A eficiência do uso de armadilhas no controle da broca-da-cana
09-12-2019
Método de amostragem com armadilhas é mais eficiente, ágil e simples do que o levantamento broca/hora/homem
Leonardo Ruiz com participação de Renato Anselmi
Diversas pragas atacam a cana-de-açúcar, porém a broca-da-cana (Diatraea saccharalis) chama atenção por dois motivos principais. O primeiro é sua ampla distribuição pelo país, atingindo as principais regiões produtoras. São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás compartilham o topo no ranking dos estados mais afetados, com Índices de Infestação Final (I.I.F) variando de 4% a 6%. Em seguida, aparecem Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com I.I.F na ordem de 2%.
A gravidade de seus danos é o segundo motivo pelo qual a broca chama atenção. Quando jovem, a lagarta se alimenta das folhas para depois penetrar pelas partes mais moles do colmo. Nesse momento, ela abre galerias de baixo para cima - longitudinais ou transversais -, que podem ocasionar perda de peso, morte da gema apical, enraizamento aéreo, germinação das gemas laterais e tombamento.
ÍNDICES MÁXIMOS DE INFESTAÇÃO POR BROCA OBSERVADOS EM DIFERENTES REGIÕES
Fonte: Fermentec
Em canas novas, a broca pode causar também o secamento dos ponteiros e morte da planta (dano conhecido como "coração morto"). Além disso, os orifícios criados pela broca funcionam como porta de entrada de microrganismos - fungos e bactérias -, que geram impactos negativos no rendimento industrial e também sobre a qualidade do produto final. Prova de que os prejuízos causados pela praga vão muito além do canavial.
Orifícios criados pela broca funcionam como porta de entrada para fungos e bactérias
Foto: Divulgação Global Cana
O engenheiro agrônomo José Francisco Garcia, diretor da Global Cana – Soluções Entomológicas, alerta para altos danos causados pela broca-da-cana e para o fato de que apenas um terço do mercado adota algum método de controle. “Os campos que temos encontrado pelo Centro-Sul geram desconforto, tamanho os níveis de infestação. É um parâmetro fundamental para confirmar que estamos perdendo essa luta. Nosso principal desafio para os próximos anos é mudar esse cenário. Provar para o produtor que o controle, além de extremamente necessário, é sim economicamente viável.”
O primeiro passo para um manejo eficiente da broca-da-cana é conhecer os índices populacionais da praga no campo. Desenvolvida na década de 1970 e bastante utilizada pelo setor desde então, a metodologia de levantamento conhecida como broca/hora/homem se tornou obsoleta nos últimos anos, reflexo de um segmento com cada vez menos mão de obra disponível.
Objetivo da armadilha é identificar o pico de adultos e a presença de ovos na área. Machos são atraídos pelas fêmeas presas na estrutura
Foto: Divulgação Global Cana
Desenvolvida inicialmente para tomada de decisão para liberação de Trichogramma galloi, a armadilha é a bola da vez, já sendo amplamente utilizada para direcionar as aplicações de moléculas químicas e liberação de Cotesia flavipes. “Tudo isso em apenas uma ferramenta amostral, cujo objetivo é identificar o pico de adultos e a presença de ovos na área. Seu principal benefício é a simplicidade e alto rendimento. Uma equipe de duas pessoas e um veículo consegue cobrir 1.000 hectares por dia”, destaca o diretor da Global Cana, José Francisco Garcia.
Segundo ele, nesse método, o controle passa a ser mais ágil, mais eficiente e mais preciso. “No conceito de 3% de lagartinha fora, estaríamos posicionando uma aplicação de químico justamente na terceira geração da praga, ou seja, no pior momento do ano: o período úmido. Enquanto que, na metodologia de armadilhas, a cana já estará ‘blindada’ pelos químicos no momento em que a lagartinha estiver saindo do ovo, gerando redução da penetração.”
As armadilhas devem ser colocadas a cada 50 hectares e avaliadas após três ou quatro dias
Foto: Divulgação FMC
Garcia explica que as armadilhas devem ser colocadas a cada 50 hectares e avaliadas após três ou quatro dias. “Nesse método, qualquer pessoa conseguirá contar o número de machos por armadilha. Diferente da lagarta pequena, que depende de prática para a realização do acompanhamento”, observa.
Com 10 ou mais machos por armadilha – que foram atraídos pelas fêmeas presas na estrutura -, o produtor ou usina já deve entrar com métodos de controle. Os químicos podem ser aplicados de seis a sete dias após o levantamento. Já as liberações de Cotesia flavipes ou de Trichogramma galloi precisam ocorrer até, no máximo, 10 dias após a identificação do pico de adultos.
Sucesso no controle da broca depende de uma série de ferramentas
Uma vez amostradas as áreas, é hora de entrar com os métodos de controle, que devem começar com os químicos e terminar com os biológicos (Cotesia flavipes e Trichogramma galloi). Para José Francisco Garcia, da Global Cana, os químicos consistem na principal ferramenta de manejo, porque “blindam" os colmos da cana, reduzindo sensivelmente a penetração das lagartas. “A ‘blindagem’ dos colmos pelo manejo químico atinge nível de controle por volta de 80% quando ocorre a utilização do produto correto – sistêmico e com alto residual - em primeira aplicação”, ressalta.
Para José Francisco Garcia, os químicos consistem na principal ferramenta de manejo, porque “blindam" os colmos da cana
Foto: Leonardo Ruiz
Após essa etapa, haverá ainda a penetração de algumas lagartas, que serão posteriormente parasitadas pela Cotesia flavipes. O nível de parasitismo varia de 30% a 40%. Apesar do resultado satisfatório, é preciso considerar que ocorre algum dano para a planta. “A Cotesia flavipes deverá ser utilizada o ano todo, havendo melhores resultados na época seca e fria, pois possibilita melhores voos dos adultos desse parasitoide devido à falta de umidade na lavoura e temperaturas amenas”, comenta o diretor da Global Cana.
O nível de parasitismo da Cotesia flavipes varia de 30% a 40%
Foto: Divulgação Global Cana
Já o Trichogramma galloi - um parasitóide de ovos - deverá ser usado apenas no período úmido, ou seja, no final e começo do ano, isso em anos normais – recomenda. “Na época seca, há forte redução da viabilidade dos ovos devido à forte desidratação destes, bem como intensa ação de predação realizada por formigas carnívoras e outros predadores”, esclarece Garcia.
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