Brasil já conta com 2 milhões de jovens em empregos verdes, revela relatório do UNICEF
25-07-2025

Estudo alerta para a urgência de ampliar a formação profissional em sustentabilidade e incluir a juventude na economia de baixo carbono

O Brasil tem atualmente 2 milhões de adolescentes e jovens entre 14 e 29 anos trabalhando em empregos verdes, o que representa cerca de 30% do total de profissionais do setor sustentável no país. A informação é do relatório “Habilidades e empregos verdes para adolescentes e jovens no Brasil”, divulgado recentemente pelo UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), por meio da iniciativa 1 Milhão de Oportunidades (1MiO), em parceria com a Plan Eval.

A pesquisa mapeou um total de 6,8 milhões de empregos verdes em território nacional — o equivalente a quase 9% de todos os vínculos formais de trabalho no Brasil. O conceito de emprego verde adotado considera funções que contribuem para preservar, recuperar ou melhorar o meio ambiente, com foco em sustentabilidade, eficiência e responsabilidade socioambiental.

O estudo evidencia uma janela estratégica para governos e empresas acelerarem a transição ecológica, combinando geração de empregos com políticas de inclusão e desenvolvimento socioeconômico. Contudo, ainda há desigualdade no acesso à capacitação técnica voltada à sustentabilidade, especialmente fora dos grandes centros urbanos.

Falta de acesso à formação compromete oportunidades

Apesar do crescimento da pauta ambiental e dos esforços em integrar conteúdos de sustentabilidade ao ensino profissional, as ofertas ainda são escassas e concentradas em regiões metropolitanas. Isso limita a inserção de milhares de jovens e adolescentes que vivem em áreas periféricas, cidades pequenas ou em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

“Educar crianças e jovens para uma vida sustentável também significa prepará-los para atuarem na economia verde. Precisamos incluir de forma sistemática a educação ambiental nos currículos escolares e expandir a formação profissional para que a juventude esteja pronta para liderar o desenvolvimento sustentável”, afirma Mônica Pinto, chefe de Educação do UNICEF no Brasil.

A especialista destaca ainda a importância de reconhecer e integrar saberes não formais, especialmente de comunidades tradicionais e povos indígenas, valorizando competências adquiridas fora dos métodos convencionais.

Agroecologia, reciclagem e energia limpa lideram o potencial de inclusão

Entre os setores com maior capacidade de gerar empregos verdes e incluir jovens, destacam-se: agroecologia, cadeias florestais sustentáveis, gestão de resíduos sólidos, reciclagem, saneamento básico e geração de energias renováveis.

A distribuição dessas vagas, entretanto, é desigual entre os municípios brasileiros. As grandes cidades concentram 53% das vagas verdes, embora abranjam apenas 43% dos vínculos empregatícios totais no país.

No recorte de gênero, homens representam 60,5% dos trabalhadores em empregos verdes, enquanto mulheres são 39,5%. Essa disparidade é um pouco menor entre os jovens de 14 a 29 anos: 56,1% homens e 43,8% mulheres.

Entre as capitais com maior percentual de empregos verdes em relação ao total de vínculos estão Cuiabá (MT), Florianópolis (SC) e Rio Branco (AC), todas com cerca de 20% de participação sustentável no mercado de trabalho local.

O que pensa a juventude sobre o setor

O relatório também ouviu adolescentes e jovens de várias regiões do país para entender suas percepções sobre o mercado verde. As principais barreiras relatadas foram a falta de acesso a cursos na área ambiental; a dificuldade de inserção no mercado formal e a discriminação por raça, etnia ou gênero.

“Os jovens querem fazer parte da economia verde, mas muitos enfrentam obstáculos para se capacitar ou se candidatar a essas vagas, especialmente quem não tem experiência ou vive em cidades menores. É urgente que empresas e governos ampliem as ações de qualificação e políticas afirmativas”, reforça Mônica Pinto.

Diante do cenário das mudanças climáticas, a participação da juventude no setor sustentável não é apenas estratégica — é ética e necessária.

“Os jovens são os mais afetados pela crise climática. Por justiça intergeracional, precisam ser também os protagonistas das soluções. Inserir adolescentes e jovens em empregos verdes é parte fundamental da construção de uma economia de baixo carbono”, destaca Danilo Moura, especialista em Clima e Meio Ambiente do UNICEF.

Com base no mapeamento de empregos verdes e na escuta ativa da juventude brasileira, o relatório recomenda expandir a educação técnica e profissional verde, especialmente em áreas fora dos grandes centros; adotar ações afirmativas nos processos seletivos para jovens aprendizes, estagiários e vagas efetivas; subsidiar transporte e mobilidade para facilitar o acesso de jovens periféricos a capacitações e entrevistas; ampliar o acesso à internet para favorecer a inclusão digital e participação em cursos e processos seletivos online e criar programas de mentoria e orientação profissional voltados para setores sustentáveis.

A estimativa dos empregos verdes foi feita a partir de dados de 2022 da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Foram consideradas 69 das 673 classes econômicas como sustentáveis, incluindo áreas como reciclagem, eficiência energética, geração de energia limpa, saneamento, entre outras que adotam critérios de baixo carbono e controle ambiental rigoroso.

Sobre o 1 Milhão de Oportunidades (1MiO)

O 1MiO é uma iniciativa do UNICEF em colaboração com empresas, governos, ONGs e agências da ONU, com o objetivo de conectar adolescentes e jovens de 14 a 29 anos em situação de vulnerabilidade a oportunidades de educação, capacitação digital, cidadania, internet e emprego. Tem como parceiros estratégicos Silatech, Iberdrola, Microsoft e Accenture.