Biometano desponta como nova fronteira energética e pode reduzir em 85% o uso de diesel em São Paulo
10-10-2025

Produção do gás renovável deve crescer 215% até 2027, segundo estudo da Copersucar
Por Andréia Vital
O biometano está se consolidando como uma das principais apostas do setor sucroenergético brasileiro. De acordo com um estudo divulgado nesta quinta-feira (9) pela Copersucar, a produção nacional do combustível deve crescer 215% até 2027, atingindo 2,3 milhões de metros cúbicos por dia — um salto que pode reposicionar o Brasil como protagonista global na transição energética.
Apenas o Estado de São Paulo reúne potencial para substituir até 85% do diesel consumido, o que representaria uma redução superior a 90% das emissões de CO₂ equivalente e a geração de 20 mil novos empregos. “Temos todos os ingredientes necessários para transformar o biometano em um motor da transição energética no Brasil”, afirma Tomás Manzano, presidente da Copersucar.
O biometano é um gás renovável obtido a partir da purificação do biogás, que resulta da decomposição biológica de resíduos orgânicos. Totalmente intercambiável com o gás natural fóssil, pode substituir o diesel em frotas pesadas e abastecer processos industriais.
No campo, o setor sucroenergético desponta como principal fonte de matéria-prima, utilizando vinhaça, torta de filtro, bagaço e palha da cana-de-açúcar. Outras cadeias relevantes incluem os segmentos de proteína animal, saneamento e aterros sanitários.
Além de reduzir em mais de 90% as emissões de gases de efeito estufa, o biometano estimula a economia circular, interioriza a infraestrutura energética e gera novas receitas por meio de créditos de carbono. A substituição parcial do diesel e do gás natural importados fortaleceria a segurança energética nacional e reduziria custos logísticos, sobretudo no interior do país.
O combustível também tem aplicações estratégicas na indústria química, podendo viabilizar a produção de amônia e aço verdes, além de melhorar a qualidade do ar urbano e a saúde pública.
Potencial paulista
São Paulo lidera o avanço da agenda verde. O estado concentra 40% da produção nacional de biometano e 31% dos projetos de expansão, com um potencial produtivo estimado em 36 milhões de m³/dia no longo prazo.
Mais da metade desse volume pode vir do setor sucroenergético, cujas usinas já estudam o uso do biometano em frotas próprias e processos industriais, reduzindo custos e emissões.
Para viabilizar o crescimento, o estudo estima investimentos de até R$ 46 bilhões na implantação de 181 novas plantas e cerca de R$ 3 bilhões na expansão da malha de gasodutos. O impacto social é expressivo: 20 mil empregos diretos e indiretos devem ser criados nos próximos anos.
Com o país consumindo cerca de 65 bilhões de litros de diesel por ano, dos quais 20% são importados, o biometano surge como solução estratégica. Se o Brasil utilizar apenas 20% de seu potencial de produção para substituir o diesel, mais da metade das importações poderia ser eliminada.
No transporte coletivo, a adoção de ônibus movidos a biometano abriria caminho para “corredores verdes”. Em São Paulo, por exemplo, a substituição de 10% da frota urbana (12 mil veículos) já representaria um consumo de 350 mil m³ por dia — o equivalente a mais de 50% da produção nacional de 2024.
Entre os principais desafios estão a expansão da infraestrutura de distribuição, a padronização do transporte comprimido (GNC) e o aumento da frota de veículos a gás/biometano. O avanço do marco regulatório do Combustível do Futuro, que criou o Certificado de Garantia de Origem do Biometano (CGOB), deve acelerar o mercado e atrair novos investimentos.
A longo prazo, especialistas apontam que o biometano pode ir além do transporte rodoviário, alcançando também a descarbonização marítima e a produção de e-combustíveis via rota GTL (gas-to-liquid).
O estudo completo pode ser acessado neste link:
https://www.copersucar.com.br/website/wp-content/uploads/2025/10/estudo_copersucar_biometano_ly.pdf