Brasil prepara entrada na corrida verde; mundo bate recorde de calor
12-07-2023

Sobrevoo flagra queimada na floresta Amazônica, no Pará, em 2019 (Foto: Araquém Alcântara/WWF Brasil)
Sobrevoo flagra queimada na floresta Amazônica, no Pará, em 2019 (Foto: Araquém Alcântara/WWF Brasil)

Plano de transição ecológica pretende desburocratizar investimentos verdes e pode ser grande marca de Lula III, diz Haddad

Por Nayara Machado

Combate ao desmatamento, eólica, solar, hidrogênio verde, biocombustíveis e marco regulatório da mineração são algumas das oportunidades elencadas pelo plano de transição ecológica em elaboração pelo Ministério da Fazenda, listou nesta segunda (10/7) o ministro Fernando Haddad (PT).

Em entrevista ao podcast O Assunto, do G1, o ministro disse que o plano pretende desburocratizar investimentos verdes e pode ser a grande marca do terceiro mandato do presidente Lula (PT).

“Eu vejo a reforma tributária, o marco fiscal e o plano de transição ecológica como o mesmo desenho de um novo Brasil”.

Na última sexta, o ministro passou mais de duas horas no Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente da República, apresentando “oportunidades de transição, emprego e renda para colocar o Brasil no século 21”.

É um plano de cem ações a serem desdobradas em quatro anos e que serão entregues por ordem de importância, a partir de agosto.

O foco em uma recuperação econômica e industrial em bases sustentáveis foi uma das bandeiras de Lula na corrida presidencial.

Segue um movimento internacional. A Lei de Redução da Inflação de Joe Biden, nos Estados Unidos, em 2022, destinou centenas de bilhões para incentivar a instalação de indústrias de baixo carbono no país – um movimento que acendeu o alerta na União Europeia, que correu para lançar sua Lei da Indústria Net Zero.

Os países ricos tentam fazer frente à China, que há alguns lançou mão de pesados incentivos para alavancar a produção de insumos e tecnologias de transição, e hoje é a maior fornecedora global de painéis solares, por exemplo.

Pelo lado dos emergentes, a Índia e a Colômbia são outros exemplos de economias que estão se movendo em busca de investimentos verdes.

No caso do Brasil, o plano passa pela criação do mercado de carbono – que o governo espera aprovar ainda este ano, antes da COP28 –, reforma tributária, parcerias público-privadas e atração de capital para produtos que comprovem ser net zero.

Novas energias

Saindo do macro, há uma extensa agenda regulatória setorial para viabilizar investimentos em novas energias e tecnologias de descarbonização no Brasil.

Captura e armazenamento de carbono, hidrogênio, eólicas offshore, diesel verde, combustível sustentável de aviação são alguns exemplos.

Em entrevista à agência epbr no final de maioRaíssa Cafure Lafranque, vice-presidente da EDF Renewables Brasil, disse que é preciso uma sinalização forte do governo para atrair investimentos na transição.

“O momento é agora”. Raíssa avalia que, enquanto para eólica offshore o potencial brasileiro já está materializado, o desenvolvimento da indústria do hidrogênio verde ainda depende de sinalizações externas, o que os países estão decidindo sobre esse mercado.

“Ainda não temos uma regulação estabelecida, nem para offshore, que precisa de uma regulação local, nem para hidrogênio verde, que precisa não só de uma política local, mas também de uma clareza maior da regulação internacional”, comenta a executiva.

Recordes de temperatura

As temperaturas globais da superfície do mar atingiram recordes em maio, junho e julho – e o aquecimento do El Niño está apenas começando – alertaram os cientistas da Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU nesta segunda (10/7).

“A primeira semana de julho pode ser considerada o período mais quente ou a semana mais quente já registrada”, com uma temperatura média global próxima a 17,24 °C em 7 de julho, disse Omar Baddour, chefe de monitoramento climático da OMM.

Os termômetros registraram um “pico sem precedentes” nas temperaturas da superfície do mar no Atlântico Norte, e os cientistas afirmam que “sem precedentes é o novo normal”.

Do pólo Sul ao Norte, as temperaturas estão tão altas que os níveis de gelo marinho da Antártica atingiram sua menor extensão em junho desde o início das observações de satélite.

Foram cerca de 2,6 milhões de quilômetros quadrados de gelo marinho perdido.

“A região antártica é normalmente considerada relativamente estável; é muito mais frio que o Ártico. Estamos acostumados a ver essas grandes reduções no gelo marinho no Ártico, mas não na Antártica”, destaca Michael Sparrow, chefe do Programa Mundial de Pesquisa Climática da OMM.

Além da Antártida, a agência da ONU alertou que a onda de calor marinha também afeta a distribuição da pesca e os ecossistemas oceânicos, com efeitos indiretos no clima.

“Quando você tem um ciclone tropical, tudo é afetado na costa, incluindo a pesca, mas também no interior”, disse Baddour.

“Com fortes precipitações que podem levar a vítimas, deslocamento de populações e assim por diante. Então, se dissermos que é uma mudança dramática, isso também significa uma probabilidade dramática de eventos climáticos e climáticos extremos”.

Fonte: EPBR