Biotecnologia pode gerar até R$ 1,8 bilhão extra por safra para o setor de etanol
25-09-2025

Só no setor de milho, avanço tecnológico aumentou margens de R$ 4 para R$ 56 por tonelada em apenas 12 anos, alta de 1300%

Dados recentes indicam que a biotecnologia tem ampliado os ganhos da produção de etanol no Brasil. Levantamento da Lallemand Biofuels & Distilled Spirits (LBDS) mostra que em pouco mais de uma década, a engenharia genética elevou em 1.300% as margens de ganhos no processamento de milho para etanol: de R$ 4 por tonelada, em 2012, para R$ 56 por tonelada, em 2024.

A projeção é de que a tecnologia das leveduras possa acrescentar entre 340 e 680 milhões de litros de etanol por safra. Em termos financeiros, o ganho equivale a uma receita adicional entre R$ 900 milhões e R$ 1,8 bilhão, consolidando o setor como peça central na transição energética e na bioeconomia.

No caso do etanol anidro de milho, os ganhos já começam a aparecer no chão de fábrica. As usinas que adotam leveduras da última geração elevam a produção de 410 para 450 litros por tonelada processada. Também aumentam o rendimento de óleo de 12 para 18 quilos por tonelada. Para uma planta com capacidade de moagem de 2 mil toneladas por dia isso representa R$ 39 milhões a mais por ano em lucratividade.

Além do incremento em etanol e óleo, no milho, há redução de custos com insumos como enzimas e ureia, de cerca de 80%. Outro avanço significativo na engenharia genética foi a redução do número de horas de fermentação de 60 horas para 45 horas. Isso significa aumento de moagem e menos custos operacionais fixos e variáveis.

No setor sucroalcooleiro, as novas leveduras disponíveis no mercado são capazes de converter os chamados “carboidratos infermentescíveis”, polissacarídeos e oligossacarídeos, que não são metabolizados pelas leveduras convencionais. No etanol de cereais, a expressão de enzimas pela levedura reduz a perda do amido residual, gerando melhor conversão dos açúcares, em ambos, o que resulta em maior rendimento.

Os dados apresentados indicam que, com a biotecnologia, é possível reduzir em até 35% a produção de glicerol e em 20% a geração de biomassa. Essa alteração no balanço metabólico resulta em 1,5% a mais de etanol produzido, sem aumento de matéria-prima, sem novos investimentos em infraestrutura (CAPEX) e sem elevação de custos operacionais (OPEX).

A inovação chega em um momento estratégico para o setor. Projeções internacionais indicam que, até 2030, entre 20% e 30% da demanda mundial por combustível sustentável de aviação (SAF) será atendida a partir do etanol, o equivalente a 9 a 12 bilhões de litros.

Paralelamente, o etanol também ganha espaço na indústria química verde. O bioetileno produzido a partir do etanol já é realidade em mais de dez plantas industriais no mundo, servindo como base para plásticos e compostos renováveis.

Em 2024, o Brasil produziu cerca de 37 bilhões de litros de etanol, sendo 29 bilhões de cana e 8 bilhões de milho. Segundo especialistas, apenas a otimização dos processos atuais já poderia ampliar significativamente a produção, sem expansão de fronteiras agrícolas.

Para Fernanda Firmino, vice-presidente da LBDS na América do Sul, os ganhos devem ser entendidos como parte de uma estratégia de longo prazo. “As usinas não precisam de mais terra ou insumos para crescer. A biotecnologia permite aproveitar melhor o que já está disponível, aumentando margens e reduzindo impactos ambientais”, afirmou.