De resíduo a inovação: estudante e professora de Goiás criam tecido a partir do bagaço da cana-de-açúcar
21-10-2025

Projeto desenvolvido em escola estadual de Luziânia transforma subproduto agroindustrial em material têxtil sustentável

O que antes era considerado resíduo agrícola agora ganha status de inovação científica. No Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Osvaldo da Costa Meireles, em Luziânia, um projeto escolar transformou o bagaço da cana-de-açúcar em tecido têxtil. A iniciativa, que une sustentabilidade, biotecnologia e criatividade, foi desenvolvida pelo estudante Thiago Alves dos Santos sob a orientação da professora de Biologia Gabrielle Rosa Silva e foi selecionada para representar Goiás na II Feira de BioInovação Territórios do Brasil (FBioT Brasil), que acontece entre os dias 27 e 30 de novembro, no Instituto Federal Baiano (campus Uruçuca), na Bahia.

O processo começa com a coleta do bagaço de cana — material descartado por produtores locais de caldo — que passa por etapas de higienização, secagem e trituração antes de chegar à extração da celulose. Essa fase, de cerca de três horas, envolve o uso de água e soda cáustica aquecida a 80ºC, que quebra compostos orgânicos e libera as fibras de celulose. “Após a extração, fazemos a neutralização do pH com vinagre até atingir a neutralidade, descartando o líquido e mantendo apenas a celulose sólida”, explica Gabrielle.

Como a celulose adquire coloração escura após o processo, é necessário submetê-la à clarificação com água oxigenada e posterior secagem. A etapa seguinte é a dissolução da celulose, feita em um béquer de vidro com uma mistura de água, soda cáustica e ureia, que é resfriada a -10 °C até formar uma solução viscosa. “Esse é o ponto em que conseguimos moldar o tecido. O resultado foi surpreendente: apresentamos um material com toque macio semelhante à seda e aparência próxima ao algodão, com boa resistência, absorção e compatibilidade com tingimentos naturais”, detalha a professora.

A ideia de desenvolver o tecido surgiu em uma aula da disciplina eletiva de Biotecnologia, quando o estudante propôs o desafio de criar um material que unisse inovação científica e consciência ambiental. O trabalho foi além das expectativas e se destacou por demonstrar como a ciência aplicada em sala de aula pode gerar soluções reais e sustentáveis.

Para Gabrielle, o projeto simboliza o potencial transformador do ensino público quando a curiosidade e a prática científica caminham juntas. “Queríamos mostrar aos alunos que a ciência está presente no cotidiano e que é possível criar soluções concretas para problemas ambientais com recursos simples e acessíveis. Essa é a essência da bioinovação”, afirma.

Agora, o projeto que nasceu em uma escola estadual do interior de Goiás se prepara para representar o estado em um dos mais importantes eventos de ciência e tecnologia sustentável do país, levando a mensagem de que o futuro da moda e da inovação pode estar nas fibras de um dos principais símbolos da agricultura brasileira: a cana-de-açúcar.