Com margens apertadas, produtor adia compra de fertilizantes para nova safra
18-09-2024

Situação pode concentrar entregas e gerar problemas logísticos — Foto: Divulgação
Situação pode concentrar entregas e gerar problemas logísticos — Foto: Divulgação

Atraso pode concentrar entregas e gerar problemas logísticos, segundo empresas; analistas veem possibilidade de redução na demanda por adubos este ano

Por Gabriella Weiss e Isadora Camargo - São Paulo e Belo Horizonte

O aperto nas margens dos produtores rurais em decorrência da queda dos preços das commodities está atrasando a comercialização de fertilizantes para o plantio da safra 2024/25. E tem potencial para reduzir a demanda pelo insumo neste ano, segundo analistas.

“O mercado está um pouco atrasado em função da demora dos produtores rurais na compra de insumos para a safra 2024/25. (...) Já estamos olhando com muito cuidado os gargalos logísticos que devem acontecer até dezembro para a entrega dos fertilizantes”, afirma Gustavo Horbach, diretor presidente da Eurochem América do Sul.

 BRQ Brasilquímica também registra atraso na comercialização, mas espera que a demanda ganhe fôlego agora. Segundo a empresa, a lentidão nas vendas está relacionada à seca severa que fez com que muitos produtores freassem investimentos. A tendência, assim, é que “optem pelo básico” ou por produtos mais baratos e deixem as compras para a última hora.

Marcelo Fernandes, sócio da BRQ Brasilquímica, observa ainda que a demanda costuma ser maior nesta época do ano, se o preço for atrativo, pois o produtor começa a negociar o adubo que será utilizado no plantio da safrinha de milho, após a colheita da soja. Mas isso não está acontecendo.

Novo ciclo

A parcimônia tem suas razões. Relatório do Rabobank afirma que após um ciclo de prosperidade que se estendeu de 2020 até o fim de 2023, produtores vivem um cenário em que as commodities caíram mais rapidamente do que os custos de produção. Esse quadro suscita dúvidas sobre a demanda por fertilizantes, diz o analista de insumos do Rabobank, Bruno Fonseca.

Segundo ele, com margens mais apertadas, os produtores estão mais cautelosos na hora de gastar. Assim, com a alta do custo do fósforo — que compõe fertilizantes usados no cultivo de grãos — a tendência é que os agricultores recorram a uma tática utilizada em 2022, quando o preço do insumo disparou em decorrência da Guerra da Ucrânia. Na ocasião, diz, eles reduziram o uso de fosfatados, contando com o estoque da substância já existente no solo.

Um indicador elaborado pelo banco mostra que está mais difícil para o produtor comprar adubos. O Índice de Acessibilidade para a compra de fertilizante varia entre -1 e 1. Quanto mais próximo de -1, menor o poder de compra dos produtores e quanto mais próximo de 1, melhor.

Atualmente, o índice no país está em 0,01, próximo da neutralidade, o que sugere que o poder de compra dos produtores é limitado, mas não crítico. Globalmente, o índice é de 0,02, refletindo uma condição semelhante, porém um pouco mais favorável em termos de acesso aos fertilizantes.

Outro indicador que mostra o menor poder de compra é a relação de troca. Considerando o valor atual do MAP (fosfato monoamônico), Marcelo Mello, analista da StoneX, afirma que a relação de troca entre o adubo e a soja é uma das piores dos últimos cinco anos. “Piores do que quando estourou a Guerra da Rússia com a Ucrânia”, afirma. Segundo ele, então, o valor do MAP era o dobro do praticado hoje. Contudo, a soja chegava a US$ 18 por bushel, enquanto hoje está cotada entre US$ 9 e 10.

Alta dos fosfatados

O Rabobank já projeta uma diminuição de 1 milhão de toneladas na entrega de fertilizantes aos consumidores finais no Brasil este ano, para 45,5 milhões de toneladas. A redução se deve, sobretudo, à alta do preço dos fosfatados.

Pelos cálculos do banco holandês, os custos gerais de fertilizantes devem apresentar uma redução de cerca de 7% na safra atual em comparação com a temporada 2023/24. Mas o aumento de 6% do MAP limitou essa queda.

Segundo Fonseca, a alta dos fosfatados é reflexo da redução da oferta global de fósforo, diante de uma mudança de estratégia dos três maiores exportadores mundiais, China, EUA e Marrocos.

O aumento de preços já provoca diminuição nas importações dos fosfatados. Entre janeiro e julho de 2024, o Brasil importou 2,3 milhões de toneladas de MAP, 18% menos que no mesmo período de 2023. Já as importações de TSP (fosfato superfosfatado triplo) e SS (sulfato de amônio) subiram 29% e 24%.

Segundo Fonseca, o aumento é uma tentativa de oferecer opções mais econômicas ao superfosfato simples (P205), cujas importações recuaram 6% em relação a 2023.

Para Mello, da StoneX, a recente queda nos preços do potássio — matéria-prima dos fertilizantes NPK (que combinam nitrogênio, fósforo e potássio) — pode ajudar a compensar o alto custo do fósforo. “O produtor precisa comprar um pouco de cada, então os preços estão na média dos últimos cinco anos, e dá para conviver com ela. Não é atrativa, mas é aceitável”.

(Colaborou Cibelle Bouças)

 Fonte: Globo Rural