Biomassa é opção em crise energética
23-01-2015
A crise energética enfrentada pelo Brasil poderia ter sido amenizada, caso os governos estimulassem a produção de energia proveniente da biomassa de cana-de-açúcar. Ao longo dos últimos anos, os preços baixos oferecidos pela energia oriunda do setor sucroenergético desestimularam os investimentos por parte das usinas. Em Minas Gerais, das 38 usinas em funcionamento, apenas 19 estão ligadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e utilizam a energia de biomassa para o consumo próprio e exportação. Mas, mesmo assim, a potência instalada no Estado é de 938 mil kilowatts (Kw). Tirando a energia aproveitada pelas usinas, sobram (dados do ano passado), 531 mil Kw para comercialização, o suficiente para abastecer uma cidade como Belo Horizonte por cinco meses.
O fornecimento de energia do setor hoje representa apenas 6,1% da matriz energética do Estado. Mas para o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (SIAMIG), Mário Campos, a situação pode mudar. Segundo ele, com a crise energética que se instalou no país, os preços pagos pela energia em 2014 foram elevados e se tornaram vantajosos. Como a tendência é de manutenção dos valores em alta, o setor poderá ser estimulado a retomar os investimentos na exportação de energia.
"Em 2014, a bioeletricidade foi rentável para o setor sucroenergético, em um período em que o etanol e o açúcar enfrentavam uma severa crise de preços. As negociações de energia foram uma grande surpresa. E isso ocorreu diante da escassez de energia no país. As usinas que tiveram formas de aumentar a geração de energia pela biomassa, conseguiram valores lucrativos. Quando se tem preços, o investimento é feito. Com os valores em alta, algumas usinas mineiras além de comprar a biomassa de outras unidades também produziram energia utilizando fontes alternativas, como o cavaco de madeira", explicou.
De acordo com os dados da Siamig, a potência de exportação de energia das usinas mineiras para o Sistema Nacional Interligado (SIN) foi de 531 mil Kw em 2014, valor superior à potência instalada da Usina de Nova Ponte, por exemplo, localizada no Triângulo Mineiro, e uma das maiores do Estado.
Esta energia, produzida por 19 das 38 usinas, é suficiente para abastecer uma cidade de um milhão de habitantes por um ano ou suficiente para abastecer Belo Horizonte por cinco meses. Após anos de estagnação, a energia exportada em 2014 pelas usinas mineiras aumentou entre 15% e 20%, impulsionada pelos preços vantajosos.
Preço
O preço teto para comercialização de energia nos leilões foi fixado pelo governo federal em R$ 388 por megawatts/hora, valor que é considerado lucrativo. Segundo Campos, para remunerar as usinas, os preços da energia devem ser mantidos acima de R$ 250, já que o custo para ampliação do potencial fica em torno de R$ 180 por megawatts/hora e, para novas instalações, em R$ 250.
Ainda segundo os dados da associação, as usinas de Minas Gerais têm um grande potencial de geração de energia elétrica do bagaço de cana, com previsão de investimentos para os próximos três anos e aumento da capacidade de geração de energia. Mas para que os planos se concretizem, é necessário que existam sinalizações de preços maiores, para que o setor possa realmente contribuir para a geração de energia no país, proporcionando uma economia nos volumes de água dos reservatórios e a segurança de fornecimento para o setor elétrico.
Outra vantagem, além de ser uma fonte renovável, é que o pico de produção de energia através da bagaço e palha da cana-de-açúcar coincide com o período de estiagem na região Sudeste e Centro-Oeste, onde é registrado o maior consumo.
"Por estar mais perto do centro de consumo do país, as perdas na transmissão da energia também são menores. O setor sempre alertou o governo sobre a importância de incentivar a produção alternativa de energia e do potencial do setor sucroenergético, e se o estímulo tivesse ocorrido, a crise energética vivenciada no momento seria menor, já que a parte da demanda poderia ser atendida pelas usinas", explicou.
Michelle Valverde

