Canaviais em chamas: em apenas duas usinas paulistas o fogo queimou 550 mil toneladas de cana
20-09-2021

Neste ano, os incêndios já atingiram mais de 150 mil hectares com cana na região Centro-Sul

Enquanto a chuva não chega, os incêndios se alastram pela região Centro-Sul do Brasil. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 13 dias de setembro, foram registrados 1.156 focos de incêndio em São Paulo ante os 2.254 dos 30 dias do ano passado. No mês passado, foram 2.277 focos, mais que o dobro de agosto de 2020.

Muitos desses incêndios acontecem nos canaviais. Durante live realizada em 14/9, Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), observou que a pior seca dos últimos 60 anos, associada a três geadas que impactaram 10% dos canaviais, já provocou a queima de mais de 150 mil hectares de cana-de-açúcar, o equivalente a 3% da área plantada, na região Centro-Sul nesta safra 2021/22.

Na primeira semana de setembro, a Usina Batatais, localizada em Batatais, e a Cevasa, em Patrocínio Paulista (pertencentes aos memo grupo), tiveram seus canaviais atingidos por um grande incêndio com labaredas de mais de 50 metros de altura que quase chegou à indústria e ao setor administrativo. As duas unidades ficaram fechadas por pelo menos dois dias e ainda contabilizam os prejuízos na cana que ia para a indústria e nas áreas de palhada.

Mas fontes relatam que o incêndio atingiu 3 mil hectares e queimou 550 mil toneladas de cana. Sem condições de realizar a colheita e o processamento dessa cana queimada em tempo hábil – antes que a cana começasse a se degradar em decorrência do fogo –, a matéria-prima foi oferecida para usinas vizinhas para ser colhida.

Desde a adoção da colheita de cana crua, por máquinas, já presente em 99,8% dos canaviais paulistas, o fogo tornou-se prejudicial à atividade. Na mesma live em que Padua participou, Marcos Landell, diretor-geral do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e um dos principais pesquisadores da cultura, afirmou que a cana queimada hoje é uma desvantagem, em todos os aspectos, para o produtor e a usina. “Com o novo pacote fitotécnico desenvolvido para o corte de cana crua por máquinas, o fogo passou a ser algo totalmente indesejado no manejo da cana.”

Segundo ele, o fogo queima o residual de palha que serve como mitigador do déficit hídrico, causa a perda de todas as operações já realizadas após a colheita, como a adubação e controle de pragas, e ainda tira o vigor dos canaviais já brotados, provocando menor produtividade e menos longevidade da plantação.

Fonte: CanaOnline