Brasil pode gerar R$ 7 trilhões com hidrogênio verde até 2050 e liderar mercado global de combustíveis sustentáveis
01-11-2024

24ª Conferência Internacional DATAGRO abordou potencial e desafios do setor no Brasil

Por Andréia Vital

O desenvolvimento do hidrogênio verde no Brasil tem o potencial de adicionar R$ 7 trilhões ao PIB até 2050, conforme destacou a CEO da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), Fernanda Delgado, durante painel da 24ª Conferência Internacional DATAGRO sobre Açúcar e Etanol, realizada nos dias 21 e 22 de outubro, em São Paulo. Fernanda ressaltou que a expansão da cadeia produtiva do hidrogênio verde, já amparada por um marco regulatório, pode impulsionar a criação de diversos produtos energéticos de baixo carbono, como o combustível sustentável de aviação (SAF), o metanol verde e soluções para a indústria química.

A executiva destacou o papel estratégico do hidrogênio verde para setores cruciais, sendo que o setor de fertilizantes deverá ser um dos primeiros a adotar amplamente essa tecnologia. Além disso, a executiva apresentou as oportunidades que esse desenvolvimento trará, como a diversificação da matriz energética brasileira, a criação de empregos e a redução das emissões de gases de efeito estufa. No entanto, ela também pontuou os desafios estruturais, incluindo a necessidade de reduzir a diferença de custo entre o hidrogênio verde e o hidrogênio cinza (derivado de gás natural), aprimorar a infraestrutura e estabelecer normas técnicas de certificação.

No painel, moderado por Ingo Kalder, sócio da DATAGRO Financial, Caio Dafico, vice-presidente de Novos Negócios da Atvos, analisou o papel do SAF para o Brasil e destacou o país como um potencial líder na produção de combustível sustentável de aviação a partir do hidrogênio verde. Segundo Dafico, o país apresenta vantagem competitiva devido às múltiplas rotas de produção possíveis, como as energias eólica e solar, além do etanol e novas oleaginosas. Com a indústria do SAF em expansão, que deve atingir um valor global de US$ 37 bilhões por ano até 2030, Dafico acredita que o Brasil pode aproveitar sua capacidade exportadora e lucrar com a venda de créditos de carbono associados à tecnologia.

No entanto, o vice-presidente observou que o Brasil precisa de incentivos fiscais e políticas claras para tornar os projetos competitivos. Atualmente, o país representa menos de 1% da demanda global por SAF, com perspectivas de crescimento modestas em 2030 e 2050. Segundo o executivo, medidas como a desoneração de ICMS na cadeia produtiva do etanol e a isenção de PIS/COFINS para a produção de SAF são fundamentais para atrair investimentos e fortalecer o setor.

Marcelo Eskenazi, Assessor de Inovação para Novos Negócios da Usina São Martinho, abordou a importância do hidrogênio verde para a descarbonização de diversos segmentos da economia brasileira. Para ele, o país precisa estruturar uma estratégia sólida e custo-eficiente, alinhada ao compromisso assumido na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), que busca zerar emissões líquidas até 2050. Além de contribuir com os compromissos globais, a expansão do hidrogênio verde pode posicionar o Brasil como um importante fornecedor em um cenário mundial que busca limitar o aquecimento global a 1,5°C até o final do século.

Eskenazi afirmou que, para alcançar tais objetivos, é necessário um esforço conjunto para desenvolver alternativas tecnológicas e assegurar o progresso sustentável do setor. Ele acredita que, com uma infraestrutura robusta e incentivo governamental, o Brasil pode aproveitar o seu potencial energético renovável e contribuir significativamente para a descarbonização da economia global.