Biocombustíveis ganham protagonismo na agenda paulista de descarbonização
07-11-2025

Evento internacional pré-COP em São Paulo discute inovação e uso múltiplo dos biocombustíveis na transição energética

O avanço dos biocombustíveis como vetor da descarbonização da matriz energética foi o foco do painel “Biocombustíveis: Inovação e Descarbonização da Matriz Energética”, realizado na terça-feira (5), durante o Summit Agenda SP+Verde, no Parque Villa-Lobos, em São Paulo. O encontro, promovido pelo Governo e Prefeitura de São Paulo em parceria com a USP, reuniu representantes do setor público e privado para debater o papel do Estado na transição energética.

Moderado por Camila Rodrigues Affonso, sócia-diretora da consultoria Leggio, o painel destacou as vantagens competitivas paulistas, especialmente no setor sucroenergético. Segundo ela, o Estado reúne condições estratégicas para liderar a produção e comercialização de biocombustíveis de segunda e terceira geração. “O amadurecimento do biogás e do biometano, aliado a políticas ambientais consistentes, coloca São Paulo na vanguarda da inovação energética”, afirmou.

A presidente-executiva da Abiogás, Renata Isfer, reforçou que o Estado responde por cerca de 50% do potencial nacional de produção de biometano e vive a “segunda etapa” de expansão do combustível no país. “São Paulo já observa substituição do diesel por biometano em caminhões e ônibus urbanos. A demanda tende a crescer com a valorização da indústria do gás”, disse.

Apesar do potencial estimado em 120 milhões de m³ diários, a capacidade atual brasileira não ultrapassa 1 milhão de m³. Isfer ressaltou que a ampliação depende de investimentos em infraestrutura e políticas de gestão de resíduos. “O Estado precisa avançar na implantação de novas plantas de biogás e ampliar a rede de abastecimento”, observou.

No setor privado, Pablo Aledo, diretor de Negócios de Energia da Veolia, apresentou soluções de economia circular e valorização de resíduos. A empresa opera em São Paulo uma unidade com capacidade para reaproveitar 10 toneladas de resíduos por hora, reduzindo o envio de 40 mil toneladas anuais a aterros e direcionando o material à indústria cimenteira. “O aproveitamento energético de resíduos de alto poder calorífico é uma via concreta de transição para um modelo produtivo de baixo carbono”, afirmou.

O setor automotivo também figura entre os protagonistas da transição. Rafael Ceconello, diretor de Assuntos Governamentais e Regulatórios da Toyota, destacou o avanço dos veículos híbridos e movidos a biometano. “A integração entre eletrificação e biocombustíveis, com uso de etanol, permite reduzir em até 40% o custo operacional do combustível”, disse.

No campo regulatório, João Manoel da Costa Neto, presidente da SP Regula, detalhou o programa Bio SP, que define regras para aquisição e uso de biometano na frota pública. O decreto assinado pelo prefeito Ricardo Nunes cria as bases para a incorporação progressiva do combustível em ônibus e caminhões municipais. “Hoje, cerca de 200 caminhões de coleta já utilizam biometano produzido nos próprios aterros da cidade”, afirmou.

Financiamento verde e agricultura de baixo carbono

Outro painel do Summit, “Investimentos em Sistemas Alimentares de Baixo Carbono para um Futuro Regenerativo”, tratou dos desafios de financiar a agricultura sustentável e de conciliar produtividade com adaptação climática. A moderação ficou a cargo de Lia Palm, coordenadora de Agricultura do município de São Paulo, que apresentou o programa Sampa+Rural, voltado à integração de produtores urbanos e periurbanos em redes de agricultura sustentável e turismo rural.

O secretário-executivo da Agricultura de SP, Alberto Amorim, destacou o investimento de R$ 800 milhões em crédito rural entre 2023 e 2025, via Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (FEAP), com foco em agricultura regenerativa, bioinsumos e transição energética no campo. “São Paulo se consolida como referência nacional em políticas de baixo carbono e apoio à agricultura familiar”, afirmou.

Do lado do setor produtivo, Valéria Macoratti, presidente da Cooperapas, relatou experiências da cooperativa na agricultura agroecológica e na proteção de mananciais na zona sul da capital. Já representantes do setor privado global, como Eija Hietavuo (Tetra Pak) e Paulo Pianez (MBRF), discutiram práticas corporativas para redução de emissões e uso de materiais certificados.

Integração ambiental e políticas hídricas

O governo paulista também apresentou avanços do programa Integra SP, que já atinge 1,3 milhão de hectares com sistemas integrados de produção e prevê expansão de mais 1 milhão até 2030. A meta inclui a restauração de áreas degradadas e o incentivo à agricultura regenerativa.

Outras frentes incluem o PSA Berços d’Água e o Águas Rurais, com R$ 18 milhões investidos desde 2023 para remuneração de agricultores que preservam mananciais e recursos hídricos. O Estado já validou 198 mil cadastros no CAR, com 16 mil hectares em recomposição de áreas de preservação permanente e reservas legais.

O Summit Agenda SP+Verde é um evento internacional pré-COP que reúne especialistas, empresas e gestores públicos para debater estratégias de desenvolvimento sustentável. A programação se divide em quatro eixos temáticos — Finanças Verdes, Resiliência e Futuro das Cidades, Justiça Climática e Transição Energética —, além de uma trilha transversal de economia circular.

A estrutura no Parque Villa-Lobos inclui cinco palcos, rodada de negócios, área de inovação e a Casa da Circularidade, reforçando a posição de São Paulo como polo de discussão sobre economia verde e descarbonização.