Chuvas reforçam umidade no Centro-Sul e reduzem impactos do clima na cana, aponta boletim da Esalq
04-11-2025

Boletim do Sistema Tempocampo de novembro indica melhora hídrica, La Niña fraca e tendência de neutralidade climática para a safra 2025/26

Por Andréia Vital

O Boletim do Sistema Tempocampo/Esalq de novembro de 2025, divulgado nesta segunda-feira (3), conduzido pelo professor Fábio Marin, do Departamento de Engenharia da Esalq/USP, traz um cenário mais favorável para o Centro-Sul do Brasil, com recuperação do armazenamento hídrico após as chuvas expressivas de final de outubro e início de novembro. Segundo o levantamento, regiões como São Paulo, Mato Grosso do Sul e parte de Goiás já apresentam melhores condições de umidade, embora o Nordeste e o Meio-Norte ainda enfrentem déficits hídricos relevantes.

Para os próximos 15 dias, o modelo europeu aponta volumes de chuva “bons a muito bons” entre Paraná e Tocantins, o que deve consolidar o início positivo do regime chuvoso. As projeções para novembro e dezembro indicam precipitações na média ou acima da média no Centro-Sul, enquanto o Sul do país e o extremo Norte seguem sob risco de chuvas abaixo da normalidade. O cenário para janeiro de 2026, contudo, permanece altamente incerto, com divergências entre os principais modelos de previsão.

A tendência de temperatura para o trimestre é de valores acima da média em todo o território nacional, mas sem os extremos observados em anos anteriores. Marin ressalta que, apesar da elevação térmica, o Centro-Sul teve um dos outonos e invernos menos quentes dos últimos 35 anos, o que contribui para amenizar os impactos sobre a agricultura.

O boletim também confirma a formação de uma La Niña de curta duração e fraca intensidade, o que significa que o evento não deve reproduzir os desvios clássicos de anos anteriores. “Essa La Niña será muito branda e não deve ter tempo suficiente para alterar significativamente o regime de chuvas no Brasil”, explica o pesquisador, destacando que o padrão climático tende a permanecer próximo da neutralidade nos próximos meses.

Em relação à cana-de-açúcar, o Índice CPC (Coeficiente de Produtividade Climática) desenvolvido pela Esalq mostra que, mesmo sem um evento climático severo, as condições de tempo podem resultar em perdas expressivas de produtividade. O estudo estima que, apenas pelo efeito climático, o Centro-Sul teria deixado de produzir cerca de 45 milhões de toneladas na última safra.

“O CPC quantifica o impacto do clima na produtividade e transforma uma variável incerta em um dado mensurável. O clima deixa de ser um adjetivo e passa a ser um número, uma informação concreta para o planejamento agrícola”, afirmou Marin.

Com foco em apoiar o planejamento da safra 2025/26, o boletim da Esalq reforça a necessidade de monitoramento constante das condições climáticas, especialmente nas regiões produtoras de cana, milho e soja. O próximo boletim do Sistema Tempocampo será divulgado no início de dezembro, com atualização das projeções para o primeiro trimestre de 2026.