Defasagem no preço dos combustíveis brasileiros chega a 40%, aponta Abicom
09-03-2022

Frentista abastece carro em posto de gasolina no Rio de Janeiro. Reuters
Frentista abastece carro em posto de gasolina no Rio de Janeiro. Reuters

Com alta do petróleo, litro da gasolina deveria estar R$ 7,98 e do diesel R$ 8,14 para manutenção da paridade com o mercado internacional

Elis Barreto Pauline Almeidada CNN

no Rio de Janeiro

No dia em que Estados Unidos e Reino Unido impuseram sanções à importação de petróleo e gás natural da Rússia, o preço do barril do óleo fechou acima dos US$ 129.

De acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem no preço do litro da gasolina no Brasil chegou a 30% e do diesel, a 40%, nesta terça-feira (8).

Isso quer dizer que, seguindo a paridade internacional, o litro da gasolina deveria estar R$ 1,41 mais caro, subindo de uma média de R$ 6,57 para R$ 7,98, tendo em conta o último boletim da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

No caso do diesel, que atualmente custa R$ 5,60 em média, o aumento levaria o valor do litro a R$ 8,14.

Diante desse cenário, o governo brasileiro estuda medidas para conter a alta nos preços dos combustíveis. Segundo o analista da CNN Caio Junqueira, uma reunião no Palácio do Planalto para discutir soluções terminou sem definição nesta terça-feira (8).

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), Eberaldo de Almeida Neto, a volatilidade do petróleo exige medidas especiais do governo brasileiro para conter os impactos aos consumidores. No entanto, ele é contra o congelamento dos preços.

“Não acho que o caminho seja intervenção nos preços. Você pode até trabalhar em pontos específicos para o consumidor mais afetado. Eu vou dar o exemplo do botijão do gás de cozinha ou do caminhoneiro autônomo, isso é totalmente pertinente”, disse.

“Mas o controle de preços vai acarretar o desabastecimento porque o país depende de importações para poder completar a produção doméstica. Fica inviável comprar mais caro, a preço de mercado, e vender mais barato”, declarou à CNN.

Segundo Almeida Neto, o desabastecimento teria como consequência o aumento dos combustíveis e a inflação. Ele  argumenta que o controle de preços poderia prejudicar a atração de investimentos para o Brasil, com efeitos no câmbio e o aumento do dólar, moeda padrão para os negócios de petróleo.

“Se você atrai menos investimentos, você não tem a possibilidade de valorizar a sua moeda”, afirmou.

O pesquisador Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE), aponta que muitos países possuem políticas de suavização dos preços de combustíveis, mas, segundo ele, isso não acontece no Brasil.

“O fato é que a defasagem de preço ou o subsídio é a mesma coisa. A defasagem é a Petrobras pagar para a população a diferença do preço com o mercado internacional, e subsídio é a população toda pagar para quem consome”, explicou.

“O correto seria uma política de suavização no sentido correto, quando o preço está em alta, o governo subsidia, e quando está em baixa, ele taxa mais”, defendeu.

Impactos das sanções à Rússia

O presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Eberaldo de Almeida Neto, explica que, atualmente, o Brasil precisa adquirir combustíveis para dar conta da demanda nacional.

No caso da gasolina, a importação gira em torno de 15%, índice que sobe para 25% em relação ao diesel.

Em relação à decisão do presidente norte-americano Joe Biden, Almeida Neto ressalta que os Estados Unidos compram 2% do petróleo russo.

Ele aponta que o veto ao produto pode gerar uma reação em cadeia se outros países acompanharem o embargo, já que 60% do óleo da Rússia vai para a Europa e outros 35% para a Ásia.

“Alguns institutos econômicos fazem uma análise que a cada milhão de barril não colocados no mercado, o preço sobe de US$ 14 a U$ 20”, declarou.

Para Daniel Duque, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, o choque entre oferta e demanda do petróleo fará o preço do barril ter uma alta muito elevada, pois a Rússia detém 10% das exportações do mundo e os Estados Unidos são o maior importador.

“Os Estados Unidos vão ter que comprar de outros países, sendo que vai ser uma oferta 10% menor do que se tinha antes. O preço do brent já estava subindo mesmo antes da guerra. O que vamos ver vai ser uma elevação talvez até próxima da máxima histórica. Em junho de 2008, o preço do barril chegou a US$ 160 na média mensal”, afirma o especialista.

À CNN, o professor do Ibmec Marcio Sette afirma que, além dos combustíveis, outros produtos derivados do óleo serão impactados.

“O petróleo está na base como matéria-prima para fazer uma série de outros produtos, como, por exemplo, a borracha. Com isso, outros setores muito distintos, como a construção civil, são afetados”, declarou.

“Então, temos mais um fator determinante para uma inflação global. O que acontece é que a gente já tem uma inflação da commodities agrícolas, metálicas e, além dessas, temos mais uma linha de inflação para as commodities energéticas, petróleo, gás”, destacou.

Daniel Duque completa ainda que o aumento no preço da gasolina irá causar um crescimento na demanda por etanol no Brasil.

O combustível, extraído da cana-de-açúcar e do milho, vem de uma tendência de queda nas últimas seis semanas.