A irrigação por gotejamento como peça-chave na jornada pela sustentabilidade ambiental
11-07-2023
Tecnologia pode ser trunfo para reduzir a pegada de carbono envolvida na operação agrícola
Por Leonardo Ruiz
Dados preliminares de 2022 do “Global Carbon Project” indicam um aumento de 1% nas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) no mundo na comparação com 2021. Nesse período, apenas China e União Europeia registraram diminuição de suas emissões. O restante dos países, especialmente Índia e Estados Unidos, viram seus níveis crescerem, fato que vai na contramão dos acordos assinados durante as últimas conferências internacionais sobre mudança do clima.
Nesse cenário, o Brasil se apresenta como um dos maiores emissores do mundo. Lançado em novembro do ano passado, o relatório do Observatório do Clima apontou que as emissões nacionais de GEE em 2021 atingiram a maior alta dos últimos 19 anos. Foram 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2e (uma unidade que engloba todos os gases do efeito estufa) naquele ano, um volume 12% maior do que o registrado em 2020. Os dados de 2022 ainda não foram divulgados, no entanto, a expectativa é de aumento nesses números.
A Mudança de Uso da Terra (MUT) é o principal vilão dessas emissões, seguido pelo setor agropecuário. No entanto, especialistas afirmam que os dois segmentos estão interligados, uma vez que quase a totalidade das emissões brutas do desmatamento é resultado da abertura de novas áreas para a agropecuária. Calagem, queima de resíduos agrícolas, fermentação entérica, manejo de dejetos de animais, cultivo de arroz, aplicação de ureia e de fertilizantes contendo carbono estão entre os processos poluentes ligados a esses setores.
Diante desses números, o Brasil é cobrado para desenvolver uma agenda mais ambientalmente sustentável. No campo, práticas como plantio direto, rotação de culturas e sistemas ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) já são utilizadas, sequestrando carbono da atmosfera e, consequentemente, diminuindo as emissões de GEE. Mas, ainda há espaço para mais.
A irrigação eficiente é uma técnica que pode auxiliar na redução da pegada de carbono, especialmente por verticalizar a produção e, dessa forma, reduzir a necessidade de abertura de novas áreas
Foto: Divulgação Netafim
A irrigação eficiente é uma técnica que pode auxiliar nesse objetivo, especialmente por verticalizar a produção e, dessa forma, reduzir a necessidade de abertura de novas áreas. Dentre todas as modalidades de irrigação, o gotejamento é o que proporciona os melhores resultados.
Essa tecnologia alia baixo volume a alta frequência, entregando as quantidades ideais de recursos hídricos, fertilizantes e defensivos agrícolas de acordo com as fases de cada cultivo, no momento certo e diretamente nas raízes das plantas, maximizando a produtividade agrícola ao mesmo tempo em que contribui para uma ampla redução da pegada de carbono envolvida na operação.
Pioneira e líder mundial em soluções para irrigação, a Netafim possui a tecnologia de irrigação localizada certa para sua lavoura. Para cana-de-açúcar, a empresa conta com dois tipos de tecnologia de gotejo. Em canaviais comerciais, é recomendada a irrigação por gotejamento subterrânea. Já em viveiros (Cantosi ou Meiosi), é possível instalar tubos gotejadores de forma superficial e movê-los para novas áreas sempre que necessário. Ambas as soluções podem ser instaladas de pequenos a grandes canaviais.
Como a irrigação por gotejamento pode auxiliar na redução da pegada de carbono?
O Painel Intergovernamental da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas durante a COP27 afirmou que uma redução de 43% nas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) até 2030 é necessária para limitar o aquecimento da Terra a 1,5 graus Celsius acima das temperaturas pré-industriais. Grandes empresas e segmentos da economia mundial já se comprometeram em adotar ações mais ambiciosas para o cumprimento dessas metas, como o fim do desmatamento.
O segmento bioenergético sempre foi pioneiro e líder na adoção de práticas ambientalmente sustentáveis. O Programa Nacional do Álcool (ProÁlcool), de 1975, é considerado até hoje um dos maiores programas mundiais de substituição em larga escala dos derivados de petróleo. A partir dos anos 2000, o setor também intensificou suas ações para o fim da queima pré-colheita, através da criação do Protocolo AgroAmbiental. Sem falar que hoje a cana-de-açúcar é também matéria-prima para a produção de bioeletricidade, biogás, biometano, Etanol de Segunda Geração (E2G) e de plásticos biodegradáveis.
No campo, usinas e agrícolas também apostam em práticas de manejo que auxiliem na redução da pegada de carbono envolvida na operação, como o uso de biológicos e a rotação de culturas. Outra ferramenta que está contribuindo significativamente é a irrigação por gotejamento, que além de atuar na diminuição das emissões de GEE, tem o poder de impulsionar a produtividade agrícola das áreas em até 50% em “anos normais” e em até 80% em safras de alto déficit hídrico.
Redução do consumo de diesel, menor consumo de energia elétrica e fim da necessidade de abertura de novas áreas estão entre as formas que a irrigação por gotejamento pode auxiliar na diminuição da pegada de carbono da operação agrícola
Foto: Arquivo pessoal
A Professora Associada da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) e Assessora Técnica da Superintendência da Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), Tamara Maria Gomes, explica que a irrigação por gotejamento contribui de várias formas para a redução da pegada de carbono.
A primeira delas é por meio da diminuição do consumo de diesel. “Como é possível aplicar fertilizantes e defensivos diluídos na água da irrigação, além de vinhaça (em baixas porcentagens), prática conhecida como fertirrigação, haverá uma significativa redução do uso de máquinas agrícolas e, até mesmo, de aviões.”
Situação semelhante ocorre com os herbicidas. Como a irrigação por gotejamento concentra-se no sistema radicular da cultura, ocorre uma redução da área molhada do solo, inclusive nas entrelinhas. Dessa forma, a tecnologia promove condições desfavoráveis ao crescimento de plantas daninhas ao mesmo tempo em que favorece uma boa brotação e desenvolvimento do canavial, que fechará antecipadamente, sombreando a área. Pela redução da competição, haverá menor necessidade de aplicação de herbicidas e, consequentemente, de operações tratorizadas.
Operações tratorizadas emitem grandes volumes de GEE na atmosfera. Irrigação por gotejamento pode atenuar esses números
Foto: Leonardo Ruiz
Por preconizar aplicação de água diretamente nas raízes da cultura com baixa pressão e vazão, a irrigação por gotejamento também demanda menos energia elétrica para sua operação. Dessa forma, caso a fonte seja proveniente de matrizes não renováveis, ocorrerá a redução da pegada de carbono. “Lembrando que a porcentagem de melhoria da eficiência energética dependerá de vários fatores, como potência da motobomba e topografia das áreas.”
O aumento expressivo de produtividade agrícola proporcionado pela tecnologia reduz a necessidade de ampliação de área ou novos arrendamentos. Vertente que atua diretamente na atenuação das emissões de GEE da categoria de Mudança do Uso da Terra (MUT), responsável por mais de metade das emissões brasileiras nos últimos anos.
Uso mais eficiente dos recursos hídricos e as demais externalidades positivas da irrigação por gotejamento
A irrigação por gotejamento se sobressai sobre as demais modalidades por sua maior eficiência no consumo e uso dos recursos hídricos. Quem explica é a Pesquisadora Científica do Centro de P&D de Biossistemas Agrícolas e Pós-colheita e Vice-Diretora Geral do Instituto Agronômico (IAC), Regina Célia de Matos Pires. “Essa tecnologia, quando instalada de forma subsuperficial (subterrânea), alcança uma eficiência no uso de água de quase 100%, pois suas mangueiras estão posicionadas próximas ao sistema radicular da cana-de-açúcar, fazendo a aplicação com baixo volume, mas de forma localizada e concentrada. Dessa forma, não há molhamento das plantas ou da superfície do solo, reduzindo a perda por evaporação.”
Regina Célia de Matos Pires. “A irrigação por gotejamento, quando instalada de forma subsuperficial (subterrânea), alcança uma eficiência no uso de água de quase 100%”
Foto: Arquivo pessoal
Para efeito de comparação, a aspersão – modalidade bastante comum de irrigação - alcança uma eficiência de 80% a 85%. Nesse sistema, um canhão “lança” água pelo ar, que se dissipa em gotículas, caindo por cima das plantações como uma chuva comum. No entanto, ao serem projetadas, essas gotículas podem acabar facilmente sendo arrastadas pelo vento ou evaporadas antes de alcançarem a lavoura. Grande porcentagem dessa água pode ainda ficar retida sobre as folhas, não chegando ao alvo principal: as raízes.
Outro benefício citado por Regina é a potencialização da eficiência dos demais tratos conduzidos na área. A pesquisadora salienta que a possibilidade de aplicar moléculas químicas e orgânicas e produtos biológicos através dos mesmos equipamentos de injeção de água permite aprimorar a adubação convencional, aplicando parte dos nutrientes na região do sistema radicular de forma parcelada e ao longo de todo o ciclo da cultura, visando suprir toda a necessidade da planta para seu pleno desenvolvimento e produção. Além de uma cana mais vigorosa e produtiva, essa prática também reduz custos de aplicação, evita a alta salinidade causada pelo uso excessivo de fertilizantes e impede a lixiviação e, consequentemente, a perda dos produtos aplicados.
Potencialização da eficiência dos tratos culturais pela possibilidade de aplicar moléculas químicas e orgânicas e produtos biológicos através dos mesmos equipamentos de injeção de água é outro benefício da irrigação por gotejamento
Foto: Divulgação Netafim
A maior produtividade entregue pelo gotejamento também tem o poder de melhorar as Notas de Eficiência Energética-Ambiental (NEEAs), responsáveis pela quantidade de Créditos de Descarbonização (CBIOs) que poderão ser gerados pelas usinas de cana-de-açúcar dentro do âmbito do RenovaBio. Ocorre que a verticalização da produção dilui o consumo de fertilizantes sintéticos e diesel por tonelada de cana produzida. No final, esse fato se traduzirá em melhores notas e, consequentemente, em maior geração de CBIOs, comercializados em 2022 a um preço médio unitário de R$ 111,63.
Aumento da longevidade das áreas, estabilidade na produção, elevação da cogeração de energia e redução dos gastos com CTT (Corte, Transbordo e Transporte) figuram entre as outras externalidades positivas da irrigação por gotejamento.

