As pragas que 'somem' no inverno e voltam com força em dezembro
10-12-2025
Temperaturas elevadas, dias mais longos e umidade facilitam o surgimento de pragas no fim de ano
Por Rafaella Dorigo — São Paulo
Com a chegada de dezembro, começam a aparecer um movimento que se repete todos os anos: pragas antes quase invisíveis voltam a ganhar força. A sensação comum é a de que esses insetos “hibernaram” durante o inverno e “acordaram” no fim do ano. Mas a ciência aponta um mecanismo diferente, e já documentado no campo brasileiro.
Um estudo conduzido pela Epagri, que monitorou a flutuação da população de percevejo-do-grão (Oebalus poecilus) entre 2008 e 2020 em lavouras de arroz irrigado de Santa Catarina mostrou que os picos de incidência acontecem justamente em novembro/dezembro e novamente em fevereiro, após um período de baixíssima presença ao longo do inverno e início da primavera.
Para os pesquisadores, o padrão confirma que a espécie atravessa os meses frios com atividade reduzida, utilizando vegetação espontânea e bordas de mata como refúgio, e só retoma a reprodução quando as condições ambientais se tornam favoráveis.
Porque isso acontece?
O caso do percevejo observado pela Epagri ajuda a explicar um fenômeno mais amplo. O que ocorre com muitas pragas agrícolas não é hibernação, mas sim diapausa ou sobrevivência em micro-habitats protegidos.
Na diapausa, insetos interrompem voluntariamente o desenvolvimento quando a temperatura cai ou o fotoperíodo encurta, numa espécie de pausa programada. Outras espécies não entram em dormência real, mas persistem em áreas quentes e abrigadas do ambiente, mantendo populações pequenas até que o calor retorne.
Segundo os especialistas, dezembro reúne exatamente as condições que funcionam como gatilho para essa retomada:
- temperaturas elevadas e estáveis,
- dias mais longos,
- umidade crescente,
- vegetação jovem e abundante — seja em lavouras de verão ou em plantas daninhas.
As pragas que mais aparecem nessa época
- Percevejos do arroz e da soja (Oebalus spp. e Euschistus spp.)
- Helicoverpa armigera e H. zea
- Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho)
- Diatraea saccharalis (broca-da-cana)
- Mosca-branca (Bemisia tabaci)
- Ácaros (Tetranychus spp.)
Fonte: Globo Rural

