'Importação' desagrada a usineiros nordestinos
03-09-2015
O aumento do volume de etanol "importado" para abastecer a demanda do Nordeste neste ano não agradou às usinas sucroalcooleiras da região. O presidente do Sindicato da Indústria de Cana-de-Açúcar de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha, afirmou ao Valor que as distribuidoras não estão mais fechando contratos com as usinas locais, o que vem causando uma grande insegurança no segmento.
Luciano Libório, diretor de abastecimento e regulamentação do sindicato que representa as distribuidoras de combustíveis do país (Sindicom), disse que as estratégias de compra das empresas da área respeitam uma racionalidade econômica. "Se o preço é viável e há disponibilidade de etanol no Nordeste, compramos lá mesmo para abastecer o mercado local. Caso contrário, vamos buscar em outro Estado".
Ocorre que, apesar de a demanda por etanol hidratado estar em expansão no país, as usinas da região Centro-Sul estão ofertando muito o produto para gerar caixa e, com isso, pressionam os preços e afetam a remuneração das indústrias instaladas no Nordeste.
Entre os dias 17 e 21 de agosto, o preço de venda na usina em Goiás do hidratado destinado a outros Estados ficou em R$ 1,1408 por litro, conforme o indicador Cepea/Esalq, 1,7% abaixo de igual período de 2014. Trata-se de um preço por litro R$ 0,34 menor que o cobrado pelo hidratado no mercado de Pernambuco (R$ 1,4837).
"Considerando que o custo do frete entre Goiás e Pernambuco é de cerca de R$ 0,20 por litro, há uma margem de R$ 0,14 nessa operação de compra do etanol goiano para abastecer o mercado nordestino", afirmou Tarcilo Rodrigues, da trading Bioagência.
Além disso, disse Rodrigues, é preciso considerar que é bem diferente levar do Centro-Sul para o Nordeste 150 milhões de litros, que foi o déficit de hidratado em 2014 no mercado nordestino ou 700 milhões, que é a estimativa para o déficit neste ano.
"Há mais risco em concentrar esse volume adicional nos cinco meses da entressafra do Nordeste. É possível que as distribuidoras tentem dividir os carregamentos ao longo de mais meses", avaliou Rodrigues. Para transportar 150 milhões de litros, são necessários 3,3 mil caminhões. Para 700 milhões, são mais de 15 mil caminhões.