ADM espera aumentar vendas de fertilizantes e expande negócios para biológicos
16-12-2024

Em 2024, a ADM vendeu 60% mais fertilizantes que em 2023 — Foto: Subcom/MS
Em 2024, a ADM vendeu 60% mais fertilizantes que em 2023 — Foto: Subcom/MS

Multinacional busca diversificar o portfólio de insumos

Por Raphael Salomão e Gabriella Weiss — São Paulo

A trading de grãos Archer Daniels Midland (ADM) espera aumentar em 20% as vendas de fertilizantes no Brasil em 2025. A empresa aposta em um cenário positivo para a produção de soja e aumento das operações de troca (barter). E está expandindo também seus negócios para o segmento de biológicos, por meio de parcerias com fornecedores.

É mais um movimento na diversificação do portfólio de insumos da multinacional, que pretende começar em 2025 a fornecer sementes para a temporada 2025/26. Em parceria com “sementeiros de alta qualidade”, o plano é começar na soja e, futuramente, agregar o milho.

A empresa destaca que sementes, fertilizantes e defensivos agrícolas correspondem a 60% dos custos dos agricultores em culturas como sojamilho e algodão. Reforçando sua atuação no fornecimento de insumos, a ADM espera não apenas seguir registrando crescimento, como também consolidar a sua estratégia de ser um fornecedor confiável para os produtores rurais.

A visão da multinacional é de um “grande potencial” de crescimento nos biológicos, em meio à adoção de práticas de manejo mais sustentáveis. A movimentação financeira nesse mercado é calculada em US$ 14 bilhões em nível global e US$ 1 bilhão no Brasil. Para atual no segmento, a ADM criou uma divisão específica de negócios, chamada de “especialidades”, que inclui também produtos orgânicos.

A trading fechou parcerias com três fornecedores de bioinsumos: Biotrop, Simbiose e Mosaic Bioscience. À reportagem, detalha que os produtos da Biotrop serão distribuídos em Goiás, Mato Grosso do Sul, nos Estados da região Sudeste, Nordeste e Norte, com exceção de Rondônia. Os da Simbiose irão para Mato Grosso, Rondônia, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Em 2024, a ADM vendeu 60% mais fertilizantes que em 2023. E manteve sua participação de mercado no Brasil, estimada em 3%. A estratégia no segmento inclui parcerias com importantes fornecedores, para oferecer descontos a clientes, e com programas de fidelidade, pelos quais consegue oferecer outros tipos de benefícios. Na mesma tendência, a companhia elevou em 40% as vendas de defensivos agrícolas

Soja

Os resultados foram obtidos mesmo com os produtores enfrentando mais incertezas relacionadas aos preços de commodities agrícolas e com estimativas de margens de 10% a 15% inferiores na safra 2023/24 em relação à anterior. A quebra de produção e a baixa nos preços internacionais, no entanto, não deixaram de ter seu peso no balanço. A empresa reduziu o movimento do grão para exportação, que representa dois terços das atividades com a oleaginosa no país.

O diretor de Negócios de Originação e Insumos da ADM Brasil, Raphael Costa, explica que a movimentação de soja em 2024 foi de 10% a 15% inferior que a do ano passado. Como a quebra da safra brasileira acabou não sendo tão relevante quanto o esperado para a produção da América do Sul, os preços também caíram, o custo por tonelada aumentou e as margens da companhia ficaram mais apertadas.

O esmagamento da oleaginosa, por sua vez, foi beneficiado pelo cenário de preços mais baixos. Com sete unidades processadoras no país, a ADM operou em um cenário de redução de custos com a matéria-prima e demanda firme na indústria de carnes, pelo farelo, e de biodiesel, pelo óleo de soja.

“Na originação e exportação, fomos abaixo do esperado. No esmagamento, em linha ou até acima do esperado. Acaba não sendo 'um para um' porque, quando a exportação vai mal, tem um impacto maior, mas o esmagamento compensou em parte e ajudou a estabilizar o ano aqui no Brasil”, resume Costa.

Ainda assim, a trading se manteve com uma participação de 12% no mercado brasileiro de soja, próxima da meta, que é de 13%. A empresa não revela números absolutos de faturamento no Brasil. Informa apenas que este ano marca o quinto seguido de crescimento. A média anual de expansão tem sido de 20%.

De janeiro a outubro de 2024, a companhia processou 4,3 milhões de toneladas de soja no Brasil, 6,65% a mais que no mesmo período em 2023. E deve encerrar o ano com um aumento entre 5% e 6%, um recorde no esmagamento. A ADM envasou no período 514 mil toneladas de óleo de cozinha, aumento de 8,34% e uma nova marca histórica.

ADM vem se posicionando para ampliar essa capacidade de processamento. Em 2025, deve concluir a expansão de três plantas, com a previsão de acrescentar 400 mil toneladas por ano. O valor do investimento é mantido em sigilo e a expectativa é já contar, pelo menos em parte, com o aumento de volumes já no ano que vem.

Cenário

Raphael Costa avalia que a safra 2024/25 indica um cenário mais positivo. Mesmo com o atraso no plantio da soja, a produção deve crescer, podendo superar os 170 milhões de toneladas. A ADM deve aumentar a originação de soja para exportar. Ao mesmo tempo, as demandas das indústrias de carnes e de biodiesel devem se manter aquecidas, permitindo aumentar ainda mais o processamento do grão no Brasil.

A expectativa é ampliar as operações de barter (troca de produtos por insumos), que respondem por metade dos negócios no Brasil. Avaliação é que, vendo suas margens diminuírem, os produtores tendem a aumentar o volume de operações “hedgeadas”, minimizando, assim, sua exposição aos riscos de oscilação nos preços de insumos e produtos.

Raphael Costa explica que já houve crescimento nas operações de barter comparando 2024 com 2023. A tendência vem se mantendo na safra 2024/25 e deve continuar para a temporada 2025/26. Caso se confirmem as expectativas de safra cheia na América do Sul, os preços da soja podem ficar pressionados. E a possibilidade de ter um novo aperto nas margens deve estimular o produtor a travar os custos por meio da troca.

“Estamos vendo uma aversão maior do produtor a especular. Ele está olhando para a safra que vai colher em 2025, a margem operacional, colocando os custos dos insumos. E, olhando histórico do ano passado até agora para frente, o cenário pode piorar”, avalia o diretor de Negócios de Originação e Insumos da ADM.

Costa diz acreditar também que o atual nível da taxa de câmbio, com o dólar acima dos R$ 6, tem mais ajudado do que atrapalhado o produtor rural brasileiro. Com os preços atuais de soja na bolsa de Chicago, se a moeda americana estivesse valendo, por exemplo R$ 5,30, os preços da saca do grão estariam algo em torno de R$ 10 mais baixos que os praticados atualmente.

“O câmbio como está gera mais impacto positivo do que negativo porque os grãos, em reais, ficam mais caros. Se os insumos não tivessem sido comprados, ficariam mais caros. O problema maior é para o produtor que não travou. Se o câmbio volta ou a percepção de safra cheia se consolida, os preços caem ainda mais”, alerta.

Fonte: Globo Rural