A hora e a vez da vinhaça localizada
08-03-2022

A vinhaça com aplicação localizada com pingentes tem se mostrado cada vez mais uma opção para aumento do raio médio e da área aplicada. Crédito foto: CanaOnline
A vinhaça com aplicação localizada com pingentes tem se mostrado cada vez mais uma opção para aumento do raio médio e da área aplicada. Crédito foto: CanaOnline

Estamos finalmente falando da vinhaça como fertilizante líquido, numa qualidade de aplicação, distribuição e operação muito superior à anterior

*René Sordi

A recente crise de aumento de preço e escassez de fertilizantes, notadamente o potássio, deve afetar a nossa agricultura, inclusive o setor da cana. Porém temos uma “carta na manga” que é a vinhaça. E a vinhaça com aplicação localizada com pingentes tem se mostrado cada vez mais uma opção para aumento do raio médio e da área aplicada, e consequentemente colaborado para reduzir a dependência do KCl importado.

Além disso tem colaborado, através dessa maior dispersão, para se resolver o problema de saturação de K de muitas áreas no entorno das usinas, que outrora recebiam pesadas doses desse insumo, pois a dinâmica e equilíbrio desse nutriente nos nossos solos é muito rápida.

Com teores médios em torno de 3 a 4 kg de K2O/ m3 de vinhaça produzida, aplicações localizadas de 30 a 40 m3/ha suprem a necessidade desse nutriente na maior parte dos ambientes de produção, mas sobretudo permite o seu enriquecimento, com a mistura de outros nutrientes e até mesmo de outros insumos como inseticidas, agentes biológicos e promotores de crescimento.

Estamos finalmente falando da vinhaça como fertilizante líquido, numa qualidade de aplicação, distribuição e operação muito superior à anterior. De quebra, em algumas regiões, a aplicação localizada colabora para a diminuição do problema da mosca dos estábulos. E até mesmo do odor...

Alguns pontos de atenção devem ser considerados. Em algumas usinas, principalmente aquelas destilarias autônomas que ainda só produzem etanol, os teores de K na vinhaça podem ser bem menores, sugerindo uma complementação ou aumento de dose ou número de aplicação. Como é mais uma operação de tráfego nos canaviais, deve-se primar pelo uso de GPS para evitar o pisoteio e pneus de alta flutuação nos tratores e tanques aplicadores, para diminuir a compactação do solo. A associação com o conceito de “canteirão”, onde a rota de tráfego é sempre a mesma, é muito bem-vinda.

Deixo uma pergunta que sempre faço nas minhas palestras ou discussões sobre esse assunto: quem já adentrou num talhão de cana durante ou logo após a aplicação de vinhaça por aspersão?

Aqueles que ainda não o fizeram, podem e devem fazê-lo num talhão com vinhaça localizada, e vão entender essa minha provocação final.

*René Sordi – Consultor Técnico - EneRcana - tecnologia e inovação