Chuvas irregulares e La Niña devem impactar novas safras
30-10-2025
Fenômeno climático deve influenciar produção até 2026
Por Andréia Vital
O Relatório Agro Mensal de Outubro, divulgado pelo Itaú BBA, aponta que a irregularidade no retorno das chuvas em boa parte do Brasil tem limitado o avanço do plantio de grãos e gerado preocupação entre produtores. No Centro-Oeste e Sudeste, a instabilidade climática e o início tardio das precipitações trouxeram incertezas sobre o ritmo da safra. Já no Sul do país, as condições climáticas foram mais favoráveis, permitindo o rápido avanço da semeadura de milho e soja em estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Nas culturas perenes, como café e laranja, as primeiras chuvas estimularam as floradas, mas a falta de continuidade ameaça a uniformidade e o potencial produtivo. “Ainda há apreensão entre os cafeicultores com a irregularidade das chuvas”, aponta o relatório. Para a laranja, as precipitações registradas até o momento não foram suficientes para garantir uma florada homogênea.
Na cana-de-açúcar, as chuvas registradas no fim de setembro ajudaram na reposição hídrica do solo e contribuíram para a redução das queimadas, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. Contudo, a umidade também provocou pausas pontuais na colheita e na moagem, afetando o ritmo de produção.
O trigo apresentou condições climáticas favoráveis ao enchimento dos grãos e à colheita, com destaque para Paraná e São Paulo, onde a produtividade foi considerada satisfatória, apesar de perdas localizadas causadas por geadas. No Rio Grande do Sul, mesmo com menor investimento na cultura, as chuvas recentes e temperaturas amenas favoreceram o desenvolvimento das lavouras.
No exterior, os Estados Unidos mantêm perspectiva positiva para as safras de milho e soja, embora a combinação de altas temperaturas e estiagens regionais possa resultar em ajustes na produtividade. Já na Argentina, as chuvas acima da média nas principais regiões produtoras melhoraram as expectativas, sobretudo para as culturas de milho e trigo.
A partir de outubro, os principais modelos meteorológicos americano e europeu começaram a convergir, indicando melhor distribuição das chuvas nos próximos dias. Essa tendência deve acelerar o plantio de grãos nas principais regiões produtoras do país.
Para o café e a laranja, entretanto, o relatório reforça que é essencial a manutenção de precipitações regulares para assegurar a uniformidade das floradas e a recuperação hídrica das plantas.
A NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA) confirmou, em setembro, a transição climática de neutro para La Niña, com previsão de permanência até o início de 2026. O fenômeno deve provocar efeitos distintos no território brasileiro: chuvas mais regulares no Centro-Oeste e parte do Sudeste, favorecendo o início do cultivo de soja, e risco de estiagens prolongadas no Sul, especialmente no Rio Grande do Sul e em parte de Santa Catarina.
Apesar da preocupação, o Itaú BBA avalia que a atual configuração de La Niña é de fraca intensidade, o que deve garantir volumes acumulados de chuva suficientes para boa produtividade, inclusive nas lavouras gaúchas.
“Os próximos meses serão decisivos para consolidar a safra 2024/25, e a tendência é de normalização gradual do regime de chuvas, o que deve dar mais segurança aos produtores e impulsionar o ritmo de plantio em todo o país”, conclui o relatório.

