Além da paçoca: estudo expõe a nova geografia do amendoim no Brasil
04-12-2025
Levantamento inédito mapeou a cultura responsável por movimentar R$ 18,6 bilhões na safra 2024/25
Por Sabrina Nascimento | São Paulo
Pela primeira, a cadeia brasileira do amendoim, que, além do mercado interno, abastece mais de 40 países, acaba de ser quantificada. O estudo “Mapeamento e Quantificação da Cadeia do Amendoim Brasileiro”, lançado pela Associação Brasileira do Amendoim (Abex) nesta quarta-feira, 3, revela a dimensão econômica de um setor que movimenta fazendas, indústrias e centros logísticos em todos os continentes.
Segundo o levantamento, o ciclo 2024/2025 deverá movimentar R$ 18,6 bilhões, gerar R$ 3,9 bilhões em impostos e distribuir uma massa salarial de R$ 1,4 bilhão. O Produto Interno Bruto setorial é estimado em R$ 7,6 bilhões, consolidando o amendoim como uma das cadeias mais eficientes do agronegócio nacional. “Esse número impressiona até quem vive a cadeia de perto. Mostra a força de um setor que cresce, se moderniza e absorve empregos diretos e indiretos em todos os elos produtivos”, disse Cristiano Fantin, presidente da Abex.
Fantin detalhou, em conversa com o Agro Estadão, que o estudo socioeconômico inédito dá visibilidade estatística ao setor, do campo até a indústria. O material ainda oferece dados concretos para que a cadeia continue se desenvolvendo de forma orgânica e sustentável.
Do insumo à mesa do consumidor
A engrenagem econômica do amendoim começa com o elo de insumos. As máquinas e implementos movimentam cerca de R$ 2,5 bilhões ao ano, envolvendo fabricantes, distribuidores e serviços de manutenção.
Enquanto isso, a produção primária — responsável pelo plantio e colheita em aproximadamente 340 mil hectares — responde por R$ 4,3 bilhões do faturamento total. É nessa etapa em que há uma maior concentração da massa salarial da cadeia: R$ 991 milhões.
Já o beneficiamento e o primeiro processamento — etapa que conecta a produção a mercados internos e externos — somam R$ 4,9 bilhões, sendo:
- R$ 1,7 bilhão ligados ao esmagamento de óleo;
- R$ 3,1 bilhões ao beneficiamento dos grãos.
Parte dessa produção, cerca de R$ 1,3 bilhão, permanece no mercado interno. Outros R$ 3,6 bilhões seguem para exportações.
A industrialização adiciona mais R$ 2,6 bilhões ao ciclo econômico do amendoim, além de concentrar a maior carga tributária relativa, com R$ 756 milhões em impostos. No elo final, atacado e varejo somam R$ 4 bilhões em vendas ao consumidor, embora o consumo per capita no país ainda seja considerado baixo: 0,8 quilo por ano.
Mudanças na distribuição da produção
O estudo revela que o Brasil cultiva hoje 340 mil hectares de amendoim, com 87% concentrados em São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Embora os produtores paulistas ainda liderem a produção nacional com 250 mil hectares (75% do total), a expansão para outras regiões é visível. De 2018 a 2023, a produção cresceu cerca de 50% em São Paulo, mas avançou mais de 200% em Mato Grosso, 230% em Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
O cenário é explicado por custos menores de produção e restrições crescentes ao arrendamento paulista, impulsionando essa migração para o Centro-Oeste. Conforme o mapeamento, enquanto os custos de produção no Estado de São Paulo variam de R$ 12 mil a R$ 15 mil, na região Centro-Oeste oscilam entre R$ 10 mil e R$11 mil por hectare.
Área plantada de amendoim no Brasil
Hectares plantados – safra 2024/25
Fonte: elaborado por Markestrat a partir de pesquisa com produtores, entrevistas com especialistas, IBGE e CONAB.
Predominantemente, em todas essas regiões, a cultura é vista como uma ótima alternativa de rotação de cultura. “O amendoim funciona como uma simbiose na rotação com a cana, por exemplo. Hoje, também estão sendo desenvolvidas técnicas de plantio direto, sem preparo de solo. Somando essas práticas a cultivares mais resistentes às pragas e ao avanço do plantio direto, você passa a ter um custo menor e uma produtividade maior”, disse o dirigente da Abex.
Quem produz amendoim no Brasil?
O cultivo de amendoim no Brasil é conduzido por um perfil de produtores que combina tradição e renovação. Nas áreas produtoras, agricultores experientes — alguns com mais de seis décadas de atuação — dividem espaço com uma nova geração que chega à cultura trazendo uma maior abertura para a tecnologia. A idade média no campo, entretanto, é de 45 anos.

Fonte: elaborado por Markestrat com base em pesquisa realizada com produtores
Grande parte da produção ocorre em terras arrendadas, visto que:
- 77% dos produtores não cultivam em área própria, e;
- 70% manejam propriedades menores que 600 hectares.
O dado indica uma predominância de estruturas médias e familiares. Esses grupos familiares, de acordo com o levantamento, demonstram desempenho mais robusto, com produtividade 6% superior à obtida por produtores individuais — reflexo de melhor organização interna, maior controle das etapas produtivas e disponibilidade um pouco maior de capital.
Assim como em outras culturas, a tecnologia já é parte do cotidiano da maior parte dos produtores de amendoim. Cerca de 64,5% utilizam ferramentas de agricultura de precisão, principalmente GPS para monitoramento da lavoura.
O uso de drones, telemetria e aplicação em taxa variável avança de forma gradual, impulsionado pela geração mais jovem e por ganhos consistentes de eficiência. “Toda essa tecnologia aí, ela praticamente resume aí e faz com que o Brasil ocupe o terceiro lugar de melhor produtividade do mundo”, salienta Fantin, explicando que, no ranking, o País está atrás da China e Estados Unidos.
Desafio: crescer com equilíbrio
Para a Abex, a expansão da cultura deve continuar nos próximos anos, mas sem atropelos. “Não falta terra para o Brasil, isso todo mundo sabe. O desafio é equilibrar oferta e procura. Triplicamos a área plantada nos últimos dez anos. Esse crescimento precisa ser orgânico, planejado, para garantir mercado interno e externo”, afirma Fantin.
O estudo, segundo ele, inaugura uma nova fase, como um marco histórico para o setor. “A cadeia produtiva passa a ter ferramentas para crescer de forma planejada, consolidada e com visão de longo prazo. Nosso objetivo é claro: colocar o Brasil entre os principais players mundiais de amendoim de alta qualidade”, detalha.
O estudo elaborado pela Markestrat Group a pedido da Abex foi publicado em livro e pode ser acessado, gratuitamente, no site da associação (aqui).
Fonte: Estadão

