Como a irrigação por gotejamento pode auxiliar na redução da pegada de carbono?
20-07-2023

Como a irrigação por gotejamento concentra-se no sistema radicular da cultura, ocorre uma redução da área molhada do solo

O Painel Intergovernamental da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas durante a COP27 afirmou que uma redução de 43% nas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) até 2030 é necessária para limitar o aquecimento da Terra a 1,5 graus Celsius acima das temperaturas pré-industriais. Grandes empresas e segmentos da economia mundial já se comprometeram em adotar ações mais ambiciosas para o cumprimento dessas metas, como o fim do desmatamento.

O segmento bioenergético sempre foi pioneiro e líder na adoção de práticas ambientalmente sustentáveis. O Programa Nacional do Álcool (ProÁlcool), de 1975, é considerado até hoje um dos maiores programas mundiais de substituição em larga escala dos derivados de petróleo. A partir dos anos 2000, o setor também intensificou suas ações para o fim da queima pré-colheita, através da criação do Protocolo AgroAmbiental. Sem falar que hoje a cana-de-açúcar é também matéria-prima para a produção de bioeletricidade, biogás, biometano, Etanol de Segunda Geração (E2G) e de plásticos biodegradáveis.

No campo, usinas e agrícolas também apostam em práticas de manejo que auxiliem na redução da pegada de carbono envolvida na operação, como o uso de biológicos e a rotação de culturas. Outra ferramenta que está contribuindo significativamente é a irrigação por gotejamento, que além de atuar na diminuição das emissões de GEE, tem o poder de impulsionar a produtividade agrícola das áreas em até 50% em “anos normais” e em até 80% em safras de alto déficit hídrico.

A Professora Associada da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) e Assessora Técnica da Superintendência da Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), Tamara Maria Gomes, explica que a irrigação por gotejamento contribui de várias formas para a redução da pegada de carbono.

A primeira delas é por meio da diminuição do consumo de diesel. “Como é possível aplicar fertilizantes e defensivos diluídos na água da irrigação, além de vinhaça (em baixas porcentagens), prática conhecida como fertirrigação, haverá uma significativa redução do uso de máquinas agrícolas e, até mesmo, de aviões.”

Situação semelhante ocorre com os herbicidas. Como a irrigação por gotejamento concentra-se no sistema radicular da cultura, ocorre uma redução da área molhada do solo, inclusive nas entrelinhas. Dessa forma, a tecnologia promove condições desfavoráveis ao crescimento de plantas daninhas ao mesmo tempo em que favorece uma boa brotação e desenvolvimento do canavial, que fechará antecipadamente, sombreando a área. Pela redução da competição, haverá menor necessidade de aplicação de herbicidas e, consequentemente, de operações tratorizadas.

Por preconizar aplicação de água diretamente nas raízes da cultura com baixa pressão e vazão, a irrigação por gotejamento também demanda menos energia elétrica para sua operação. Dessa forma, caso a fonte seja proveniente de matrizes não renováveis, ocorrerá a redução da pegada de carbono. “Lembrando que a porcentagem de melhoria da eficiência energética dependerá de vários fatores, como potência da motobomba e topografia das áreas.”

O aumento expressivo de produtividade agrícola proporcionado pela tecnologia reduz a necessidade de ampliação de área ou novos arrendamentos. Vertente que atua diretamente na atenuação das emissões de GEE da categoria de Mudança do Uso da Terra (MUT), responsável por mais de metade das emissões brasileiras nos últimos anos.