Adamantina - SP adere ao projeto Barraginhas criado pela Embrapa Milho e Sorgo de Sete Lagoas
21-08-2025

Parceria ocorreu durante o 2º Encontro de Produtores Rurais de Adamantina e Região

A prefeitura de Adamantina – SP realizou no dia 15 de agosto, no Sítio Jerivá, o evento para agricultores do município e da região do Oeste paulista. Um dia de campo para apresentar aos produtores rurais a tecnologia social da Barraginhas e da Curva de Nível com Cochinho, ambas técnicas desenvolvidas pelo pesquisador e engenheiro agrônomo Luciano Cordoval, da Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lagoas, Minas Gerais, para ajudar na conservação do solo e da água.

A técnica consiste em guardar a água da chuva a partir de estruturadas escavadas no solo, de até no máximo 2 metros de profundidade, construídas com máquinas, podendo ser retroescavadeira, escavadeira hidráulica, pá-carregadeira e (ou) até tratores de esteira. Com custo baixo e simples de fazer.

“O ideal é que as barraginhas sejam construídas em pontos estratégicos escolhidos pelo próprio agricultor como forma de controlar a erosão. Ninguém melhor que o produtor rural para conhecer a propriedade. Ele que define junto com o técnico e o operador os locais onde serão construídas as barraginhas para tentar ser o mais assertivo possível”, ressalta Márcio Menon Menegussi, especialista em barraginhas.

Menegussi tem viajado o Brasil como disseminador das Barraginhas pelo estado do Espírito Santo, levando capacitação e treinamento aos municípios que aderem ao projeto. Em Adamantina, chegou no início da semana para o Dia de Campo. No primeiro dia, percorreu a pé junto com o pecuarista José Francisco Gil, 74 anos, toda a área para fazer o diagnóstico da propriedade rural.

“E para minha surpresa eu encontrei várias barraginhas construídas, umas 30 mais ou menos, que o seu Gil já havia feito com recurso próprio quando comprou o sítio. Agora, com a criação do programa que Adamantina está implantando, será possível fazer novas barraginhas e corrigir aquelas que precisarem nesta propriedade que foi escolhida como unidade demonstrativa do projeto”, explica.

O uso das técnicas básicas de conservação do solo pelo pecuarista de Adamantina nos 60 hectares da propriedade motivou a escolha para sediar o 2º Encontro de Produtores Rurais e lançamento do projeto Barraginhas no município. Devido a todo o processo de recuperação de pastagem e solo degradados, as estruturas são uma alternativa segura para guardar a água da chuva na propriedade rural através das escavações no solo.

“Eu comecei a construir essas primeiras barraginhas assistindo aos vídeos lá da Embrapa Sete Lagoas, pesquisando na internet. Há muito tempo que eu queria reter a água da chuva. Eu já tinha esse sonho desde 1991, quando eu comprei uma propriedade lá em Bonito - MS. Então, sugeri ao secretário de Agricultura de Adamantina para fazermos uma visita a Sete Lagoas. Então, o Luciano Cordoval sugeriu, ao invés, de irmos para Minas Gerais o Márcio vir pra cá”, conta. “A vinda do Márcio é importante porque ele está capacitando os operadores de máquinas, aplicando o princípio correto da técnica e corrigindo aquelas barraginhas que precisam ser melhoradas”, conclui satisfeito o pecuarista.

Cordoval é considerado o pai das Barraginhas. “O seu José Francisco Gil me ligou e começou a fazer as barraginhas a maneira dele. E mais ou menos 1 ano atrás o secretário municipal de agricultura de Adamantina, Luis Henrique Fernandes, me liga e fala assim: ‘Ó Luciano aqui está faltando água, ganhei uma máquina zerada só para fazer barraginha’. Como é que faz para a Embrapa fazer uma capacitação para nós. Combinei que assim que surgisse uma capacitação aqui em Minas Gerais encaixaria ele. Mas na semana do curso eu tive uma recaída de um problema de saúde e tivemos que cancelar a viagem deles. Como eu havia falado do Márcio para ele, neste interim, surgiu o programa e o dia de Campo em Adamantina. É como eu gosto de dizer as barraginhas são como uma irmandade que vai crescendo igual uma bola de neve. Um pequeno cometa que só vai aumentando a sua cauda’”, comemora.

As Curvas de Nível com Cochinhos são outra tecnologia social a serviço do campo desenvolvida pela Embrapa, através de Cordoval, para guardar a água da chuva. Com isso as curvas de nível convencionais da propriedade do seu Gil ganharam mais esse incremento de indução da água da chuva. “São células de 6 a 8 m de comprimento por 0,80 a 1,5 m de largura ou largura da concha, e 0,50 a 0,70 cm de profundidade escavados com a concha da máquina e pequenas elevações maciças entre cochinhos, rebaixadas em 15 cm, chamadas de travesseiros para permitir o escoamento lento da água armazenada entre as células/cochinhos vizinhos durante a chuva”, detalha Menegussi.

A capacitação técnica ensinou o passo a passo para construção na prática das duas técnicas. Aberta a operadores de outras cidades vizinhas a Adamantina, aproximadamente 50 profissionais participaram das práticas no campo ministradas por Menegussi e seu operador-assistente Robson José de Azevedo Silva. “Recebi o convite e trouxe dois operadores para aprenderem mais sobre técnica de construção da barraginha, porque lá no meu município é uma demanda diária dos nossos produtores rurais”, disse o técnico Angelo Morales, da Casa da Agricultura de Sagres.

Pela Legislação Ambiental, as barraginhas não podem ser construídas dentro de Reserva Legal nem em Área de Preservação Ambiental. Além disso, as escavações são construídas com um raio de 8 a 15 metros, diâmetro de 16 a 30 metros de circunferência, 90% delas tem raio de 8 m, são mais raras as maiores, somente quando o produtor diz: esta enxurrada é grande, igual uma enchente.

E não é indicado que tenham mais do que dois metros de profundidade. Para a sua marcação, o agricultor necessita de uma trena para medir o espaço e um aparelho para aferir o nível máximo da água com a crista do aterro, esta deve estar em torno de um metro acima do nível da água, para não correr risco de rompimento. Se mede com aparelho, ou uma mangueira de água de pedreiro, e constrói com máquina e o operador capacitado para realizar o serviço. O tempo médio de construção delas é de 3 a 4 horas com retroescavadeira. E 35 metros lineares de Cochinhos por hora.

Atílio Vivacqua, no Espírito Santo, já construiu mais de 1.000 barraginhas. Márcio ocupa o cargo de secretário municipal de Meio Ambiente no município capixaba e está à frente do projeto desde o seu início em 2018. De um tempo pra cá, é uma espécie de clone das Barraginhas, viaja o país afora levando a tecnologia social aos municípios brasileiros. “Sempre que surge o convite como o daqui, vamos até a região apresentar o projeto aos agricultores. Recentemente estive em Rondônia, Pará, Mato Grosso, Rio de Janeiro e agora São Paulo, mas já visitei bastante estados da Federação, propagando e difundindo os princípios e as técnicas de construção das barraginhas, bem como realizando as capacitações”, contextualiza.

Em cada região do Brasil uma realidade diferente. Se no Espírito Santo construir as barraginhas entre montanhas a 1.000 metros de altitude, parece desafiador. No interior paulista, por exemplo, o relevo e o tipo de solo chamaram atenção de Menegussi: “são solos mistos com areia e argila, muito sensíveis, suscetíveis à erosão se não tiver uma boa cobertura vegetal e aplicadas as técnicas básicas de conservação de solo e água. Mas é um terreno com uma topografia boa para fazer barraginha. Apesar desta época do ano o solo estar muito seco, o que dificulta um pouco o trabalho da máquina e a vida do operador. O ideal é construir as barraginhas com o solo um pouco mais úmido”.

Aluno do curso de mestrado profissional em Agroecologia do Instituto Federal do Espírito Santo (Campus de Alegre), o especialista em barraginhas está compilando os dados obtidos nesta trajetória em seu estudo acadêmico com o monitoramento da infiltração de água no solo de barraginhas construídas na zona rural de Atílio Vivacqua, cidade natal. Avaliando os benefícios e recarga ao lençol freático com a introdução das “panelinhas”, como também são conhecidas as escavações no solo, bem como publicar um manual das Barraginhas para o produtor rural através de sua dissertação no mestrado para que o projeto Barraginhas tenha o maior alcance possível.

Em Adamantina graças ao apoio do Poder Público, o projeto Barraginhas será implementado no município beneficiando os produtores rurais. A iniciativa partiu da prefeitura municipal, através da Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento e Meio Ambiente. “Fiz esse contato com o Luciano, da Embrapa Sete Lagoas, para nos ajudar nesse trabalho. E através dele conseguimos trazer o Márcio, que é o clone do projeto, um especialista no assunto, para vir a Adamantina treinar e capacitar nossos operadores, usando os princípios dessa técnica para melhorar a produtividade dos nossos produtores rurais e sustentabilidade no campo”, descreve Luis Henrique Fernandes, secretário responsável pela pasta.

O governo de São Paulo doou uma retroescavadeira nova ao projeto Barraginhas, por meio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado. A máquina será incorporada ao programa municipal “Frota Agrícola”. E o “Programa Municipal de Conservação de Solo”, que institui o projeto Barraginhas em Adamantina será implementado através da criação de uma lei ou decreto pelo chefe do Executivo Municipal.

“Essa é uma tecnologia que vai impactar diretamente o campo e a vida dos nossos produtores rurais, melhorando a qualidade do solo e os recursos hídricos disponíveis para aumentar da produção das famílias agricultoras. E é, por isso, que quando o nosso secretário municipal [Luis Henrique Fernandes] falou da sua amplitude, nós resolvemos abrir esse evento para que os municípios vizinhos também usufruem desses benefícios para o agro”, enfatizou José Carlos Martins Tiveron, prefeito de Adamantina.

“Inovaçoes em Barraginhas e Manejo Sustentável”

Com esse tema, o Dia de Campo totalmente gratuito reuniu cerca de trezentos participantes entre produtores rurais, técnicos agrícolas, estudantes, agrônomos, órgãos públicos e privados, prefeituras, sindicato rural de Adamantina, CATI, Rede ILPF, APTA, FAESP, SENAR, SEBRAE, FAI, cooperativas e TV Fronteira (Afiliada à Rede Globo). Uma oportunidade de aprender mais sobre o projeto Barraginhas. Numa das quatro estações, o visitante viu na prática como a técnica milenar de guardar água da chuva, tropicalizada ao meio rural brasileiro pela Embrapa, funciona.

“Vocês agricultores são privilegiados de participar de um projeto como esse de cuidar do solo, que é o maior patrimônio de uma propriedade. Os produtores rurais de Adamantina estão em outro patamar ao contar como um programa de conservação de solo e água desse porte”, disse Neimar Rotta Nagano, professor do curso da Unoeste de pós-graduação em Integração, Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF), de Presidente Prudente.

“Estou há quatro anos trabalhando com apicultura, nos dois primeiros anos praticamente não tivemos colheita de mel. Em 2023 e 2024, houve uma melhora hídrica e melhoramos nossa produção. Então, porque não ter esse sistema das barraginhas para captar essa água e termos plantas que forneçam alimento o ano inteiro para as abelhas e para os animais. Assim temos um sistema sustentável”, enfatiza Marcelo Prates, apicultor.

“Eu crio e recrio gado na minha propriedade em Mariápolis, tenho curva de nível na propriedade, barraginhas ainda não. É bom, porque segura a água na propriedade, infiltra no solo. Isso aí tem que abranger a região inteira, esparramar para outros municípios, quanto mais melhor, né”, espera o agricultor Valterci Rocha.

Modalidade: Município x Munícipio

Segundo Menegussi, o projeto Barraginhas da Embrapa tem uma modalidade onde o município que adere ao programa treina outro município da sua região interessado em implantar a tecnologia. Adamantina agora pode ajudar na capacitação e treinamento das cidades interessadas em ter as tecnologias sociais das Barraginhas e das Curvas de Nível com Cochinhos.

“Foram cinco dias intensos de muito trabalho e de capacitação, mas, também de muita esperança, ao olhar nos olhos das pessoas e ver esperança e vontade de promover a agricultura sustentável, de entender o projeto. Estou carregando isso no meu coração. As pessoas perguntando. Enfim, para mim, é muito honroso sair da minha cidade Atílio Vivacqua e vivenciar isso. Agradeço ao secretário Luis Henrique que nos recebeu tão bem e que entregou a chave da porteira, simbolicamente, ao produtor José Francisco Gil. Vou embora com o sentimento de dever cumprido”.

“Agora Adamantina passa a liderar, coordenar e a disseminar o projeto Barraginhas a essa importante região do estado de São Paulo. Muitas lideranças estavam presentes no Encontro de Produtores Rurais, os próprios operadores de máquinas são disseminadores, e essa semente foi distribuída pelas falas, exemplos e iniciativas. Não tenho a menor dúvida de que essa semente foi distribuída em terra fértil. E agora é a hora de fazer as barraginhas, fazer as vasilhas agora na seca para quando vier as chuvas de outubro encher novamente. É um processo de formiguinha que não para. Não é um processo de 1 ano, mas de geração em geração, de pai para filho e neto, e de sempre aprimorar. Descobriu uma enxurrada aqui faz uma, outra ali, faz mais, não para”, ressalta Cordoval.

Barraginhas como uma Política Pública Nacional

Outra frente de ação do projeto Barraginhas está na esfera legislativa. Um projeto de lei de autoria do padre João, deputado federal por Minas Gerais, que tramita no Congresso Nacional desde 2020, Projeto de Lei – PL 3715/2020, pretende tornar a tecnologia social uma Política Pública em âmbito nacional.

O engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Luciano Cordoval já realizou mais de 600 capacitações em 30 anos. “Logo no começo do projeto, consegui o recurso para fazer o projeto-piloto, as primeiras 1.000 primeiras barraginhas, isso há 28 anos, e o recurso também para fazer as trinta primeiras capacitações. E aí, não paramos mais, já fizemos mais de 600 capacitações diretas. E cada um que eu capacito e encanta vira um multiplicador, que passa a treinar, treinar e treinar e vira um terceirizado, passando a treinar os quarteirizados, criando assim as gerações de profissionais”, salienta.

“Eu como recebo dezenas, centenas de telefonemas, pedindo socorro do Brasil inteiro, pelo trabalho que a gente vem fazendo com a divulgação das barraginhas há mais de 30 anos, percebemos logo nos primeiros anos de caminhada que sozinho não chegaríamos a lugar nenhum neste continente brasileiro. Por isso seria preciso treinar os nossos multiplicadores com espírito voluntário. Porque todos os clones, a exemplo do Márcio, são pessoas que se doam, são apaixonadas e encantadas com o projeto Barraginhas”.

Borges Júnior: jornalista freelancer, repórter, ecologista e produtor rural que há 4 anos tem adotado a tecnologia social da Embrapa para promover uma agricultura mais sustentável. Participou do Dia de Campo de Adamantina a convite dos organizadores e como voluntário realizou a cobertura jornalística do evento para ajudar na divulgação e disseminação do projeto Barraginhas.