Açúcar recua ao menor patamar em quatro anos e mercado global reforça cenário de superávit
30-10-2025

Relatório da XP aponta aumento do foco das usinas no etanol diante da volatilidade internacional

Por Andréia Vital

O mercado global de açúcar atravessa um novo ciclo de baixa, com as cotações atingindo o menor nível em mais de quatro anos. Segundo o relatório semanal Radar Agro, elaborado pela XP Investimentos, o recuo é resultado direto da oferta abundante, da expectativa de superávit global para a safra 2026/27 e de uma demanda enfraquecida por fatores estruturais.

O estudo destaca que, na safra 2025/26, os dados mais recentes da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) apontam crescimento de 0,8% na produção acumulada de açúcar até 1º de outubro, revertendo parcialmente a queda de 12% registrada no início de agosto. A melhora reflete o avanço da moagem no Centro-Sul e a recuperação gradual da produtividade agrícola. Para a safra seguinte, 2026/27, a previsão é de chuvas mais regulares em São Paulo, o que deve favorecer os níveis de umidade e contribuir para a estabilidade das lavouras.

Durante a “Sugar Week”, realizada na última semana, em São Paulo, o setor reforçou as projeções de um novo superávit global de açúcar em 2026/27, resultado de safras robustas em importantes países produtores. O relatório também aponta que a demanda internacional vem sendo afetada pela popularização dos medicamentos GLP-1, que reduzem o consumo de açúcar entre usuários, fator que pressiona as cotações no médio prazo.

Diante do cenário de preços baixos, usinas brasileiras têm intensificado a produção de etanol, aproveitando a melhor paridade de preços em relação ao açúcar. Ainda assim, há preocupação no mercado quanto à possível retirada de tarifas sobre o etanol americano pelos Estados Unidos, o que poderia alterar a dinâmica competitiva e afetar exportações brasileiras.

A XP destaca que a recente alta do petróleo, que voltou a superar os US$ 65 por barril, pode oferecer algum suporte às cotações do etanol e, por consequência, limitar as perdas no açúcar. No entanto, o movimento ainda é insuficiente para reverter a tendência de baixa observada no mercado internacional.

Entre os fatores de influência, o relatório lista os fatores baixistas: boas perspectivas de chuvas em São Paulo e continuidade da moagem positiva no Centro-Sul em outubro. Já entre os fatores altistas, o destaque fica para o avanço dos preços do petróleo, que pode melhorar a atratividade do biocombustível frente ao adoçante.

Com a combinação de oferta elevada, estoques confortáveis e ajustes no consumo global, o açúcar enfrenta um dos períodos mais desafiadores desde 2021. O setor, contudo, vê na diversificação para o etanol e na valorização energética do produto caminhos para equilibrar o impacto da atual conjuntura de preços.