Biogás e biometano ganham centralidade na transição energética e no agro sustentável, aponta seminário da CNA
03-09-2025

Evento em Brasília reforçou potencial do Brasil, mas destaca gargalos em infraestrutura, regulação e escala produtiva

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) promoveu, na última terça-feira (26), o seminário Agroenergia – Transição Energética Sustentável, em Brasília, com foco no papel estratégico do biogás e do biometano na matriz energética, no futuro da descarbonização e na sustentabilidade do agro brasileiro.

O encontro, realizado em parceria com a Embrapa Agroenergia e a FGV Bioeconomia, reuniu produtores rurais, lideranças do setor, pesquisadores e representantes do governo e da iniciativa privada.

Representando o presidente da CNA, João Martins, o presidente da Famasul, Marcelo Bertoni, destacou que o Brasil já possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com cerca de 50% da oferta proveniente de fontes renováveis.

“O avanço amplia nossa responsabilidade, mas também abre espaço para consolidar o país como referência global em transição energética e eficiência”, disse. Para ele, transformar resíduos orgânicos em energia é um “ganho duplo”, reduzindo impactos ambientais e ampliando o acesso a uma fonte renovável e descentralizada.

O chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Alexandre Alonso, reforçou a importância da pauta. Segundo ele, “não é mais possível discutir sustentabilidade sem colocar a agricultura no centro desse debate”.

Alonso afirmou que a bioenergia deixou de ser uma agenda setorial para se tornar global. “A substituição das fontes fósseis exige soluções biorrenováveis, capazes de gerar múltiplos bioprodutos de forma sustentável. A tecnologia é o fator-chave para escalar essa produção”, disse.

Durante o evento, foi lançado um documento técnico com dados atualizados sobre etanol, biodiesel, biogás e biometano, que subsidiará a participação brasileira na COP 30, marcada para novembro, em Belém (PA).

Em palestra magna, o diretor-executivo da ABiogás, Tiago Santovito, ressaltou que o Brasil produz hoje 1 milhão de m³/dia de biometano em apenas 15 plantas autorizadas, mas tem potencial para chegar a 120 milhões de m³/dia.

Setores como sucroenergético, proteína animal e produção agrícola são vistos como vetores dessa expansão. No entanto, Santovito destacou desafios de infraestrutura, precificação e regulação. “O biometano pode gerar independência energética, reduzir emissões e transformar passivos ambientais em ativos econômicos, mas o país precisa ganhar escala com rapidez”, afirmou.

No painel Biogás e Biometano: inovação e integração com o agro, especialistas da Embrapa Suínos e Aves, da Geo Biogás & Carbon e do CIBiogás defenderam que o Brasil “não pode errar” nesta nova onda dos biocombustíveis.

Para Felipe Marques (CIBiogás), a lei do Combustível do Futuro (14.993/2024) deve impulsionar investimentos. Já Airton Kunz (Embrapa) enfatizou a necessidade de estabilidade regulatória para dar previsibilidade às plantas de biogás. Alessandro Gardemann (Geo Biogás & Carbon) reforçou que o país precisa de soluções próprias, distintas das aplicadas na Europa ou nos EUA.

O painel “Transformando energia” apresentou experiências de cooperativas. A Primato Agroindustrial, no Paraná, mostrou como integrou granjas, produção de fertilizantes organominerais e logística com caminhões movidos a biometano. Já a Cocal, em São Paulo, destacou o uso da cana para produzir biogás a partir de torta de filtro e vinhaça, tornando-se a primeira do setor sucroenergético a operar uma planta de biometano em grande escala.

O seminário foi encerrado com palestra de Giulia Ceccareli, chefe de Assuntos Externos da World Biogas Association (WBA), que apresentou as tendências globais e o posicionamento estratégico do Brasil na transição energética.

“Com abundância de biomassa e capacidade tecnológica, o país reúne todas as condições para ser protagonista em bioenergia. A COP 30 será oportunidade para consolidar essa liderança”, afirmou.

Redação com informações da CNA