Brasil moderniza RenovaCalc e aproxima cálculo de carbono dos padrões internacionais
30-10-2025
Atualização amplia matérias-primas, reforça credibilidade global dos biocombustíveis e consolida o país como referência na transição energética sustentável
O Brasil deu mais um passo estratégico na consolidação de sua política de biocombustíveis com a atualização da RenovaCalc, ferramenta oficial usada para medir a intensidade de carbono dos combustíveis sustentáveis no âmbito da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio). A nova versão incorpora avanços metodológicos, amplia o número de matérias-primas analisadas e aproxima o sistema brasileiro dos padrões internacionais de mensuração de emissões, como os definidos pelo Corsia, programa da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI).
A evolução da ferramenta foi detalhada no artigo científico “Advancing RenovaCalc: the Brazilian tool for calculating the carbon intensity of sustainable fuels in alignment with international policies”, publicado no início de 2025. O estudo apresenta a ampliação do módulo HEFA (Hydroprocessed Esters and Fatty Acids), que calcula a pegada de carbono de combustíveis de aviação sustentáveis (SAF) produzidos a partir de óleos vegetais e gorduras residuais.
Desenvolvidas no âmbito do projeto “Aprimoramento da RenovaCalc”, coordenado pela Embrapa Meio Ambiente com apoio da Finep e da Faped, as melhorias deverão ser incorporadas à versão pública da ferramenta após validação pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), prevista até 2026. “A nova versão passa a incluir o óleo de palma, ampliando o espectro de matérias-primas e tornando o sistema mais representativo da diversidade agrícola brasileira”, explica Marília Folegatti, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente.
Para Edgar Silveira, professor da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Laboratório de Energia e Ambiente (LEA/UnB), a atualização reflete um salto técnico e regulatório. “Estamos consolidando uma base científica robusta e alinhada aos referenciais globais de sustentabilidade, sem perder as especificidades da matriz energética brasileira”, destacou.
A convergência metodológica entre a RenovaCalc e o Corsia é vista como fundamental para o fortalecimento da credibilidade dos biocombustíveis brasileiros. Priscila Sabaini, analista da Embrapa Meio Ambiente, observa que a compatibilidade entre os resultados das duas metodologias é alta, embora ainda existam diferenças regulatórias a serem ajustadas — especialmente quanto a critérios de elegibilidade de matérias-primas, mudanças no uso da terra e contabilização de créditos de carbono.
Já Giulia Lamas, coautora do estudo, ressalta que o alinhamento entre os sistemas permitirá mensurar com mais precisão os ganhos reais de mitigação de gases de efeito estufa (GEE) e evitar efeitos colaterais, como pressão sobre áreas agrícolas ou risco de desmatamento. “O desafio é assegurar que o avanço tecnológico traga benefícios ambientais efetivos, sem comprometer a segurança alimentar”, reforça.
A RenovaCalc é a espinha dorsal do programa RenovaBio, pois define a intensidade de carbono no ciclo de vida dos biocombustíveis — do cultivo ao consumo — e estabelece o volume de Créditos de Descarbonização (CBIOs) que cada produtor pode emitir. Na prática, quanto menor a pegada de carbono, maior o valor econômico gerado, criando um ciclo virtuoso de incentivo à sustentabilidade.
De acordo com Gabriela Ciribelli, integrante da equipe técnica, a incorporação do módulo HEFA e o alinhamento com o Corsia abrem caminho para a integração do sistema brasileiro às cadeias internacionais de aviação sustentável. “O uso de SAF é central para o cumprimento das metas globais de descarbonização do setor aéreo, e o Brasil tem potencial para se tornar um dos principais fornecedores mundiais dessa nova matriz energética”, afirma.
A harmonização entre RenovaCalc e Corsia também amplia as oportunidades de exportação, permitindo que biocombustíveis certificados pela RenovaBio sejam reconhecidos internacionalmente. Esse avanço consolida o país como protagonista em energia limpa e rastreável — um diferencial competitivo diante das novas exigências ambientais do mercado global.
Os pesquisadores, contudo, destacam que ainda há obstáculos metodológicos a superar, como a contabilização das mudanças indiretas no uso da terra e a equivalência entre diferentes sistemas de créditos de carbono. “A transparência e a integração entre políticas são fundamentais para evitar sobreposições e assegurar credibilidade nas transações de emissões”, reforça Folegatti.
Redação com informações da Embrapa

