Crédito rural recua 20,9% e confirma retração no início da safra 2025/26
30-10-2025
Relatório da Faesp/Senar aponta queda generalizada nos desembolsos e no número de contratos
Por Andréia Vital
O crédito rural brasileiro iniciou a safra 2025/26 com forte desaceleração. Segundo o Relatório de Acompanhamento do Crédito Rural, divulgado recentemente pelo Sistema Faesp/Senar, entre julho e setembro de 2025 foram desembolsados R$ 102,1 bilhões, valor 20,9% inferior ao registrado no mesmo período do ciclo anterior. O número de contratos também caiu 13,5%, confirmando a tendência de retração que já se desenhava desde o fim da safra 2024/25.
No período, os desembolsos representaram 25,1% dos R$ 405,9 bilhões programados no Plano Safra 2025/26, ritmo considerado lento para o início do ciclo. Do total, 20,6% (R$ 21 bilhões) foram alocados via Pronaf (agricultura familiar), 24% (R$ 24,5 bilhões) por meio do Pronamp (médios produtores) e 55,4% (R$ 56,5 bilhões) destinados a demais produtores e cooperativas. Todos os segmentos apresentaram retração: -27,2% entre os grandes produtores, -15,3% entre os médios e -6,5% entre os familiares.
Em relação à finalidade dos recursos, 63% (R$ 64,3 bilhões) foram direcionados ao custeio, 17,4% (R$ 17,8 bilhões) ao investimento, 10,8% (R$ 11 bilhões) à industrialização e 8,7% (R$ 8,9 bilhões) à comercialização. Entre essas categorias, apenas a industrialização registrou crescimento, com alta de 24,9% no valor desembolsado e 6,4% no número de contratos. As demais apresentaram retrações expressivas, especialmente o investimento, que encolheu 39,1% em valor, reflexo das dificuldades econômicas e da baixa rentabilidade no campo.
Nos programas de investimento, o cenário foi igualmente negativo. Quase todos registraram queda em volume e número de contratos, com exceção do Funcafé, voltado à cafeicultura. O Renovagro, embora ainda seja o mais demandado pelos grandes produtores, recuou 45,4% em relação ao ano anterior, enquanto o Prodecoop não teve desembolsos registrados até setembro.
A inadimplência também preocupa. Nas operações de mercado para pessoas físicas, o índice atingiu 9,35% em agosto — mais que o dobro do observado um ano antes. Nas operações com taxas reguladas, a inadimplência subiu para 1,86%, enquanto entre pessoas jurídicas os níveis se mantiveram estáveis, em 0,77% (taxa de mercado) e 0,38% (taxa regulada). As taxas de juros seguem elevadas: 15,62% ao ano para pessoas físicas e 14,4% para jurídicas nas operações de mercado.
Com o crédito oficial em retração, instrumentos privados como LCA, CRA e CPR têm ganhado espaço. O estoque de LCA cresceu 22,9%, o de CRA aumentou 17% e o de CPR avançou 31,6% até agosto, evidenciando uma mudança estrutural no modelo de financiamento do agronegócio.
Em São Paulo, quinto estado com maior volume de crédito rural no país, os desembolsos somaram R$ 9,4 bilhões no trimestre, equivalente a 9,2% do total nacional, uma queda de 21,7% em relação ao mesmo período de 2024. O número de contratos caiu 28,5%, para 13,2 mil. O desempenho paulista ficou atrás de Rio Grande do Sul (14,9%), Paraná (14,7%), Minas Gerais (14%) e Mato Grosso (9,7%).
No estado, 61,8% dos recursos foram aplicados em custeio, 15,5% em comercialização, 12,4% em industrialização e 10,3% em investimento. Apenas comercialização (+17,2%) e industrialização (+0,9%) apresentaram avanço, enquanto o custeio caiu 26,5% e o investimento, 43,2%.
De acordo com o relatório, o cenário atual reflete um agro pressionado por juros altos, margens estreitas e menor disposição para investir. A expansão das linhas privadas, em contraste com o encolhimento do crédito oficial, reforça a necessidade de gestão financeira mais estratégica e de atenção redobrada aos riscos. O governo, por sua vez, tem apostado em renegociações de dívidas e medidas para conter a inadimplência, na expectativa de que os financiamentos ganhem fôlego nos próximos meses.

