Demanda por etanol e juros altos podem impulsionar biotecnologia em leveduras
27-01-2025

LDBS oferece soluções que são capazes de produzir mais etanol a partir de uma mesma quantidade de cana-de-açúcar — Foto: Wenderson Araújo/CNA
LDBS oferece soluções que são capazes de produzir mais etanol a partir de uma mesma quantidade de cana-de-açúcar — Foto: Wenderson Araújo/CNA

Empresa canadense vê oportunidade no mercado brasileiro de biocombustíveis

Por Camila Souza Ramos — São Paulo

O aumento da demanda por etanol, seja para atender misturas mais altas na gasolina, para apoiar a produção global de bioquerosene de aviação ou para abastecer o aumento da frota, deve exigir uma produção crescente, em um momento em que a alta dos juros dificulta grandes investimentos em capacidade industrial. Se o cenário parece desafiador para os produtores, a companhia canadense de biotecnologia Lallemand enxerga nele uma oportunidade.

Primeira empresa a desenvolver leveduras com biotecnologia para diversos usos industriais, inclusive para a indústria de biocombustíveis, a empresa espera no Brasil uma demanda crescente pelas suas soluções, que são capazes de produzir mais etanol a partir de uma mesma quantidade de cana-de-açúcar em comparação com leveduras convencionais.

A companhia não divulga dados financeiros globais nem regionais, mas indica que, para este ano, espera um aumento de 20% em sua receita com vendas de leveduras biotecnológicas para o setor no Brasil – uma projeção conservadora, afirma Fernanda Firmino, gerente de negócios da Lallemand Biofuels & Distilled Spirits (LDBS) no Brasil, unidade da multinacional voltada ao setor de biocombustíveis.

O país é o segundo maior mercado da LDBS, atrás apenas dos Estados Unidos, maior produtor mundial de etanol. Porém, o mercado brasileiro é o que mais cresce, ressalta Justin von Royen, vice-presidente sênior da divisão de LDBS.

Biotecnologias

A companhia produz tanto leveduras transgênicas (com genes de outras espécies, como bactérias) quanto cisgênicas (com genes de outras leveduras). Em ambos os casos, as leveduras desenvolvidas permitem a geração de menos subproduto no processamento da matéria-prima, e as moléculas de carbono acabam sendo convertidas em mais etanol. A levedura transgênica ainda expressa enzimas que permitem a transformação de carboidrato em glicose.

Segundo a gerente de negócios, o uso das leveduras da LDBS pode aumentar o rendimento da produção de etanol em 2% (no caso das cisgênicas) e de 3% a 6% (no caso das transgênicas).

No ano passado, a Lallemand adquiriu a unidade de enzimas da Basf para produção de etanol. Com o negócio já integrado à companhia, o plano agora é oferecer um “portfólio completo” de soluções para fermentação.

Fernanda Firmino, Gerente de negócios da LBDS no Brasil

Foto: Divulgação

Etanol de milho

Para o próximo ano, a LDBS prepara o lançamento de sua terceira geração de leveduras biotecnológicas para a produção de etanol a partir da cana. Mas o principal mercado da companhia no Brasil ainda são as usinas de etanol de milho, que dependem mais da biotecnologia em seu processo.

"Não tem possiblidade de crescimento com eficiência [na produção de etanol de milho] sem biotecnologia. A biotecnologia permite aproveitar o substrato por completo", ressalta a gerente de negócios. Na produção do etanol de milho, o cereal representa 85% do custo, e o nível de seu aproveitamento impacta no resultado.

Ela acredita que a proximidade do setor de milho com a biotecnologia por meio das sementes geneticamente modificadas já trazia, a essas indústrias, mais familiaridade com o assunto. “Eles nem consideram usar levedura convencional.”

Segundo Firmino, o uso das leveduras com biotecnologia ainda é baixo entre as usinas de cana – e, portanto, onde mais há potencial de crescimento. Na safra 2023/24, a LDBS estima que 19% da produção de etanol tenha sido feita com leveduras biotecnológicas.

Como as indústrias de etanol de milho vêm crescendo em ritmo acelerado no país, a gerente estima que o setor ainda deve ser o maior cliente da LDBS ainda por alguns anos. “Podemos nos deparar com um cenário promissor nos próximos anos”, afirmou.

Baixo carbono

A aposta da LDBS é que as leveduras consigam aumentar o rendimento sem que as usinas aumentem seus investimentos em renovação e expansão de capacidade. “E sem ter acréscimo de pegada de carbono”, ressalta.

A reutilização de resíduos já existentes no processo fabril para produzir mais etanol é o que torna a produção de etanol feita com leveduras biotecnológicas menos intensiva em emissões de gases de efeito estufa. “O produtor não está replantando mais ou usando mais terra para entregar mais volume de etanol.”

Essa característica atrair usinas interessadas em ampliar a produção tanto para atender a demanda crescente pelo etanol para uso em veículos leves como a demanda por etanol como matéria-prima para o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês).

Fonte: Globo Rural