ACP Bioenergia dá primeiro passo em cultivo de grãos e algodão na Caatinga
16-10-2025

Pivôs de irrigação da Germina Baixio no Baixio do Irecê, na Bahia: parceria com ACP prevê plantio em 15 mil hectares — Foto: Divulgação
Pivôs de irrigação da Germina Baixio no Baixio do Irecê, na Bahia: parceria com ACP prevê plantio em 15 mil hectares — Foto: Divulgação

Companhia de origem paulista firmou parceria com a Germina Baixio, do grupo Equipav, para criar polo agrícola irrigado em Xique-Xique e Itaguaçu, na Bahia

Por Camila Souza Ramos — São Paulo

A ACP Bioenergia, uma das maiores empresas agrícolas do país, que produz em 125 mil hectares de terras no Cerrado e na Amazônia e tem receita líquida anual de R$ 750 milhões, está agora dando seu primeiro passo na Caatinga. A companhia firmou uma parceria com a Germina Baixio, do grupo Equipav, para viabilizar a produção de grãos e algodão em uma área de 15 mil hectares localizada entre os municípios de Xique-Xique e Itaguaçu, no sertão baiano.

Conhecida como Baixio do Irecê, a região é uma das áreas no Vale do Rio São Francisco em que a Germina Baixio obteve concessão da Codevasf para instalar um projeto de irrigação. Na parceria agrícola, a Germina Baixio entrará com a infraestrutura de irrigação, e a ACP atuará com seu conhecimento de gestão de agricultura.

Esse é o décimo polo de produção agrícola da ACP, empresa dos irmãos Alexandre e André Candido de Paula, que desde 2021 têm como sócio minoritário o empresário Dimitrios Markakis. A empresa começou como uma fornecedora de cana-de-açúcar para a então Destilaria Alcídia e chegou a ser dona da usina, mas saiu do negócio industrial em 2013, e desde então vem ampliando suas operações agrícolas. A partir de 2014, a companhia passou a instalar um novo polo de produção por ano. A ACP começou sua jornada no mercado de grãos em 2019 já no Matopiba, mais especificamente em Tocantins.

O novo polo de produção na Bahia é o terceiro voltado a grãos, mas será o primeiro no bioma que é o mais desafiador do Brasil para a agricultura — e o primeiro a utilizar irrigação em toda a área. Até então, a área era tomada pela vegetação da Caatinga. O plano é replicar no médio São Francisco o mesmo modelo de agricultura que floresceu em Petrolina, onde a irrigação converteu a região no maior polo de produção de frutas do Brasil.

“Devemos operar nos primeiros quatro anos com soja, milho e feijão. Depois, vamos alternar com algodão”, conta Alexandre Candido de Paula. A produção da pluma é o grande objetivo para o sertão baiano da ACP, que planeja exportar a pluma pelo porto mais próximo, de Salvador. Mas, antes, é preciso “amansar a terra” para deixá-la preparada para o algodão, explica.

“Vai levar de três a quatro safras para adaptar o solo e revitalizar”, afirma. A ACP já começou os trabalhos de correção de solo, e nesta primavera começa a dar início aos plantios de grãos em uma área coberta por pivô de mil hectares. A ideia é plantar soja para a colheita de verão e milho para a colheita de inverno. Na safra seguinte, a ACP pretende plantar grãos em uma área de 3 mil hectares irrigados, e ir aumentando progressivamente até alcançar os 15 mil hectares.

Quando as áreas tiverem alcançado quatro ciclos de produção, a ACP começará a plantar algodão no quinto ano. Até lá, já deverão estar prontos o armazém e a algodoeira que a Germina Baixio irá construir como parte da infraestrutura agrícola da região. Também deverá estar pronta a fábrica de insumos biológicos que a ACP pretende implantar nesse polo, aos moldes do que já faz em seus outros nove polos agrícolas.

Candido de Paula explica que a busca pelo sertão baiano faz parte da estratégia da ACP de diversificação geográfica e de culturas. “Sempre buscamos oportunidades de novas fronteiras de regiões em desenvolvimento. E ali é uma região que não tem nada de desenvolvimento. É uma região com bastante oportunidade para ser desenvolvida”, justifica.

Segundo ele, os dias longos, a elevada incidência de luz solar, as altas temperaturas e, agora, a irrigação compõem uma equação que ele descreve como um “privilégio” para quem quer produzir. Por fim, existe a facilidade logística. Enquanto áreas no Matopiba ou em Mato Grosso dependem de longos trajetos de rodovia e ferrovia, o Baixio do Irecê está a 450 quilômetros do porto de Salvador.

Todo esse “privilégio” tem um custo, ao menos para os pioneiros. Candido de Paula diz que o investimento para converter o solo da Caatinga deve ficar entre R$ 8 mil e R$ 9 mil o hectare, mas vai se concentrar no primeiro plantio. Depois disso, avalia, só será necessário um custo de manutenção das condições de solo a cada quatro ou cinco anos, em um valor de 10% a 15% do custo inicial.

O plano da ACP prevê que as lavouras de algodão no Baixio do Irecê tenham potencial de alcançar uma produtividade de 380 arrobas por hectare a partir do terceiro ano, mas ainda não há lavouras próximas de algodão para se comparar. Em Luís Eduardo Magalhães (BA), as plantações irrigadas de algodão rendem cerca de 400 arrobas por hectare.

No cultivo de grãos, a expectativa da empresa é começar com um rendimento de 65 sacas de soja por hectare e ir aumentando até alcançar um potencial máximo de 95 sacas por hectare. No oeste baiano, a produtividade média do grão na última safra foi de 68 sacas por hectare.

Fonte: Globo Rural