Açúcar recupera preços com ajuste de expectativas e etanol assume papel central no balanço do setor
19-12-2025

Safra mais resiliente no Centro-Sul e entressafra reforçam dependência do mercado em relação ao biocombustível

Por Andréia Vital

A recuperação dos preços do açúcar em novembro refletiu menos uma mudança nos fundamentos e mais um ajuste nas expectativas do mercado, segundo o boletim Agro Mensal de dezembro de 2025 da Consultoria Agro do Itaú BBA. O açúcar bruto negociado na bolsa de Nova York subiu 5,4% no mês e encerrou novembro a 15,21 centavos de dólar por libra-peso. Nos primeiros dias de dezembro, porém, as cotações voltaram a oscilar abaixo de 15 centavos diante de notícias positivas sobre o avanço da safra indiana

No Centro-Sul do Brasil, a safra 2025/26 mostrou desempenho mais resiliente do que o inicialmente projetado. Até 15 de novembro, a moagem acumulou 576 milhões de toneladas de cana, queda de apenas 1,3% em relação ao mesmo período da safra anterior. A produção de açúcar, por sua vez, atingiu 39,2 milhões de toneladas, alta de 2,1% na comparação anual. Com a melhora dos indicadores de produtividade agrícola e da concentração de sacarose ao longo da safra, o Itaú BBA revisou a estimativa de moagem para 605 milhões de toneladas, recuo de 2,7% frente a 2024/25, enquanto a produção de açúcar foi ajustada para 40,4 milhões de toneladas, avanço de 0,6%

O ATR médio foi estimado em 137,8 kg por tonelada de cana, retração de 2,4% na comparação anual. Já o mix açucareiro subiu para 50,9%, ante 48,1% na safra anterior. Esse conjunto de ajustes levou à revisão do balanço global, com expectativa de superávit de 2,7 milhões de toneladas de açúcar na safra 2025/26, ampliando a dependência do mercado em relação às decisões de produção de etanol no Brasil.

No mercado de etanol, o relatório aponta continuidade da tendência de alta dos preços nos próximos meses, sustentada pela redução da oferta durante a entressafra da cana. A maior parte das usinas do Centro-Sul já encerrou ou está em fase final da colheita 2025/26, movimento que historicamente pressiona os preços do biocombustível para cima

A produção total de etanol no Centro-Sul foi estimada em 33,6 bilhões de litros em 2025/26, queda de 3,9% em relação à safra anterior. O etanol de cana deve somar 24,1 bilhões de litros, recuo de 10,1%, enquanto o etanol de milho mantém trajetória de expansão e deve alcançar 9,6 bilhões de litros, alta de 16,6% na comparação anual. Apesar da redução no total produzido, o volume é quase 1 bilhão de litros superior à estimativa anterior da consultoria.

Para equilibrar o mercado, o consumo doméstico de etanol hidratado precisará recuar de uma média mensal de 1,65 bilhão de litros no quarto trimestre de 2025 para cerca de 1,41 bilhão de litros por mês no primeiro trimestre de 2026. Nesse cenário, a paridade do etanol frente à gasolina tende a subir. A estimativa do Itaú BBA é de paridade média de 69% no estado de São Paulo na safra 2025/26, acima dos 66% observados em 2024/25, o que deve manter os preços do hidratado acima de R$ 3,00 por litro em Paulínia no início de 2026.

Para a safra 2026/27, o boletim projeta expansão da oferta. A produção de etanol de cana pode atingir 26,1 bilhões de litros, alta de 8,4%, enquanto o etanol de milho deve chegar a 10,8 bilhões de litros, avanço de 12,6%. A produção total estimada é de 36,8 bilhões de litros, crescimento de 9,6% frente a 2025/26, reforçando o papel do etanol como principal variável de ajuste do mercado de açúcar no médio prazo