Brasil pode dar salto verde na indústria até 2050 — o problema é o meio do caminho
11-12-2025
Estudo mostra que indústria verde é possível no Brasil; mas projeções para setor apontam crescimento perdendo ritmo no curto prazo
Por Nayara Machado
As emissões de energia e indústria no Brasil podem cair de cerca de 510 milhões de toneladas CO2 por ano em 2023 para cerca de 460 MtCO2 por ano em 2050, ou despencar para 200 MtCO2 por ano, a depender das decisões políticas, econômicas e tecnológicas que adotar a partir de agora, mostra um estudo da Schneider Electric.
Desenvolvido em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o estudo (.pdf) foi lançado em novembro, para subsidiar debates da COP30.
E traz dois cenários, Terra Firme e Salto Verde, explorando caminhos que o país poderia seguir em sua trajetória de substituição de combustíveis fósseis.
Em ambos os cenários, há uma modernização radical da economia brasileira até 2050, levando, em primeiro lugar, a melhorias significativas nos padrões de vida, seguido pela expansão do setor industrial.
Os maiores potenciais estão na siderurgia verde (produção 2,7 a 4 vezes maior até 2050), indústrias químicas (produção 40 a 50% maior) e setores de mineração (aumento de 50%) e manufatura.
Matriz majoritariamente renovável, potencial em hidrogênio verde, abundância de recursos naturais e papel central na preservação de ecossistema são as principais vantagens do Brasil nessa corrida global.
No cenário “Salto Verde”, o relatório aponta que a modernização acelerada da infraestrutura elétrica e o avanço das energias renováveis permitem reduzir em até 60% as emissões até 2050, levando o país à neutralidade sem a necessidade de tecnologias de captura de carbono.
Nele, a participação da eletricidade no consumo final salta de 18% para 58% — impondo a expansão da infraestrutura de geração e transmissão do país.
A eletrificação da mobilidade e a modernização do setor produtivo juntas também poderiam liberar até 33 milhões de hectares atualmente utilizados para biocombustíveis, cuja restauração florestal tem potencial de remover até 200 MtCO2 anualmente.
Essa projeção levaria o Brasil a se tornar um sumidouro líquido de carbono até meados do século.
Indústria luta para não perder o ritmo
Apesar do futuro promissor, o presente tem se mostrado desafiador para a indústria.
Nesta quarta (10/12) a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou seu relatório com projeções para a economia brasileira em 2026, indicando que o setor tende a perder ritmo em relação a 2025, crescendo 1,1%.
A expectativa é que o PIB brasileiro cresça 1,8% em 2026, puxado pelo setor de serviços, cuja expectativa é de alta de 1,9%, enquanto a agropecuária deve se manter estável.
Juros altos e o enfraquecimento do mercado de trabalho são apontados como os principais fatores da desaceleração da economia.
Segundo o presidente da CNI, Ricardo Alban, essas projeções já consideram políticas recentes direcionadas à transição energética, como Combustível do Futuro, incentivos ao hidrogênio e aos data centers.
Ainda assim, sozinhas, elas não foram capazes de mitigar os efeitos da alta taxa de juros sobre os negócios, refletindo desafios que também estão presentes em outras economias.
“Essas projeções consideram a economia como um todo. E os impactos a gente consegue vislumbrar hoje. Porque assim como nós vimos que muitas decisões ficaram postergadas na COP30, nós temos hoje muitos países revisitando, não só os Estados Unidos, mas outros países com relação à velocidade da transição energética. Mas dentro de uma situação mediana que nós estimamos, foi considerada a evolução hoje desses processos”, disse o presidente da CNI a jornalistas nesta quarta.
Terras raras e minerais críticos, no entanto, que têm potencial de impulsionar os resultados da indústria extrativa, ficaram de fora, por falta de sinais políticos claros.
“A mineração de terras raras, a agregação de valor, não foi considerada porque nós não temos ainda todos os caminhos”, comentou.
Por outro lado, o presidente da CNI aponta que as empresas estão engajadas em investimentos para responder aos desafios da emergência climática, transformação digital e neoindustrialização.
Ele cita como exemplos o Fundo Clima, que entre 2023 e outubro de 2025 autorizou mais de R$ 7 bilhões para a indústria, o equivalente a cerca de 40% dos recursos do período, e a construção da SB-COP, iniciativa do setor privado para participar ativamente dos debates sobre transição e descarbonização.
“Essa missão começou na COP30. Em poucos meses, articulamos 24 confederações empresariais nacionais e supranacionais que representam cerca de 40 milhões de empresas em mais de 60 países. Isso mostra que o setor privado está pronto para agir, cooperar e liderar a transição dele”, defende.
Fonte: Agência Eixos

