Com troca de dívidas, Raízen deve manter alavancagem
24-02-2025

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Agências de classificação de risco estimam que dívida líquida continuará em 3 vezes o Ebitda

Por Camila Souza Ramos — São Paulo

A Raízen, maior produtora de açúcar e etanol do mundo, está promovendo uma reestruturação financeira que envolveu, na última semana, a emissão de novos títulos de dívida no exterior, com prazos mais longos, e a recompra de títulos que iriam vencer daqui dois anos. Com a troca das dívidas, o movimento acaba prolongando o prazo médio da dívida da companhia, e pelo menos não altera sua alavancagem (relação entre dívida líquida e lucro antes juros, impostos e depreciação, o Ebitda).

Em uma semana, a Raízen levantou US$ 1,75 bilhão com operações de dívida no exterior. Deste valor, US$ 1 bilhão foi captado em uma nova emissão de notes com prazo de 12 anos e uma taxa equivalente aos Treasuries + 2,25%. Os demais US$ 750 milhões foram levantados em uma reabertura da emissão de green bonds que vencem em 2054, com taxa equivalente aos Treasuries + 2,5%.

A companhia vai usar os recursos dessas operações para pagar algumas dívidas em aberto, incluindo a recompra parcial das notes que vencem em 2027 em circulação. A oferta prevê recomprar por US$ 1.003,75 cada US$ 1.000 em notes dos detentores das dívidas. A operação de recompra das notes se encerra na próxima segunda-feira (24/2).

Nesta safra, a companhia já vinha realizando outras operações que alongaram sua dívida - tanto que o prazo médio de seu endividamento era de 6,5 anos no fim do último trimestre, ante 3,3 anos no mesmo período da safra passada.

A agência de classificação de risco S&P Global Ratings divulgou um relatório na sexta-feira (21/2) avaliando que as emissões realizadas pela Raízen Fuels Finance não alteram o ratings dado às emissões, já que não haverá mudança na alavancagem. A relação entre dívida líquida e Ebitda encerrou o 3º trimestre da safra 2024/25 em 3 vezes, acima de 1,9 vez registrado um ano antes.

Na terça-feira (18/2), a agência atribuiu às emissões rating ‘BBB’, com perspectiva negativa, que espelha a nota atribuída a Raízen — a Raízen SA e a Raízen Energia ofereceram as garantias. Em 30 de janeiro, a S&P Global Ratings já havia revisado sua perspectiva para o rating da companhia de estável para negativa diante do aumento da alavancagem no terceiro trimestre da safra 2024/25.

Endividamento

Em 30 de dezembro de 2024, a Raízen tinha uma dívida total de R$ 52 bilhões, dos quais R$ 12 bilhões no curto prazo (excluindo derivativos), enquanto a posição de caixa era de R$ 10 bilhões, segundo cálculos da Fitch, que também atribuiu à emissão das notes rating ‘BBB’.

Já no quarto trimestre e até a divulgação do balanço, a companhia havia captado mais R$ 4,8 bilhões em novas dívidas - que não consideram as operações da última semana.

Para a S&P Global Ratings, “embora haja dívida significativa no nível das subsidiárias, o rating das notas está no mesmo nível daquele de crédito de emissor da controladora, porque elas se beneficiam de garantias upstream e há ativos operacionais relevantes no nível da controladora”.

Para a Fitch, essas operações realizadas na última semana e as gestões operacionais para reduzir custos e otimizar a estrutura devem fazer com que a alavancagem da Raízen encerre esta safra em 3 vezes, podendo cair para 2,4 vezes na próxima temporada (2025/26). Ainda assim, a agência considera “improvável” que a relação entre a dívida líquida e o Ebitda caia abaixo de 2 vezes, a não ser que a Raízen venda ativos ou passe por alguma capitalização.

Nas contas da Fitch, a Raízen vai encerrar a safra atual com um fluxo de caixa negativo, com um Ebitda de R$ 11,4 bilhões, reduzindo a margem Ebitda abaixo de 5%, e uma geração de caixa operacional (Ebitda menos capex) de R$ 2,8 bilhões.

Para a safra 2025/26, a Fitch acredita que o fluxo de caixa da Raízen tende a ser neutro com a melhora do Ebitda e o aumento da geração de caixa operacional, e alcançar um fluxo de caixa positivo na temporada 2026/27.

Fonte: Globo Rural