Diretor da Usina Batatais aponta potencial de aumento na demanda global de etanol impulsionado pelo SAF, mas alerta para desafios de custo
31-07-2025

Luiz Gustavo Diniz Junqueira vê oportunidade histórica para o setor, mas defende viabilidade econômica e políticas consistentes para o Brasil assumir protagonismo na aviação sustentável
Por Andréia Vital
A demanda mundial por etanol pode crescer até nove vezes com a expansão do uso do SAF e para aproveitar essa oportunidade com eficiência e competitividade, o setor bioenergético precisa se preparar. Essa é a visão de Luiz Gustavo Diniz Junqueira, diretor comercial e financeiro da Usina Batatais, que participou da mesa redonda “Segurança Energética e Inovação: o papel do Brasil no Mercado Global de Etanol”, na Reunião Anual da Fermentec, nesta quarta-feira (30).
“Se considerarmos que o mundo consome cerca de 400 bilhões de litros de querosene de aviação, apenas 10% substituídos por SAF representariam 40 bilhões de litros. Convertendo isso para etanol, estamos falando de um mercado potencial de 80 bilhões de litros. Uma pequena fatia já seria um avanço significativo para o Brasil nos próximos dez anos”, afirmou.
Apesar do potencial, Junqueira alertou para o risco de inviabilidade econômica se os custos não forem controlados. “Hoje, o SAF nos Estados Unidos custa mais que o dobro do querosene convencional. Enquanto o querosene gira em torno de US$ 1,60 por litro, o SAF ultrapassa US$ 3. Se essa diferença persistir, mesmo com mandatos e leis obrigando a mistura, o mercado de aviação pode buscar substitutos. Nossa lição de casa é tornar o etanol competitivo para que isso não aconteça”.
O executivo citou o histórico do etanol de segunda geração como exemplo: “Há 15 anos ouvimos que seria a virada do setor, mas nunca engrenou de fato. O principal motivo é o custo. O SAF não pode seguir o mesmo caminho. Precisamos investir em toda a cadeia para sermos protagonistas”.
Junqueira destacou que tanto o setor de cana-de-açúcar quanto o de milho terão papel importante. “O milho hoje tem um custo mais baixo e pode sair na frente. Mas, para o Brasil aproveitar essa oportunidade, é necessário mais que tecnologia. Precisamos de políticas públicas, regulamentação adequada, financiamento acessível e uma reforma tributária que elimine distorções entre estados e dê previsibilidade ao setor”.
Segundo o diretor, grandes players podem liderar o movimento inicial: “Boa parte das usinas familiares não tem perfil de investimento em plantas de SAF. Esse protagonismo deve vir de multinacionais de energia e fundos diversificados. Precisamos ver, nos próximos cinco anos, ao menos três ou quatro plantas operando no Brasil para começarmos a atender o mercado global”.
Além de tecnologia e política pública, Junqueira defendeu que o setor invista mais em comunicação. “Imagina o efeito de investir 20 centavos por tonelada de cana em campanhas de esclarecimento. O etanol tem uma história forte, mas ainda comunica pouco seu potencial. Isso é estratégico para ganhar espaço no mercado interno e externo”.
Ele também citou a reforma tributária como oportunidade para tornar o setor mais competitivo: “Se conseguirmos corrigir distorções e chegar a 50% ou 55% de participação de forma estruturada, destravamos um novo ciclo de crescimento”.
Para Junqueira, o Brasil tem todas as condições de ser referência mundial em SAF à base de etanol, mas precisa agir rápido. “O potencial está aí, a demanda vai existir. O que vai definir o nosso protagonismo é a capacidade de entregar volume a um custo competitivo. O SAF pode ser o motor de uma nova era para o setor sucroenergético brasileiro, mas só se soubermos alinhar tecnologia, política e mercado”, concluiu.
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