessidade de diagnósticos precisos com análises de solo e tecido foliar.

Encerrando sua apresentação, Melles homenageou o pesquisador Bernardo Van Raij, pesquisador que foi chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente e referência na fertilidade do solo no Brasil, citando sua frase preferida: “Se você acha que investir em pesquisa é caro, experimente a ignorância”.