Cana-de-açúcar impulsiona o Brasil rumo à liderança mundial em bioplásticos
09-12-2024

Estudo revela que cultivo sustentável pode transformar o país em referência global na produção de plásticos ecológicos e na mitigação das mudanças climáticas

A cana-de-açúcar está posicionada para se tornar a principal aliada do Brasil em sua ascensão como líder mundial na produção de bioplásticos. De acordo com um estudo do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR), que faz parte do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), o país possui potencial único para revolucionar a indústria de plásticos sustentáveis, aproveitando suas vastas áreas de cultivo e capacidade de reduzir emissões de carbono.

O trabalho dos pesquisadores, que foi publicado na Nature Communications, destaca o polietileno de base biológica (bioPE), produzido a partir da cana-de-açúcar, como peça-chave na transição para uma economia global de baixo carbono. Este bioplástico mantém as mesmas propriedades do polietileno tradicional, mas com a vantagem de ser fabricado de forma sustentável.

A viabilidade da ampliação da produção de polietileno de base biológica (bioPE) abre perspectivas promissoras num cenário preocupante. Atualmente, a produção de plástico representa entre 5% e 7% do consumo global de petróleo e cerca de 2% das emissões globais de GHG (gases do efeito estufa). Até 2050, a previsão é de um salto para essa cadeia produtiva que passaria consumir 20% do petróleo e a responder por até 15% emissão de carbono global.

Segundo Thayse Hernandes, engenheira agrícola e pesquisadora do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR), o Brasil poderia atender até 35% da demanda global por polietileno utilizando apenas 3,55 milhões de hectares de cana, sem comprometer a biodiversidade.

“O bioplástico de cana-de-açúcar oferece uma solução ambientalmente consciente, com potencial para alavancar a economia brasileira e posicionar o país como protagonista global no mercado de plásticos renováveis”, enfatiza Hernandes.

Se expandida para 22,2 milhões de hectares de cultivo, a produção de bioplásticos poderia contribuir para a captura de cerca de 52 milhões de toneladas de CO₂ anuais, o equivalente a 12% das emissões do setor energético brasileiro. Este avanço seria fundamental para a agenda climática global, demonstrando como a bioeconomia pode aliar crescimento econômico à sustentabilidade.

Além disso, o uso de áreas degradadas para o cultivo da cana evita conflitos com a preservação ambiental, consolidando o bioplástico como alternativa estratégica para a indústria de plásticos e para a mitigação das mudanças climáticas.

Apesar do cenário promissor, a ampliação da produção de bioplásticos enfrenta desafios significativos. A fabricação de etanol, matéria-prima essencial, precisa ser aprimorada para garantir práticas sustentáveis, minimizando impactos ambientais e emissões de carbono.

Hernandes reforça que o equilíbrio entre produção e preservação é crucial: “Devemos assegurar que a expansão da cana-de-açúcar para bioplásticos não prejudique o meio ambiente ou gere emissões desproporcionais de gases de efeito estufa.”

Outro ponto crítico é a gestão eficiente do bioPE, que, embora renovável, não é biodegradável. Assim, o Brasil precisará investir em cadeias de reciclagem mais sofisticadas, incluindo tecnologias químicas e biológicas, para reaproveitar os materiais sem comprometer a qualidade.

Redação com informações da CNPEM